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A força do imprevisível

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Num mundo de rotinas estabelecidas a imprevisibilidade funciona como desvio do pêndulo. Na Marginal do Tietê um técnico do Departamento de Trânsito decide parar para organizar o tráfego que não flui após a ocorrência de um acidente. O técnico desce de seu veículo para logo em seguida ser atropelado e morto por um carro que passa no local.

No Rio Grande do Sul um motorista de ambulância é chamado para atender vítimas de um acidente automobilístico. Ao chegar ao local encontra o próprio filho morto.

Acaso? Destino? Trapaças da sorte? Há muitos anos um amigo me dizia que se você não quiser encontrar uma pessoa que vive na mesma cidade o melhor é não sair de casa. Perguntei a ele se a teoria seria válida para uma cidade como São Paulo e ele me respondeu: mais ainda.

Não sei. O fato é que coisas assim não deixam de impressionar. Todo acontecimento que desafia a teoria das probabilidades não deixa de ser estranho. Qual seria, por exemplo, a probabilidade de um motorista de ambulância atender a um acidente no qual o próprio filho é o acidentado e, pior que isso, morreu? Nem quero começar a imaginar a surpresa e a dimensão da dor desse pai tão cruelmente maltratado pelas circunstâncias.

A intenção desse texto não é a de discutir por que certas coisas acontecem às pessoas, muitas vezes fatalidades que seriam evitadas caso os envolvidos tivessem apenas feito outro caminho. Nem mesmo se pretende ponderar sobre o porquê de algumas pessoas terem sorte, outras não, enquanto outras ainda serem simplesmente azaradas. Para quem não acredita na existência de gente azarada deixo aqui meu testemunho de que conheci pelo menos duas pessoas assim. Talvez você também já tenha cruzado com gente para quem nada dá certo. Se não se trata de azar o que é, então?

Um dos meus azarados prediletos foi pessoa a quem me afeiçoei muito. Ótimo sujeito, lhano, participativo, mas deserdado da sorte a ponto de rir das coisas que a ele aconteciam. Contava muitas histórias nas quais a sua habitual falta de sorte funcionava como protagonista. Uma delas, do tempo da Revolução de 32, é exemplar. Soldado das forças paulistas o meu conhecido estava num trem quando foi abordado por policiais e preso. Contra ele pesavam várias acusações às quais negava com veemência. A situação só foi esclarecida dias depois: a polícia estava à procura de um criminoso que, por acaso, tomara o mesmo trem que o meu conhecido. Mas, que relação existiria entre ele e o criminoso a ponto de ser preso no lugar dele? Ora, muito simples: o meu conhecido era um sósia perfeito do criminoso, conforme pode ele mesmo confirmar através de uma fotografia. O acaso colocara ambos os sósias num mesmo trem. Quanto ao azar esse ficava por conta de ter sido preso justamente aquele que não era o criminoso.

Do que se conclui que as regras desse grande jogo que se passa no planeta e envolve milhares de vidas são muito, muitíssimo, confusas.