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José de Vasconcelos

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Noite fria em São Paulo. Finalzinho da década de 70. Estou num teatro assistindo a um show de José de Vasconcelos – não tenho certeza, mas naquele tempo não se falava em stand-up. A peça que corria no palco era representada só por Vasconcelos e, como de resto em tudo o que ele fazia, escrita por ele mesmo.

Ao final, aplausos. Cai o pano, público em pé saindo, ordeiramente. É quando das cortinas emerge José de Vasconcelos e grita:

- Ei! Para onde vão? Ainda não acabou…

A partir daí Vasconcelos dedica-se ao que ele tem de melhor: imitações e piadas, inúmeras piadas contadas numa sequência alucinante que quase nos mata de tanto rir. Ri-se tanto que a boca chega a doer. No palco um mestre do humor, explorando todas as nuances possíveis de sua grande arte. Piadas inteligentes que muitas vezes exigem do público algum esforço para acompanhar o raciocínio do artista. De repente estamos numa ilha de humor em estado puro, alegria contagiante. Tudo isso emanando de um só homem que jamais descamba para o escracho. Grosserias e palavrões inexistem.

Quando o artista se dá por satisfeito somos libertados e começamos a sair com cautela porque quando se trata de José de Vasconcelos tudo é possível.

Lembro-me de que antes de deixar a sala de espetáculos me voltei, olhando para o palco como se alguma surpresa ainda pudesse acontecer. Desta vez Vasconcelos não retornou, recolhera-se aos camarins deixando-nos, durante a volta para a casa, a rir de suas piadas.

Ontem José de Vasconcelos, que sofria de Mal de Alzheimer, saiu definitivamente de cena. Pessoas que compareceram ao velório dele e alguns entrevistados destacaram o perfil do humorista, perfeito em sua arte, fazendo rir sem jamais descambar para apelações. José de Vasconcelos deixa saudades em seus fãs, maiores ainda num tempo em que o humor está em crise e a falta de talento gera distorções tantas vezes inaceitáveis.

Escrito por Ayrton Marcondes

14 outubro, 2011 às 12:20 pm

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