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Breve notícia sobre Joaquim Nabuco

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Joaquim Aurélio Nabuco de Araujo (Recife, 19 de agosto de 1849 – Washington, 17 de janeiro de 1810) foi um dos brasileiros mais influentes de seu tempo. Educado na infância por sua madrinha, proprietária do Engenho de Massangana, aí viveu os seus oito anos primeiros anos, ocasião em que mudou para o Rio de Janeiro, onde foi morar com seus pais. O pai, José Tomás Nabuco de Araújo, mudara-se para o Rio para exercer as funções de deputado e, mais tarde, de Senador do Império.

Hoje, 17/10/2010, completam-se 100 anos da morte de Joaquim Nabuco, ocorrida em Washington e ocasionada por uma congestão cerebral. Na época, Nabuco exercia a função de embaixador do governo brasileiro em Washington onde se tornara figura notável. De fato, granjeara respeito e amizade do presidente norte-americano Theodore Roosevelt e tornara-se, até mesmo, uma espécie de atração turística: por ser homem de rara beleza e perfil aristocrático conta-se que os cocheiros paravam defronte a casa dele para dizer que ali morava o homem mais belo da América. Pela beleza pessoal Nabuco era chamado de “Quincas, o Belo”.

Atrativos pessoais a parte, Nabuco notabilizou-se como diplomata, político, orador, poeta e memorialista.  Foi importante líder abolicionista e amigo pessoal de Machado de Assis – as cartas entre eles foram reunidas em livro com um precioso prefácio de Graça Aranha.  Quando da Proclamação da República Nabuco, ferrenho monarquista, desiludiu-se, entregando-se à produção de seus livros. Só anos mais tarde, a convite do então presidente da República Campos Salles, aceitou a função de advogado do Brasil, na defesa dos direitos do país na disputa com a Grã-Bretanha pela fixação das fronteiras da Guiana Inglesa.

Joaquim Nabuco terá sido um dos maiores intelectuais brasileiros daí, com muita justiça, ser considerado como um dos intérpretes do Brasil. As gerações mais recentes, para quem Joaquim Nabuco é desconhecido, muito têm a aprender com esse notável brasileiro que, entre outras realizações, deixou-nos obra da qual se destacam os livros “Minha formação”, “Um Estadista do Império” e “O Abolicionismo”.

“Minha Formação” foi publicada em 1900. Trata-se de um livro de memórias, intelectualmente muito rico e com reflexões políticas, principalmente sobre o liberalismo. A obra tem pretensões de ser autobiográfico. Entretanto, não fica só nisso, abarcando vasta temática ligada às inquietações intelectuais do autor, sua experiência e o contato com grandes personalidades de seu tempo. Critica-se no livro o deslumbramento de Nabuco com o luxo e o aparato, aliás, confesso. Mas, trata-se de obra escrita por um grande erudito, importante em vários aspectos, inclusive no que trata da participação do autor na campanha abolicionista no qual a obra se apresenta menos biográfica e mais histórica.

“Um Estadista do Império” apareceu, pela primeira vez, em 1898, impressa em três volumes. A obra é a biografia do pai, o Senador Nabuco de Araújo. Para escrevê-la Joaquim Nabuco valeu-se do arquivo do pai do qual faziam parte cerca de 30.000 documentos, distribuídos entre recortes de jornais, cartas, discursos etc. Em conjunto a obra aborda a História do Brasil através da participação do político, jurista e notável orador, Nabuco de Araújo.  Obra de fôlego caracteriza-se pela isenção de seu autor que busca retratar um período da história do país realçando os perfis dos homens que dela participaram.

“O abolicionismo” foi publicada em Londres, em 1883, com a intenção de ser obra de propaganda não dirigida aos escravos, a quem não seria lícito incitar uma revolta , mas aos cidadãos brasileiros a quem cabia a extinção urgente do cativeiro. Outra intenção do texto era combater a idéia difundida no estrangeiro de que a escravidão brasileira seria mais branda que a de outros países da América. O livro não se esgota, entretanto, na proposta de colocar um fim ao regime escravista, considerado criminoso: Nabuco estuda e propõe as opções para o país depois da Abolição. Após apontar o monopólio da escravidão, interligado aos monopólios da terra e do comércio que impediu a formação de pequenas propriedades e de uma classe média, Nabuco propõe um novo modelo de país sem a escravidão. Trata-se de uma grande reforma, espécie de “revolução pacífica” que passaria por uma “democratização do solo”, a reeducação da elite política e a prática do verdadeiro liberalismo.

Uma “breve notícia” obviamente visa apenas chamar a atenção sobre uma grande personagem de nossa história e as obras que escreveu. No caso de Joaquim Nabuco, seus textos continuam vivos cem anos depois de sua morte. Vale a pena conhecer o escritor Joaquim Nabuco, um erudito como poucos, considerado por muitos estudiosos como o mais lúcido e inteligente entre os intelectuais brasileiros.

De “Minha Formação” existem edições de 2004: a da Martin Claret e a da Itatiaia Editora; “Um Estadista do Império” foi editado em 2v, pela TopBooks,  em 1997; “O abolicionismo” tem uma edição de 2003, pela UNB. De todo modo, caso não sejam encontrados em livrarias, esses livros podem ser obtidos em sebos.

