Helio Ribeiro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para ‘Helio Ribeiro’ tag

My way

escreva o seu comentário

Trata-se de um grande sucesso da música norte-americana na voz de Frank Sinatra. A letra fala sobre a vida de alguém que insiste em dizer que, adversidades à parte, fez as coisas “do seu jeito” ou, em primeira pessoa, “do meu jeito” (my way).

Há uma tradução de My Way para o português, interpretada pelo já falecido radialista Hélio Ribeiro que trabalhou em várias rádios brasileiras e, como narrador, em empresas cinematográficas como a Metro, a Paramount, a Universal e outras.

A gravação de “My Way” com Frank Sinatra e a voz de Hélio traduzindo as palavras do cantor é, até hoje, reproduzida em algumas rádios brasileiras, isso para a delícia dos inúmeros admiradores dessa versão.

Dias atrás ouvi no rádio do carro “My Way” e fiquei pensando no que teria acontecido com essa história de fazermos as coisas ao nosso modo ou do nosso jeito. Não será preciso uma pesquisa para constatar que a maioria das pessoas participa, nos dias atuais, de uma trama cada vez mais complexa de acontecimentos e situações que as obrigam a agir mais em função da expectativa da comunidade que as cerca do que como gostariam.

Dirão que sempre foi assim. Mesmo em família, quantas e quantas vezes aturamos situações que perduram e nos incomodam, relações e até relacionamentos mais próximos que nos impedem de simplesmente ser aquilo que realmente somos. Sem me estender na teoria das máscaras, o fato é que criamos versões de nós mesmos, às vezes diferentes de nossa identidade mais profunda, só para conviver, para não discutir, brigar etc. Existem máscaras disponíveis para tudo, para a vida a dois, para o mundo do trabalho, para os companheiros de churrasco etc. Aliás, coisa interessante é quando nos encontramos com algum conhecido em outro contexto, no qual não se pode representar bem o papel através do qual ele nos conhece.

Não é exagero. Atribuo cada vez mais o fato de deixarmos de ser nós mesmos e não fazermos coisas a nosso modo à velocidade das transformações observadas no cotidiano e à crescente cobrança da sociedade que exige perfis determinados e atuantes.

É desse modo perdemos o direito a ter as nossas esquisitices e exibir reações um tanto esdrúxulas antes vistas como interessantes e produto de personalidades eventualmente não alinhadas com aquilo que se considera de bom senso. É assim que o mundo vai perdendo muito de sua poesia, de conversas aparentemente sem sentido que tão bem fazem à alma. Reduz-se o universo da franqueza, das loucuras mansas, das liberdades apensas a certos individualismos inquietantes para quem com eles convive.

Certo que muitas vezes as coisas tendem para o insólito. Anos atrás estive, numa passagem de ano, em casa de amigos numa praia do nordeste. Reuniram-se ali várias pessoas conhecidas em festa genuinamente alegre e feliz. Tudo segundo os costumes da velha sociedade patriarcal: homens e um lado, mulheres de outro e assim por diante.

Entre os presentes se destacava um homem de cerca de 50 anos, grande dançarino de forró, tipo alegre, daqueles de trato fácil e que depressa nos faz amigos. Conversamos muito eu e ele. Mais tarde, comentei com a mulher dele sobre a excelência de seu parceiro de vida conjugal. Ela riu muito e me contou que ele era de fato ótimo, companheiro perfeito. Se tivesse que reclamar do marido seria só por um hábito dele: toda noite, após todos estarem deitados em sua casa, o marido se levantava e ia à cozinha para desligar a geladeira. Essa era a loucura dele, disse-me a mulher que, depois do marido dormir, religava a geladeira. Era aceito assim, fazia as coisas do seu jeito, dava asas à sua loucura mansa, inofensiva.

Convido as pessoas que leem este texto a refletir sobre o seu dia-a-dia. Que se perguntem sobre a liberdade de que dispõem para as suas esquisitices e idiossincrasias, enfim para ser eles mesmos, sem disfarces. Porque o importante é fazer as coisas “do meu jeito” como diz a música:

E pra que é um homem, o que ele tem
Se não ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras que ele deveria revelar
Os registros mostram que eu recebi as desgraças
E fiz do meu jeito.

Escrito por Ayrton Marcondes

31 julho, 2009 às 8:57 am

escreva o seu comentário