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Ídolos

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Até ontem eu nunca ouvira falar de Cristiano Araújo. Acredito que muita gente também não. Foi preciso que o rapaz viesse a falecer num lamentável acidente de carro para que tomássemos conhecimento de sua existência.

Mais que isso o desaparecimento de Cristiano causou espanto. Soubemos que ele era cantor sertanejo. Soubemos, também, que fazia sucesso e tinha alguns hits em evidência.

Pois Cristiano fazia shows país afora. Tinha agenda a cumprir. Apresentava-se com regularidade em programas televisivos que atraem a atenção do grande público. Daí ter sua morte provocado comoção generalizada. Lamentou-se o desparecimento do rapaz em toda parte.

Impressionou o destaque dado pela mídia à morte de Cristiano. De repente alguém de quem não se falava surgiu nacionalmente, ocupando grande espaço nos noticiários. Chorou-se a perda de grande cantor.

Ao velório de Cristiano Araújo, em Goiás, compareceram mais de 10 mil pessoas. Em Caruaru onde o cantor se apresentaria nos próximos dias houve grande consternação. E gente famosa veio a público para lamentar a perda do cantor.

Cristiano Araújo despareceu junto com a namorada no acidente de carro quando voltava de um show em cidade do interior de Goiás. Estavam , os dois, no banco traseiro do veículo e supõe-se que não usavam cintos de segurança. Com o capotamento foram atirados para fora do carro e não sobreviveram.

Não sei se é correto dizer que Cristiano Araújo teve mais visibilidade pública na morte que em vida. Parece-me que sim. Na atual carência de ídolos que nos assola teve ele a oportunidade de ocupar, ainda que por breves momentos, o nicho reservado às grandes expressões públicas. Talvez por isso tanto realce deram ao seu desaparecimento.

Em entrevista recente o escritor Zuenir Ventura falou sobre notícia que correu dando conta de sua morte. Não chegou a confessar, mas achou pequena a repercussão de seu desaparecimento depois não confirmado. E dizer que tratava-se de pessoa tão conhecida, escritor e jornalista.

Creio que Cristiano Araújo, caso fosse a ele possível, estranharia a dimensão da repercussão de sua morte.

No mundo da música

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Sempre tive o relógio atrasado em termos de gosto musical. Quero dizer que muitas vezes passei a gostar - e entender - determinado gênero quando ele já saíra de moda. Isso sem falar em apresentações às quais compareci e que passaram em branco para só mais tarde vir a ter consciência da grandeza daquilo a que assistira. Daria tudo, por exemplo, para que outra vez pudesse estar na plateia do Teatro Municipal de São Paulo, assistindo a uma apresentação do saxofonista Stan Getz. Confesso que só muito tempo depois daquela noite me dei conta do raro momento musical que presenciara, ou seja, cheguei aos solos de Getz mais tarde. Também confesso que acompanhei à ascensão dos Beatles sem me dar conta da importância do conjunto. Um parente adorava o grupo inglês e tocava seus discos o tempo todo. Eu ouvia com algum distanciamento. Só anos depois me aproximei das músicas dos Beatles e observei a beleza de algumas das composições de Lennon e MacCartney.

Não sou afeito à música sertaneja e não sei dizer se nisso também estou atrasado. Quem sabe dentro de algum tempo eu passe a gostar dela. Na minha infância morei num lugarejo. Do outro lado da rua defronte a minha casa, havia o bar de um japonês no qual, aos domingos, compareciam violeiros que passavam horas cantando. A “moda de viola” era a música padrão do local e todo mundo gostava dela. Talvez porque eu fosse submetido a horas daquela música - não havia como não ouvir, exceto saindo de casa - cansei-me dela. Não sei dizer se isso é correto, mas creio que a “moda de viola” faça parte das raízes da atual música sertaneja.

Nos anos 1980 trabalhei num jornal de grande emissora de rádio em São Paulo. Entrávamos no ar nas manhãs e me cabia comentar assuntos ligados à área de saúde.  Não sei se ainda é assim, mas os estúdios de rádio eram um primor de organização montado dentro de espaços restritos. Um contrarregra que só não fazia chover, um locutor e repórteres espalhados pela cidade geravam uma atmosfera informativa de enorme alcance. O interessante é que, com frequência, artistas renomados visitavam os estúdios das rádios, obviamente visando uma política de boa vizinhança para que suas músicas fossem lembradas e incluídas na programação.

Foi numa dessas visitas que conheci o cantor Wando, falecido há pouco tempo. Era ele um dos grandes do gênero brega romântico, adorado, famoso por jogar calcinhas para as fãs durante os seus shows. Sujeito envolvente o Wando, habituado à celebridade, fazendo da fama o uso conveniente sem apelar para o estrelismo. Na ocasião, abraçou uma a uma das pessoas que trabalhavam no estúdio e nunca me esquecerei do modo educado como se dirigiu a mim.

Hoje se noticia a morte de Reginaldo Rossi um dos grandes do gênero brega. Pertencia ele à velha-guarda de cantores da música romântica popular e sempre assumiu ser mesmo “brega”, embora as conotações negativas muitas vezes emprestadas ao termo.  Reginaldo era conhecido como “Rei do Brega” e sua  morte comove sua grande legião de fãs.