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A face oculta das nádegas

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Deu no “Le Monde” de 09/12: está sendo lançado na França o livro “La Face Cacheé des Fesses” (A Face Oculta das Nádegas)”, de autoria da documentarista Caroline Pochon e do jornalista Allan Rothschild. O lançamento é precedido  de um documentário com o mesmo título do livro, exibido no canal Arte de televisão.

Livro e documentário resultaram de uma investigação que durou 18 meses, realizada pelos autores. O “Le Monde” informa que “os autores propõem uma viagem mutidisciplinar pelas diferentes representações do traseiro na história da humanidade, emprestando conceitos de história da arte, psicanálise, sociologia e semiótica”.

Lembra ainda o jornal a afirmação do filósofo Jean Paul Sartre: “A pátria, a honra, a liberdade, nada existe: o universo gira em torno de um par de nádegas”.

Se você digitar no Google algo como “brasileiros e a bunda” receberá boa quantidade de referências sobre o assunto com demonstrações claras de que se trata de uma preferência nacional. Uma dessas referências o levará a um ensaio chamado “Bunda – Paixão Nacional” do sociólogo Gilberto Freyre, o autor do grande livro que é “Casagrande e Senzala”.

No ensaio Freyre rastreia as origens do gosto nacional pelos traseiros. Partindo do século XVI destaca o autor a preferência das índias nativas do Brasil pelos portugueses dado eles revelarem maior potência sexual. Entretanto, afirma Freyre, as índias não se faziam notar tanto como as mulheres de origem afronegra, essas pelas suas protuberâncias realmente notáveis e bundas salientemente grandes. Destaca ainda Freyre que em muitos casos mulheres de origem ibérica, principalmente as portuguesas da época, rivalizavam com as de origem afronegra. E por aí vai o ensaio de Gilberto Freyre cuja leitura recomenda-se aos interessados.

De que os traseiros femininos constituem-se numa das principais referências nacionais, não restam dúvidas. De fato é impressionante a utilização da imagem da mulher, preferencialmente as tais popozudas, em campanhas publicitárias. Belas mulheres tornam-se colírio para os olhos da massa masculina ensandecida e servem muito bem ao comércio dos produtos associados às suas imagens.

Torna-se quase desnecessário salientar as múltiplas utilizações do símbolo feminino transformado em preferência nacional. Só para constar, basta parar diante de uma banca de jornal para observar revistas e constatar a verdadeira enxurrada de capas cujos destaques são mulheres com traseiros exuberantes. E que dizer dessa bonita moça que passa na rua, tão distraída, roubando olhares gananciosos dos homens que encontra pelo caminho? E ainda daquela outra que passa diante de uma obra em construção atraindo assovios, interrompendo as atividades do operariado?

Não sei dizer se as representações do traseiro na história da humanidade, conforme entendidas pelos autores de “La Face Cacheé des Fesses”, se aplicam corretamente à história do Brasil. Acontece que “este país” costuma ser diferente em tudo, consequência talvez da tropicalidade conforme acenavam as abomináveis teorias racistas em voga no século XIX e início do século XX.

Corre por aí a idéia de que a grande miscigenação que deu origem à atual população brasileira seria a responsável pela geração de mulheres com corpos esculturais e capazes de trejeitos de grande sexualidade. Infelizmente essa imagem das brasileiras, tidas como mulheres bonitas e de belos físicos, tem servido a comentários negativos, quando não ofensivos, por parte de outros povos. Acresça-se a isso o lamentável turismo sexual em nosso país e a exportação da prostituição para terras distantes. Por tais razões não são tão raros os episódios em que mulheres brasileiras tornam-se alvo de piadas e atitudes desrespeitosas quando em passagem pelo exterior.

Não sei se “La Face Cacheé des Fesses” será editado no Brasil. Seria interessante conhecer a visão dos franceses sobre assunto tão presente no imaginário das coisas do Brasil.