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Machado de Assis e o Homem Aranha

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Como se sabe a biografia de Machado de Assis apresenta lacunas que muitos de seus biógrafos creditam ao mistério criado propositalmente por ele mesmo sobre a sua vida. Um escritor quando se dá ao trabalho de explicar-se corre o risco de reduzir o interesse sobre a sua obra e Machado teria perfeita consciência desse fato.

Uma das questões que envolvem a personagem Machado de Assis relaciona-se com a negritude que embora os desmentidos teria sido desconsiderada por ele. Descendente de africanos Machado teria negado a sua origem. Tendo perdido muito cedo a mãe e sendo criado por uma negra Machado a abandonara. O autor dessa denúncia foi o professor Hemetério dos Santos, negro que se notabilizou pelas suas contribuições à gramática. Segundo a descrição do escritor Josué Montello Hemetério era “esguio, ombros altos, bigode farto, óculos sem aro a lhe protegerem as lentes, o paletó bem talhado a exigir o colete branco, a gravata borboleta realçando o colarinho de pontas viradas, todo ele a nos dar a impressão de que o mestre, assim preparado, se requintaria no traje para comparecer a uma solenidade em sua própria homenagem”.

Em suas críticas a Machado, em relação ao problema do negro, Hemetério escreveu : “não mereceu do romancista e do poeta senão pálidas e aguareladas pinturas tão tímidas que claramente revelam que do artista primeiro partiam as ideias preconcebidas contra a sua cor e procedência”. E, passando para as insinuações caluniosas: “Eu conheci essa boa mulata velha (madrasta de Machado), comendo de estranhos, com amor e conforto máximo, chorando, porém, pelo abandono nojoso em que a lançara o enteado de outrora (…)”.

As declarações de Hemetério fizeram escola e até hoje aparecem em trabalhos nos quais se busca analisar a personalidade de Machado de Assis. Existem desmentidos sobre esses fatos, sendo notório o rejubilo de Machado por ocasião da abolição da escravidão.

Posto isso, eis que mais de 100 anos depois o problema da negritude em relação a Machado de Assis volta a ser lembrado. A Caixa Econômica Federal acaba de veicular um anúncio no qual Machado de Assis, apresentado como cliente, é interpretado por um ator branco. Obviamente, o anúncio veiculado pela televisão gerou protestos e a caixa retrocedeu retirando-se do ar e desculpando-se publicamente.

E o que tudo isso tem a ver com o Homem Aranha? Acontece que acaba de sair nos Estados Unidos uma revista em quadrinhos na qual o Homem Aranha é um negro. O presidente dos Estados Unidos é negro e dias atrás uma negra foi eleita Miss Universo. Do que se conclui que a Caixa Econômica Federal saiu na contramão e felizmente retrocedeu.