Kennedy e o episódio dos mísseis at Blog Ayrton Marcondes

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Gosto muito de ler o cantinho de jornal cujo título é “Há 50 anos”. Hoje se divulga que a principal notícia do dia 20 de agosto de 1962 era a de inundações na Colômbia decorrentes de aumento do volume de água dos rios. Mortos, desabrigados e perdas materiais compunham o triste quadro da tragédia colombiana.

Há quem diga que o passado não serve para nada, que a história pregressa não tem utilidade para a interpretação dos fatos do presente. Conheço um professor universitário que, curiosamente, nega qualquer valor ao passado.  Para que perder tempo com fatos que não voltam mais? – pergunta ele. E ele é justamente um professor de História. Eis aí um rebelde inconformado, talvez com o próprio ofício.

O que me atrai nas notícias do passado é a possibilidade de pensar um pouco sobre o modo de vida da época comparando-o com o presente. Assim, as notícias sobre as inundações colombianas me devolveram o ano de 1962 quando eu era apenas um rapazinho preocupado com o rumo que daria à minha vida. De todo modo, 1962 foi um ano inesquecível, bastando lembrar que nós, os brasileiros de então, estávamos ligadíssimos na Copa do Mundo realizada no Chile. O Brasil voltou de lá com o título de bicampeão mundial e foi uma grande festa. Pelé havia se machucado logo no início da Copa, mas Garrincha brilhara destruindo as defesas adversárias com seus dribles impossíveis. Aquela grande seleção de futebol fez história em nosso país atrasado, imerso em dívidas e que, sem que se suspeitasse, caminhava em direção ao golpe que inauguraria o período de ditadura militar em 1964.

Mas, 1962 também foi o ano daquela tremenda encrenca entre os dois polos da Guerra Fria que dominavam o mundo na época. Em 1961 os EUA tinham instalado mísseis na Turquia fato que despertou a reação russa de instalar mísseis em Cuba. A proximidade com os EUA e a possibilidade de ataque a cidades americanas provocaram a reação do presidente John Kennedy que exigiu a retirada dos mísseis. O mundo tremeu diante do perigo de uma guerra nuclear que repetiria, em muito maior extensão, a tragédia de Hiroshima. Acordo entre Kennedy e o primeiro ministro russo  Nikita Krushov  colocou fim ao impasse, mas  a Guerra Fria só terminaria muito mais tarde com a queda do Muro de Berlim.

De 1962 também importa aos brasileiros a grande vitória do filme “O Pagador de Promessas” o qual venceu o Festival de Cannes. Anselmo Duarte, o diretor do filme, voltou com a Palma de Ouro e o interessante é que eu o conheci algum tempo depois. Morava eu em Itu, interior de São Paulo, terra do Anselmo, e era colega da filha dele no colégio local. Certo dia fui à casa dela por conta de um trabalho escolar e lá estava o grande Anselmo com quem não troquei mais que “boa tarde”.

Decorridos 50 anos aqui estamos, neste ano de 2012, que já avança em pleno segundo semestre. É verdade que o Brasil está muito melhor que aquele país de 1962. Entretanto, as notícias que nos acompanham diariamente não são animadoras. A violência desmedida e o julgamento do mensalão não passam de sinalizadores de uma época à qual falta alegria. O futebol, esporte de preferência nacional, passa por momento de pouco brilho. Já não existem grandes craques capazes de apaixonar as multidões. Mas, o pior, é que se vive sob o império da desconfiança. Entretanto, há que se torcer e confiar no futuro, afinal trata-se de tempo novo e aberto a todas as possibilidades, quem sabe a uma rodada de bons acontecimentos, por que não?