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Tranco no trabalho

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O senhor sabe que, para mim, trabalhar como empregado representa ganhar pouco mais de mil reais por mês. Agora eu sei fazer, sei trabalhar. Por que ser empregado se posso ter o meu negócio?

Faz um ano e meio que abri a minha firma. Dou duro, tenho dois empregados. Moro numa casa de três cômodos, mas que não é minha porque fica no quintal da casa do meu sogro. Em um ano e meio consegui comprar uma televisão de 50 polegadas para o meu quarto, uma de 29 polegadas para os meus dois filhos e a geladeira. Também consegui a cama de casal king size e botei piso frio na casa. Tudo arrumadinho. Se eu fosse empregado nem pensar que conseguiria tudo isso.

Isso sem falar no carro e na caminhonete. Preciso da caminhonete para carregar material para a obra e do carro para visitar os clientes. Veja bem: a secretária da firma é a minha mulher, ela que atende ao telefone e isso diminui a despesa.

O senhor veja que as coisas iam bem. Mas, de tempos para cá começou a dar tudo errado. Um dos meus empregados procurava clientes e fechava serviços. Eu tinha confiança nele. Sabe o que ele fez? Pois o desgraçado fechou por preço baixo cinco obras e embolsou o dinheiro. Deu nota fiscal da minha firma e não me disse nada. Passados os dias para o começo dos serviços os clientes vieram cobrar e só aí eu fiquei sabendo.

O cara deu um golpe danado na gente. Em casa ficamos sem dinheiro até pra comida. Tive que contratar advogado, fazer BO e vou processar o desgraçado. O problema é que não tenho como pagar os clientes enganados pelo meu vendedor. Me disseram que o melhor é não pagar porque não fui eu que recebi o dinheiro. Não sei não. O que sei é que perdi a vontade. Não tenho fome. Quer saber? Pois tive até vontade de morrer.

Mas, agora estou bem. Mais dez anos eu vou ter a minha casa. Casa minha, num terreno meu. Vou ter um carrão, não um desses velhos como o que eu tenho. Quando chegar aos 48 anos vou me aposentar.

Disso tudo só me dói que esse bandido que me deu o golpe vai sair numa boa. Ele arrebenta comigo e não vai para a cadeia. Sabe o que ele diz? Que ficou com o dinheiro porque eu devia para ele. Pode uma coisa assim? Quem sabe depois de muito tempo um juiz condena ele a dois anos de prisão. Aí ela paga uma fiança e sai livre. Pois se quem mata fica livre por aí, o que pode acontecer com um vigarista como esse que me deu o golpe?

O homem que me conta isso tem cerca de 30 anos e sinais de cansaço na face. Mas, olha para o futuro com esperança. Digo a ele que na vida tudo passa. Ele me olha desconfiado. Será mesmo que passa?