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Publicidade: a era da realização e felicidade

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Sempre me inquietam os anúncios comerciais um tanto apelativos, como esses de cerveja nos quais o principal atrativo é a mulher. O que buscam as agências de propaganda é uma junção de prazeres combinados entre bebida e sexo. Belas mulheres aparecem em bares cheios de homes, bebendo determinada marca de cerveja e assim busca-se plantar no cérebro de possíveis bebedores a noção de prazer que induz ao consumo. Como diz um amigo, depois que se vê tudo isso bebe-se a cerveja, infelizmente não vem junto a mulher que os anunciantes apresentam.
O jornal La Nacion, de Buenos Aires, trouxe, na segunda-feira, artigo assinado por Alberto Borrini que trata daquilo que ele chama de pós-publicidade. Lembra o articulista que hoje em dia as marcas deixam de lado o produto e se concentram no meio social para definir as suas estratégias de marketing. O que realmente importa é o homem e a sua circunstância, tudo sob o signo de “ser feliz”. Deixa-se de lado a publicidade que fala em “melhor”,”grátis”, “superior” substituindo-se esses dizeres por algo ligado à felicidade do consumidor.
Hoje mesmo vi, por exemplo, a nova propaganda do perfume 212 que se resume numa frase: “você também está na lista?” Ao lado do vidro de perfume estão fotos de pessoas famosas e aparentemente muito felizes porque bem sucedidas. O mote da propaganda obviamente é “seja como eles, faça parte do grupo, use o perfume”.
Em seu artigo Borrini destaca que mesmo a propaganda da mais modesta guloseima se liga à felicidade e equilíbrio emocional. Não é preciso observação mais acurada para reparar que trilham o mesmo caminho os comerciais de eletrodomésticos que visam facilitar e tornar mais felizes as donas de casa, os automóveis que têm suas propagandas associadas a desafios e aventuras, situações tão escassas na vida cotidiana. Vemos isso, diariamente, nos canais de televisão
É desse modo que somos envolvidos pelos apelos de um mundo imaginário onde torna-se possível ser feliz, consumindo. O que nos leva a considerar os comentários frequentes sobre classes menos favorecidas que, de repente, fazendo uso do crédito disponibilizado à população, embrenharam-se num mundo de compras, destacando-se eletrodomésticos como televisores etc. Com frequência ouvimos que está a acontecer no país uma inversão de valores porque pessoas que vivem em barracos e não dispõem até mesmo redes de água e esgoto possuem eletrodomésticos caros. O que não se diz é que essas pessoas fazem parte do contexto populacional e, talvez, sejam as mais atingidas pela propaganda que busca distribuir felicidade através da aquisição de bens. Visto por esse ângulo o problema deixa de ser de inversão de valores e, sim, de busca de compensação e ascensão social.
E assim caminha a humanidade.