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Depressão pós-parto?

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Em andamento o caso do bebê deixado numa caçamba de lixo. As imagens gravadas em vídeo têm sido repetidas nos jornais televisivos. O fato, em si inaceitável, desperta reações diversas porque ofende até mesmo ao instinto natural de proteção da prole do qual não se descuidam nem mesmo os animais. Isso para ficar no mínimo porque o tresloucado ato da mãe que abandonou o filho na lixeira envolve complexas situações de natureza social as quais vão se revelando com o passar dos dias.

Que fique bem claro que o ato em si é inaceitável ainda que movido pelo desespero ou qualquer outra razão. Entretanto, há que ser observado o tecido social que sustenta e possibilita o acontecimento de coisa tão hedionda. De fato, atrás das imagens de colocação da criança na caçamba de lixo e seu posterior salvamento existe uma história de situação social inadmissível na qual uma mulher que recebe salário de R$ 600,00 por mês tem a seu cargo seis filhos menores de idade e confessa ter praticado o ato por desespero, por não ter como cuidar da criança.  Mais uma vez, para ficar no mínimo, não dá para não se deixar de pensar em programas que estimulem a limitação de filhos e mesmo nos desequilíbrios sociais decorrentes da má distribuição da renda, omissões do Estado, crescimento desordenado da população e ausência de condições mínimas de saúde entendida como um conjunto de fatores capazes de proporcionar o bem-estar das populações.

Agora a mãe está presa, acuada como animal ferido e o advogado dela fala em depressão pós-parto. Talvez, juridicamente, seja uma boa linha de defesa porque na vigência de estados de depressão pós-parto coisas terríveis podem acontecer. Mas, o que tira o sono da gente é assistir às imagens do bebê sendo abandonado numa caçamba de lixo e o modo como a mãe se esgueira, irracionalmente, após deixá-lo ali. Não é tão simples. Não basta afirmar que a mãe é criminosa e aplicar a ela uma punição exemplar. Há nesse triste e medonho episódio muito mais que isso, algo ligado à responsabilidade coletiva, algo que arranha a nossa confortável posição de simples expectadores de vidas que transcorrem em condições subumanas, bem perto de nós e do bem-estar das nossas famílias.