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Catarse coletiva

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Foi o que se viu ontem à noite quando da divulgação do resultado do júri que condenou o casal Nardoni pelo assassinato da menina Isabella. De repente, os sentimentos de terror e piedade despertados pela contemplação de um episódio trágico vieram à tona numa espécie de redenção coletiva: puniam-se os culpados, justiça era feita e os espíritos podiam, enfim, sentir-se purificados.

As cenas que se seguiram à notícia da condenação foram dignas da comemoração coletiva por ocasião de grandes vitórias. Lembraram conquistas esportivas nas quais pessoas eufóricas manifestam-se intensamente com alegria incomum. Pessoas entrevistadas por repórteres não conseguiram e nem quiseram esconder a sua euforia. Manifestando-se por meio de frases feitas e lugares-comuns todas elas deixaram claro que outro resultado não seria esperado que não o da condenação do casal.

Durante toda a noite pairou nos espíritos a sensação de vitória. O bem venceu o mal, o júri referendou a vitória do bem e recolocou as coisas nos seus devidos lugares. Raríssimas vozes se ergueram para dizer não estarem completamente convencidas da culpa dos Nardoni. Quanto a eles, o fato é que as circunstâncias que cercaram a ocorrência do crime não deixaram margem para que não fossem responsabilizados. O promotor prendeu-os a um labirinto no qual uma prodigiosa linha do tempo reconstituía todos os seus passos na noite fatídica. Consta que esse argumento convenceu definitivamente os jurados.

No fim o promotor cedeu entrevista durante a qual mais parecia um técnico de futebol a esclarecer os lances da sua equipe. Era um homem cansado, mas vitorioso, mostrando que se dedicou exaustivamente ao processo.

Desliguei a televisão antes do fim da entrevista do promotor. Quando fechei os olhos pensei na noite em que o casal Nardoni chegou ao apartamento e a menina Isabella foi esganada e depois jogada pela janela. Pensei no fato de Nardoni ser justamente o pai da menina de 5 anos e ainda assim tê-la jogado. Pouco antes de adormecer ponderava sobre o fato de que o horror apresenta possibilidades infinitas, muito além das que podemos imaginar.

Talvez nunca se saiba com exatidão como foram os últimos instantes da menina Isabella.  Mas, de que foram cercados de infinito horror não existem dúvidas.