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Haiti: tragédia após trajédia

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Talvez seja exagero falar em dupla tragédia no Haiti. Uma delas ainda nos abala com a divulgação de acontecimentos diários após o terremoto, marcados por desordem, violência e busca de sobrevivência a qualquer preço. Vez por outra, uma rara notícia boa a respeito de uma pessoa milagrosamente retirada com vida dos escombros, passados onze dias desde a ocorrência do abalo sísmico.  

A segunda tragédia pode ser encarada como uma peça digna de ser representada no teatro do absurdo: trata-se da competição pela primazia de ajuda aos haitianos na qual, infelizmente, o governo brasileiro vem cumprindo triste papel.

De que as razões do governo brasileiro são muito mais de natureza política que humanitária não restam dúvidas. O jornalista Janio de Freitas escreve sobre o assunto na “Folha de São Paulo”, apontando a obviedade do erro de enfrentamento com os Estados Unidos, atrás de uma hegemonia impossível. Entre outros erros, Janio aponta a iniciativa do presidente Lula de cobrar do presidente da ONU que a distribuição de alimentos fosse feita só por civis para, no dia seguinte, os soldados brasileiros montarem um posto de distribuição de água e alimentos. Isso sem contar com o esforço dos membros do governo para impedir que os Estados Unidos distribuam gêneros e a resposta ao envio de 7000 militares norte-americanos ao Haiti: o Brasil decidiu dobrar o seu efetivo naquele país.

Se é verdade que no plano diplomático os dois países tentam estabelecer um acordo para ajudar o Haiti, nas ruas daquele país verifica-se uma disputa sem sentido pela primazia em ajudar. É bom lembrar que o terremoto do Haiti também é muito últil ao governo norte-americano no sentido de humanizar a imagem de seu pais ultimamente ligada a guerras e outros acontecimentos desagradáveis aos olhos do mundo.

Não é preciso ser muito esperto para adivinhar o resultado de um enfrentamento com os Estados Unidos dados os enormes recursos de que dispõe a grande nação do norte. A saída, óbvia, é uma parceria com a qual o Brasil só tem a lucrar em termos políticos já que os aspecto humanitário parece estar mesmo em segundo plano.

Entretanto, é bom refrear o entusiasmo quanto a uma participação lúcida do governo brasileiro no episódio Haiti: hoje mesmo os jornais noticiam que o chanceler Celso Amorim está sugerindo que governo brasileiro lidere a reconstrução haitiana, daí anunciar que a ajuda de emergência será dobrada para 30 milhões. Mais: o reerguimento do Haiti será executado em acordo com o “Plano Lula”.

Aí você se cansa, vira a página, vai para o caderno de esportes e fica sabendo que o São Paulo ganhou. Depois dá uma corrida de olhos em outros cadernos e vê uma fotografia do ator norte-americano Jack Nicholson, tendo ao seu lado o ator George Clooney que está em alta pelo seu último filme. Os dois foram fotografados no momento em que participavam do “Hope for Haiti Now”, um programa que reuniu vários artistas, foi exibido em vários canais e arrecadou US$ 30 milhões para serem enviados ao Haiti

Aí você joga o jornal num canto e fica pensando num título para o projeto do governo brasileiro para o Haiti.  

Que tal “Delírio de Grandeza”? Não parece bom?