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Brigas de vizinhos

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Na primeira vez que morei em apartamento tinha 25 anos de idade. Até então morara em casas, durante tempos diferentes em cada cidade. Casa oferece mais liberdade. Sem paredes conjuminadas pode-se fazer toda sorte de barulho sem incomodar ninguém. E pode ter o quintal onde se ajuntam toda sorte de tralhas. Um meu parente mudou-se para uma casa e desde o primeiro dia desentendeu-se com uma árvore que ficava bem defronte a porta de acesso ao quintal. Foi ódio à primeira vista. O diabo é ele que descobriu que não poderia cortar a árvore. Daí que passou anos injetando venenos no caule com intuito de matar a planta que o incomodava. Foi vencido pela natureza: quando ele morreu a árvore continuava lá, firme e forte. Talvez esteja ainda hoje, passados mais de vinte anos de desaparecimento do meu parente.

Na primeira madrugada em meu apartamento, achei de ligar o aspirador de pó no meio da madrugada. Acostumado à ausência de vizinhos fui surpreendido pelo som de golpes de cabos de vassoura no teto do apartamento de baixo. Ao que se seguiram toques na campainha que me levaram a abrir a porta. Foi assim que conheci um dos caras mais interessantes com quem topei vida afora. Entendemo-nos ao primeiro olhar. Como eu o havia acordado e ele perdera o sono, perguntou-me se eu tinha algo para beber. Esgotamos até o fim da madrugada duas garrafas de vinho e nos tornamos amigos.

Certa ocasião, em outro prédio, quase fui agredido por um rapaz que praticamente invadiu o meu apartamento. Dizia que eu roubara um pneu velho que ele usava para não deixar o carro bater na parede quando estacionava no subsolo. Aliás, não era essa a primeira vez que eu roubara pneus velhos dele, gritava isso em tom de ameaça. Deu um trabalhão acalmar o incauto, fazendo-o ver que caso eu tivesse vocação para roubar alguma coisa não perderia tempo com pneus velhos.

Não vou aqui contar os muitos casos de pequenas rusgas com vizinhos. Há pessoas que se incomodam com coisas mínimas e reclamam de tudo. Lembro-me de uma senhora que media com régua o espaço que eu deixava entre o meu carro e o dela no estacionamento do prédio. As garagens eram de fato apertadas, o meu carro um pouco maior que o dela, mas quem se importa?

Leio que um senhor, cansado de reclamar do barulho vindo do apartamento de cima, tomou a decisão de resolver a seu modo o assunto. Ele foi ao apartamento do vizinho, matou o casal que morava lá a tiros e depois se suicidou dentro do elevador.

Esse crime é muito comentado, sendo citado como consequente ao estado de predisposição à violência hoje reinante. Ouvi pelo rádio autoridades recomendando às pessoas paciência e boa vontade para resolver suas diferenças de modo pacífico.

Sei não. O mundo atual vai se tornando uma fábrica de inimigos. Aquele a quem não conhecemos pode bem ser um agressor. Talvez tenham razão ao dizer que o estado permanente de violência que nos cerca nos induza a atos impensados cujas consequências podem ser graves.

Será?