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A nova Babel

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Pelo Gênesis, primeiro livro da Bíblia, somos informados que os descendentes de Noé, após o dilúvio, passaram a construir a Torre de Babel. A obra seria uma forma de comunicação com Deus. O Todo Poderoso, entretanto, destruiu a torre por não aprovar a soberba dos homens. E não ficou só nisso: o Senhor castigou seu povo, confundindo sua língua e o espalhando pela Terra. Seria essa a origem das diferentes línguas faladas pelos homens.

Babel é sempre citada quando se fala em confusão, quando as pessoas não se entendem. É provável que isso aconteça desde que o homem é homem. Faz parte da natureza humana a diversidade de espíritos, parcelas diferentes de vaidade, ausência de solidariedade e defesa de interesses. O mundo é como é, os homens são como são e inexiste a perspectiva da existência sem conflitos. As regras sociais funcionam como barreiras dentro das quais cada um se vê obrigado a amoldar-se às exigências da vida em sociedade. Obviamente, muita gente descamba para ações que infringem os códigos de conduta tidos como aceitáveis. Deriva daí a multiplicidade de crimes aos quais assistimos tantas vezes estarrecidos. Ainda nos surpreende o fato de que seres humanos sejam capazes de atos inaceitáveis que atentam contra não só a vida como à dignidade das pessoas. Exemplo recente são os desvios de recursos destinados ao socorro de milhares de vítimas da pandemia provocada pelo Covid-19. Enriquecimentos ilícitos se dão às custas de milhares de vítimas cujos óbitos se dão por falta de atendimento, equipamentos médicos e assim por diante. Desvios de milhões por bandidos engravatados.

De que o mundo tenha sido sempre assim não restam dúvidas. Entretanto, com a atual sofisticação dos meios de comunicação passa a existir maior celeridade na divulgação de notícias. De fato, a cada minuto nos chegam informações de todo o mundo, sempre atualizadas. Talvez justamente por isso escancara-se aos nossos olhos essa que pode ser caracterizada como uma nova Babel. Fato é que ninguém se entende. Bipartidarismos, racismos, fobias e a adesões a teorias que até a pouco pareciam em vias de esquecimento, ressurgem com muita força. Daí estarem em voga os adeptos do nazismo, do fascismo, a ressurreição dos ultras, as negações do óbvio, os regimes totalitários, as fake news etc.

Os homens de hoje falam-se através de códigos conflitantes. Líderes mundiais governam em acordo com interesses restritos aos países que governam, estimando conflitos com quem deles discorda. A harmonia entre países fica seriamente prejudicada.

A Babel bíblica nunca deixou de existir. No mundo que parecia escolado após duas grandes guerras erguem-se vozes discordantes que, volta e meia, beiram inícios de novos conflitos. E esses acontecem. A Síria é só mais um triste exemplo.

A nova Babel é o mundo, o futuro cada vez mais incerto.