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Naquela noite

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Pertenciam ao tempo em que se viajava na boleia de caminhões. Não porque precisassem. Eram filhos bem-nascidos e tinham algum dinheiro.  Mas, o convite para uma festa reunia-os em qualquer meio de locomoção.

Chegaram ao anoitecer. O caminhão estacionou na rua de terra, defronte casa de comércio. Um deles pulou da carroceria para obter informações sobre Santana. Onde ficava Santana? No Sul de Minas, uns 30 km à frente na estrada de terra. Ali no Rio Preto que se cuidassem para não seguir direto na estrada que ia dar em São José. No trevo, virar à esquerda e seguir adiante, logo encontrariam Santana.

Bebiam cerveja, cantavam felizes. Iriam à festa. Meu pai sentenciou que era perigoso aquela moçada bebendo em cima do caminhão. Recomendou cuidado à rapaziada. Um deles deu de ombros e sorriu naquele “Deus tá comigo”.

Não sei dizer que horas da madrugada seriam quando ouvimos bater à porta de nossa casa. Meu pai levantou-se e deu com um dos rapazes. Acontecera um desastre. Um deles bebera muito e, na volta, caira do caminhão. Batera a cabeça numa pedra, perdera a consciência e estava mal.

Foi meu pai quem disse aos rapazes que, em verdade, o companheiro de festa estava morto. Seguiram-se os momentos de incredulidade, a busca de um telefone para avisar à família, o desespero dos amigos.

Minha curiosidade de menino me levou à carroceria do caminhão. Encontrei um jovem ensanguentado. Estava deitado e tinha no rosto aspecto sereno. A morte o colhera de improviso, inesperadamente.

Foi o primeiro cadáver que vi. Numa me esquecerei daquela noite. Nem da morte que entrava subitamente na minha vida para nunca mais desaparecer.

Escrito por Ayrton Marcondes

22 janeiro, 2018 às 10:52 am

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