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A maldade

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Andando por aí, vida afora, vai-se conhecendo muita gente. A maioria catalogada na categoria dos “normais”. Não me lembro quem afirmou que, de perto, ninguém é normal. De fato, há excentricidades. Nunca me esqueço do tal sujeito, bom pai e chefe de família que só tinha um porém: depois que a família adormecia, ele se levantava, ia até a cozinha e desligava a geladeira. Ano após ano a mulher esperava que o marido voltasse à cama e adormecesse para, então, religar a geladeira.

O maníaco da geladeira não era um sujeito mau. Entretanto, não é incomum o encontro de gente capaz de pequenas maldades. Conheci um rapaz que armava ciladas para aranhas. Após prender o bicho em lugar de onde não sairia, submetia-o ao derretimento de cera. A montagem se dava ao sol cujo calor derretia a cera, vagarosamente. Assim a cera caia sobre a aranha devagar, imobilizando-a aos poucos. O autor desse ato permanecia a observar o andamento do processo até a aranha ser totalmente imobilizada.

Outro gostava muito de ver como os mosquitos sofriam após pousarem sobre um papel matamosquitos do qual não podiam se libertar. Era de se ver o entusiasmo do tal ao assistir agonia dos insetos. De outro, ainda, tive notícia de maldades bem maiores. Em meus tempos de ginásio tive um colega de classe que considerávamos muito boa gente. Dele me disseram, depois, que costumava fazer a vivissecção de pequenos animais enquanto ainda vivos.

Assim como a bondade, a maldade existe no homem. Em alguns refina-se em alto grau de frieza a ponto de não nutrirem respeito pela própria vida humana. Sejam quais forem as razões, entregam-se à prática de atrocidades revoltantes.

Os dois rapazes que invadiram e mataram pessoas na escola de Suzano enquadram-se no mais alto grau de maldade e perversidade. As cenas da invasão, infelizmente divulgadas, não nos saem da cabeça. A frieza com que um jovem de 17 anos saca de uma arma e começa a atirar sobre pessoas inocentes é revoltante e nos faz estremecer quanto aos limites a que podem chegar determinados seres que se pretendem humanos.

Escrito por Ayrton Marcondes

15 março, 2019 às 12:29 pm

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O inferno é aqui mesmo

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O medo do inferno fazia parte dos meus horrores ao tempo de menino. Na igreja o padre alertava-nos sobre os perigos do pecado. Morrer em pecado significava a condenação para arder nas chamas do inferno por toda a eternidade. Devassidão, bebida e a prática do mal estavam entre os grandes pecados que poderíamos cometer. Para evitá-los muita fé, oração e determinação.

Por detrás disso tudo a enigmática figura do diabo. O decaído que se revoltara contra o Criador e fora desterrado para o inferno nada mais fazia que maquinar toda sorte de tentações contra as quais os pobres mortais pouco podiam fazer. Como resistir às tentações da carne durante a explosão hormonal imposta pela adolescência? Como tornar-se infenso às tentações do mundo?

Escapar a tudo isso figurava-se tarefa impossível. Nesse estranho jogo as melhores cartas estariam mesmo nas mãos do Capeta. Mas, havia uma curiosa solução. Muitas vezes ouvi que o problema maior seria morrer em pecado. Arrependimentos sinceros pouco antes da morte significariam a possibilidade de perdão e abririam o caminho para o céu. Essa hipótese, simplista é verdade, servia-nos como socorro, última chance antes de ser fuzilado no paredão. Era assim.

Não sei dizer como andam hoje em dia as recomendações religiosas em relação ao pecado. Entretanto, é crescente o número de adeptos a outras crenças que não a católica romana. Além do que muita gente tem vindo a público para dizer-se ateu.

Não é o caso de aqui se discutir a eterna questão da existência de vida após a morte. Exista ou não, há quem afirme que “o inferno é aqui mesmo”. Ou seja: “aqui se faz, aqui se paga”. Será?

Se observarmos o mundo atual fica difícil acreditar nisso. Não há como não reconhecer a maldade intrínseca ao ser humano. Diariamente recebemos notícias de ações ultrajantes com profundo desrespeito à vida. Um bando que invade uma casa e barbariza a família que nela reside, tantas vezes foge impune. Pagarão? Às vezes alguns com a própria vida durante a prática de outros crimes, alvejados pela polícia.

Mas, há o caso de gente que, vida afora, serve-se da arrogância, da perseguição, do embuste, enfim de maldades que afetam duramente a vida daqueles que com eles convivem. Superiores que tornam um inferno a vida de seus comandados. Então pergunta-se: para esses existe algum tipo de pagamento aqui mesmo, antes da morte?

Ficaríamos nisso durante muito tempo sem obter consenso ou definição. Mas, não deixa de ser estranho quando conhecemos alguém que não se esmerou em ser razoável, sociável e bom sujeito ao longo de sua vida. De repente, tudo vira, inexplicavelmente, para esse tipo de pessoa. Saúde abalada, sofrimento, problema familiares e por aí vai. Será que, pelo menos para esses, o inferno é aqui mesmo?

Minha tia sentenciava: “o inferno é aqui mesmo”. Pelas dificuldades por que passou deve ter morrido convencida disso.

E o Jacaré?

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Dias atrás reencontrei um amigo a quem não via desde os tempos do ginásio. Cinqüenta anos passados veio ele com sua aparência de papagaio. Na hora me lembrei dele, na verdade do apelido antes do nome. Chamávamos a ele de Papagaio com o que, ao que eu me lembre, ele não se incomodava. Mas, não tive jeito de chamá-lo pelo apelido, sabe-se lá como ele reagiria.

Na minha infância conheci um dono de cartório a quem todo mundo chamava de Jacaré. Aliás,não só a ele como ao seu estabecimento de negócios. Ia-se ao Jacaré para escrituras, certidões e toda a papelada de cartórios. Para mim ele sempre foi o “seo” Jacaré. Esse Jacaré foi vítima de um derrame que o impediu de continuar com o cartório. Recuperado e voltando a trabalhar ele se deu conta de que perdera “apenas” a capacidade de lidar com números. Todo o restante fora preservado em seu cérebro, mas os números…

Vi nos jornais que encontrarm no Brasil o fóssil de um jacaré que viveu aqui a milhões de anos. Era muito feio o tal jacaré, com uma mandíbula longa e fina na ponta. Deve ter sido um predador feroz e seu aspecto meteria medo caso ainda se encontrasse em nosso mundo. Talvez para amenizar o horror provocado pelo seu ancestral hoje se publicou a foto de um simpático jacaré albino que vive no aquário de São Paulo. Não se explicou do que sofre o albino, mas na foto ele está, graciosamente, sendo submetido a uma sessão de acupuntura.

Ao tempo da minha infância nunca me dei conta do porque chamavam de Jacaré ao dono de cartório. Pois tinha ele todo o jeitão desse jacaré albino que vi no jornal. Pelo que se conclui que a maldade humana é infinita e não se perdoa nem mesmo às pessoas que, por sorte ou azar, se assemelhem a animais.