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No mundo do futebol

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Não se sabe até quando choraremos a derrota no Brasil na final da Copa de 1950. Ao longo dos anos notícias, livros, entrevistas e muito mais foram utilizados na tentativa de explicar o inexplicável: como pode o Brasil perder para o Uruguai, em pleno Maracanã, diante da empolgada presença de 200 mil torcedores prontos para comemorar o título de Campeão do Mundo?

Muita gente a quem conheci viajou ao Rio para assistir á final de 50. Anos depois ouvi o relato de um tio que esteve no Maracanã naquele fatídico 2 X 1 do Uruguai sobre o Brasil. Nomes de jogadores uruguaios como Maspoli, Obdúlio Varela, Gighia e Sachiafino eram pronunciados como o de carrascos da alegria nacional. O técnico do Brasil, Flávio Costa e jogadores como Barbosa e Bigode eram apontados como culpados pela derrota. Até hoje se fala sobre a onda de otimismo, a mudança do local de concentração dos jogadores, a invasão dos políticos tirando o sossego dos jogadores concentrados e até da camiseta branca utilizada pela seleção no jogo contra os uruguaios.

De todo modo a derrota de 1950 passou à história como um dos mais terríveis momentos da história do país. Passados 63 anos o fato perdura nas memórias, mantendo-se ativo nas gerações que se sucedem.

O futebol é sempre uma caixa de surpresas. A paixão nasce justamente da imprevisibilidade dos resultados, porque, uma vez as equipes em campo, tudo pode acontecer. As derrotas, as grandes derrotas, exigem que se elejam culpados por elas. Em 1950, como vimos, foram os técnicos e jogadores. Mas, de lá para cá o futebol se tornou um esporte em torno do qual giram montanhas de dinheiro. Jogadores de elite percebem salários muito altos daí se esperar deles participações cada vez mais destacadas nos jogos de que participam. Altos salários acompanhados de bens materiais que chamam a atenção, tais como carros de grife, fazem parte do mundo dos jogadores afamados cujos passes valem muito e são disputados por várias equipes. Claro que, subjacente a esse mundo dourado, existe uma vasta, vastíssima, gama de jogadores de menor destaque que mal ganham o suficiente para o próprio sustento.

Bem, todo mundo sabe disso. O que se sabe, mas não se compreende, é como podem jogadores de alto nível e muito bem assalariados não se dedicarem com afinco ao esporte que lhes paga tanto. O fato é que assistir a jogos do Campeonato Brasileiro do qual participam times de elite tem se tornado verdadeiro sofrimento. Há uma distância bem definida entre o que se espera do rendimento de jogadores e aquilo que eles praticam em campo.

Curiosa a situação da imprensa esportiva que labora para chamar a atenção dos torcedores, mas mostra-se tão crítica em relação ao desempenho dos jogadores, técnicos e diretorias de clubes. Pode-se dizer que a imprensa esportiva se sustenta da paixão dos torcedores, levando a eles detalhes por vezes insignificantes relacionados ao cotidiano de treinamentos e jogos.

Um grande radialista do passado, locutor esportivo de grande aceitação, certa vez explicou sua aposentadoria algo precoce, dizendo que se cansara de criar emoções em jogos nos quais quase nada de bom havia para ser narrado. Isso ele disse numa época em que os jogadores suavam muito a camisa e não recebiam, nem de longe, os vencimentos que hoje se pagam aos jogadores. Fosse ele vivo agora e narrasse jogos de futebol, creio que enlouqueceria.

Locutores Esportivos

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Quando as transmissões de jogos de futebol pela TV apenas engatinhavam o jeito era acompanhar pelo rádio. As Copas de 58 e 62, por exemplo, foram ouvidas pelo rádio. O mesmo com as Copas de 50 e 54 as quais não ouvi por ainda estar no limbo da idade. Mas meu irmão e tios sempre se referiam às atuações do fantástico Bauer no “escrete nacional”. Não tenho certeza, mas tenho a impressão de que ninguém mais usa a expressão “escrete nacional” para se referir à seleção brasileira de futebol.

Bem, cada um tinha a sua rádio favorita e, obviamente, os locutores e comentaristas de sua preferência. Em menino cheguei a ouvir a poucas transmissões do grande compositor Ari Barroso que, entre outras façanhas, dava-se ao luxo de ser locutor esportivo. Em geral os torcedores paulistas não gostavam das irradiações de locutores esportivos cariocas que tinham estilo bem diferente da moçada da Paulicéia. Por aqui os favoritos eram Pedro Luís, Edson leite, Fiori Giglioti, isso para ficar nos nomes de uns poucos. Comentaristas eram o Mário de Moraes, o Mauro Pinheiro isso para também ficar em nomes que a memória me trás de imediato. As locuções pela TV ficavam por conta do Walter Abraão que tinha jeito muito próprio de narrar pela TV Tupi.

Hoje em dia estão nas rádios vários locutores, alguns muito bons. Competem com eles as transmissões de jogos pela TV que roubam a atenção de torcedores que ouviriam os jogos pelo rádio. Quanto a mim ainda prefiro o rádio, por incrível que pareça. Na verdade assisto parte dos jogos pela TV e mudo para o rádio quando as coisas não estão favoráveis ao time de meu interesse. Conheço muita gente que desliga o som da TV e ouve o jogo pelo rádio, acompanhando as imagens da TV. Acontece entre os locutores da TV com frequência falarem sobre muita coisa, deixando o jogo de lado. Isso enerva a os torcedores mais fanáticos a quem interessa exclusivamente oque se passa em campo.

Dos grandes locutores do rádio para mim o melhor sempre foi o Pedro Luís. Ele conseguia transferir para o dial do rádio as linhas do campo de futebol, situando o torcedor, com exatidão, nos lugares onde se desenvolviam os lances. Tinha um jeito especial de narrar os lances, situando o jogador que estava com a bola, quem estava perto dele e as possibilidades de andamento da jogada. Era perfeito. Ainda hoje, muita gente se mostra influenciada pelo jeito dele narrar.

Escrevo sobre isso porque hoje faleceu o Luís Noriega que narrava jogos pela TV Cultura. Tinha ele um modo diferente de narrar: mais equilibrado, contido, primando pela imparcialidade que a TV Cultura exigia como norma em suas transmissões de jogos. Era, porém, muito agradável assistir a jogos pela TV Cultura, justamente pelas narrações do Noriega.

Quando surgiu a TV especulava-se sobre o destino do rádio. Gente aficionada - como eu - jamais temeu pela sorte do rádio. O fato é que o rádio continua firme e forte, conquistando cada vez mais simpatizantes. Aliás, tão firme e forte quanto essa gente toda que narra esportes, mantendo aceso o fogo e a fé das grandes torcidas.