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Guerra ao Terror

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Apontado pelos críticos norte-americanos como o melhor filme do ano, “Guerra ao Terror” faz jus às premiações que vem recebendo e às nove indicações ao Oscar 2010. De fato, o filme oferece ao expectador tensões elevadas em nível máximo, tudo isso com um habilíssimo trabalho de câmeras que se esmeram em mostrar pequenos detalhes e a grande atuação dos atores protagonistas do enredo.

Em Guerra ao Terror” (The Hurt Locker), dirigido por  Kathryn Bigelow, três soldados, William James (Jeremy Renner) JT Sanborn (Anthony Mackie) e Owen Eldridge (Brian Geragthy) são encarregados de desativar bombas. James veste um escafandro e vai desarmar explosivos enquanto os outros dois ficam na retaguarda, de olho em qualquer pessoa ou movimento suspeitos.

O tema de fundo é o pós- guerra no Iraque. Não importa muito o passado histórico pregresso da ação, as motivações que levaram o governo Bush a invadir o Iraque, colocando fim ao governo de Saddam Hussein. O que importa mesmo é o quadro dramático de um país que na verdade poderia ser qualquer um, no qual os escombros do pós-guerra escondem milhares de bombas armadas para explodir.

 “Guerra ao Terror” é um filme de ação. Entretanto, trata-se de um filme que, a seu modo, procura burlar as fórmulas pregressas utilizadas em filmes de guerra. Aqui, o horror não está na guerra em si, mas em suas consequências e no modo como o perigo se insinua no espírito dos soldados. Existe um ritmo frenético de ações que se repetem diariamente, colocando em risco a vida dos soldados. Entretanto, cada ação em si é demorada porque envolve cuidados para desarme de bombas. É do contraste entre o ritmo frenético de ações e a lentidão dos processos de desarme que gera-se a grande angústia que toma conta do expectador. A isso soma-se a contagem regressiva dos dias que faltam para a equipe de soldados deixar o Iraque.

Assim, cada dia pode ser o último, cada bomba o prenúncio do fim. Por isso, a rotina dos soldados consiste numa espécie de sobrevida proporcionada pelo acaso que os faz violentos consigo mesmo e entre si: só com a violência interior pode-se enfrentar a violência exterior, num curioso mecanismo de válvula de escape necessária à preservação do equilíbrio e da sanidade.

O sargento William James é um especialista para quem o desarme de bombas parece ser uma arte. Ele guarda embaixo de sua cama uma caixa com pedaços de fios e mecanismos de bombas que desativou: são os seus troféus, espécie de compensação pelos momentos de perigo que enfrenta no seu cotidiano.

O sargento William James não é um homem comum e esse fato justifica a sua dúvida em participar de novas missões tremendamente perigosas. Há quem tenha visto na necessidade de James continuar desarmando bombas uma espécie de vício: a guerra vicia. Não será, certamente, essa a melhor interpretação. O fato é que certas pessoas são talhadas para determinadas atividades e, principalmente, momentos especiais.  Existem homens que não nasceram para viver em tempos de paz, aos quais não se adaptam. As guerras oferecem oportunidade a espíritos inquietos e que amam o perigo. William James é um desses homens, ele precisa da guerra e a guerra precisa de homens como ele, nesse fato a explicação a opção que ele faz no fim do filme.