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Chega o carnaval

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Muita gente não gosta da folia. Essa turma aproveita os dias de folga para descanso, de preferência onde não se ouça nem ao menos um naco de marchinha. Cada um é feliz a seu modo.

Não adianta: foilão nasce. O samba já vem entranhado na criança que um dia se perderá num cordão. A gente nasce Pierrot, a gente nasce Colombina. Tudo bem marcado já na hora do parto. Não acreditei, mas ouvi de uma parteira que disse ter visto uma menina nascer sambando. Verdade que em matéria de samba e carnaval tudo é possível.

Dizem por aí que o velho carnaval já não existe. O desgaste da festa teria começado com a proibição da lança-perfume. Nada mais de rodar pelo salão, ébrio depois de uma bela cheirada. Nada mais de arranjar coragem para chegar naquela morena fabulosa, empurrado pela boa lança, claro. Nem tinha importância uma esnobada ou até - virge! - um tapa na cara. Valia de tudo no cordão.

Arrebentaram com o carnaval de salão. Desde os bailes nos clubes elegantes nos quais as moças de família dançavam sob a vigilância dos olhos maternos. Ah, quantos beijinhos roubados em meio à multidão… Sobrevivem os blocos, mas como são enormes esses blocos. Tanta gente. Só a alegria continua genuína porque folião de raça não desaparece nunca. Ele se destaca. É aquele cara da música do Ari que volta pra casa na quarta-feira acabado, ainda cantando a Jardineira.

Os desfiles das grandes escolas acontecem com pompa, beleza e não muita espontaneidade. São cinematográficos, belíssimos, carnaval tipo exportação. Verdade que não há como não se arrepiar quando a bateria da Mangueira chega na Apoteose, rufando seus tambores. São legiões de centuriões romanos, marchando com tanto garbo que fariam inveja aos poderosos césares.

No momento o carnaval está sob sério ataque. Acusam as marchinhas de terem letras preconceituosas. Nem pensar em cantar sobre a moça do cabelo duro perguntando “qual é o pente que te penteia?”. Mas, se as marchinhas eram e continuam a ser a alma do povo?

Cuidado: nem mesmo o carnaval é de ferro. Numa dessas o Rei Momo não se aguenta e balalau. Então, adeus carnaval.