“Machado de Assis & Joaquim Nabuco, Correspondência. Organização, Introdução e Notas de Graça Aranha” está em 3ª edição pela TopBooks.

Cristo e Judas

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É indisfarçável o constrangimento provocado pelo presidente da República ao afirmar que no Brasil, Cristo teria que se aliar com Judas. São palavras do presidente: “se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”.

Nada de pudores religiosos, nada de aversão a frases de efeito e, preconceito, se existe, só em relação a uma confissão pública do tipo “os fins justificam os meios”.

Mas a lição vem de cima e está dada: nada contra aliar-se com alguém que o traiu ou poderá novamente traí-lo se o que está em jogo é alcançar a vitória de momento. Na verdade o passado e o futuro pouco interessam, exceto o esforço para manter o poder em mãos indefinidamente.

Não custa lembrar: Jesus foi torturado e morto justamente para não pactuar com fariseus etc.

Sou dos que tem na Bíblia uma das maiores obras literárias de todos os tempos, isso sem considerar os aspectos ligados à fé cuja interpretação difere de acordo com a crença que cada um professa.

Por falar em literatura, em carta endereçada a Joaquim Nabuco, em agosto de 1906, Machado de Assis afirma que se consola e desconsola com a leitura de um de seus livros prediletos, o Eclesiastes. Um dos trechos preferidos de Machado pode nos servir para consolo e desconsolo diante do que homens públicos afirmam e praticam nos dias de hoje. É o seguinte:

- Vaidade das vaidades. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

Em tempos de Show-funeral

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Rapaz, eu não imagina que viveria para ver isso. Pois o cadáver de Michael Jackson, morto há alguns dias continua insepulto, à espera que se decida a melhor forma de despedirem-se dele.

Pelo lado do morto, tudo bem: acabado está e se algo ainda se deve a ele na condição de cadáver é o respeito aos mortos. E uma certeza: o show-funeral será na terça-feira.

Por hábito sempre penso nos mortos dentro de seus caixões e sendo baixados à sepultura, quando não cremados. Talvez por isso toda essa celeuma em relação ao enterro de Michael Jackson me pareça fora de propósito. Os dias passam e uma constelação de repórteres permanece na frente da casa do cantor, esperando por qualquer migalha de informação. Às vezes aparece alguém da família Jackson, parecendo andar numa ribalta de onde desfere duas ou três frases rapidamente divulgadas por todos os órgãos de informação. Por trás dos repórteres milhares de fãs consumidores de novidades empolgam-se com narrativas fragmentárias sobre a morte do cantor, dignas de telenovela. A morte de Jackson vai sendo esticada, estigmatizada, gera lucros com a permanência do morto na mídia e o retorno de seus discos ao topo das paradas. A morte de Jackson tornou-se, portanto, um negócio lucrativo.

E agora isso do show-funeral: anuncia-se a despedida de Jackson dentro do estádio do Los Angeles Lakers, com capacidade para 20000 pessoas. Os ingressos serão doados a fãs por sorteio e o funeral transmitido por telões aos que ficarem do lado de fora. É possível a participação de artistas e estuda-se o custo do evento. No centro dessa movimentação toda, Michael Jackson, o morto, esperando a hora de finalmente seguir viagem e desaparecer fisicamente.

A teatralidade das exéquias do cantor só poderia mesmo ser obra de norte-americanos, especialistas que são em megaeventos. Faz parte do caráter do grande povo do norte essa paixão pelo que é grande, pelo exibicionismo que demonstra a força inerente ao país e o seu domínio e influência sobre os demais governos. Pouco importa se por vezes abrem-se brechas nas defesas do império norte-americano: como nos filmes, o império contra-ataca e seus interesses quase sempre prevalecem.

Entender o caráter norte-americano e seu modo de ser é tarefa espinhosa. Joaquim Nabuco serviu como embaixador brasileiro em Washington entre 1905 e 1910. Ainda no século XIX Nabuco publicou o texto intitulado “Influência dos Estados Unidos” que faz parte de seu livro “Minha Formação”. Nesse texto o futuro embaixador realça a influência das origens anglo-saxônicas sobre o caráter norte-americano. Diz Nabuco sobre os norte-americanos:

“O fundo anglo-saxônico revela-se, aumentado ou diminuído, na coragem e tenacidade, na dureza e impenetrabilidade, no espírito de empresa e independência da raça, também na brutalidade e crueldade do instinto popular, nas rixas de sangue, na bebida, nos linchamentos, na sede insaciável de dinheiro, e também, noutros traços, na necessidade de limpeza física e moral, no espírito de conservação, na emulação e amor-próprio nacionais, na religião, no respeito à mulher, na capacidade para o governo livre”.

Do texto de Nabuco podem ser pinçados aspectos ainda hoje facilmente identificáveis no caráter norte-americano. Esses aspectos contribuem para o entendimento do modo de ser daquele país que se esmera em nos surpreender através de criações tantas vezes inusitadas, como esse show-funeral que se prepara para o falecido Michael Jackson.