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Espionagem

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Li “1984” na década de 70. Cursos superiores que conferem profissões ligadas à ciência podem roubar tampo a leitura de obras que não sejam do ramo. Tal era a aplicação exigida ao estudo de matérias específicas que, por algum tempo, reduzi as minhas leituras de romances, ensaios etc. Mas, foi em meio a isso que li o livro de George Orwell. Dele guardei a aterrorizante - na época para mim improvável - visão de um mundo no qual as pessoas fossem vigiadas por um governo autoritário capaz de restringir de todo as liberdades individuais. Aprendi com Orwell que “a pior coisa do mundo” não é um mal universal porque ligada aos medos individuais. Surpreendeu-me o fato do torturador enfim dizer ao torturado que na verdade não importavam suas ações: o que realmente importava e era inaceitável era o fato de alguém pensar diferente, fora do sistema.

Ao longo dos anos li artigos de pessoas que consideravam “1984” livro menor. Às vésperas do ano de 1984 falava-se que a previsão de Orwell não se concretizara. Vivia-se em plena Guerra Fria com redes de espionagem em ação, mas controle individual disso nãose tinha notícia.

Agora se fica sabendo que o governo dos EUA espiona não só outros governos, como empresas e até e-mails particulares. O Big Brother de Orwell escancara sua face e modos de ação. A própria presidente da República do Brasil é espionada; empresas como a Petrobrás têm seus registros vigiados pelos EUA. E o governo dos EUA explica tudo isso através da surrada história de que é preciso conter o terrorismo e cuidar da segurança do mundo.

George Orwell escreveu seu livro nos anos imediatos ao término da Segunda Guerra Mundial. O mundo que inventou ficcionalmente converteu-se numa realidade que ninguém sabe como controlar. O império da transferência de dados nos leva a pensar se não será possível que outras ficções se tornem reais como, por exemplo, o mundo vir a ser controlado pelas máquinas, escravizando os seres humanos.

Resta aos governos protestar. O governo do Brasil protesta, embora se saiba que a espionagem nunca terá fim.

A pior coisa do mundo

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No livro “1984”, de George Orwell, há uma passagem na qual o protagonista fica sabendo que em determinada sala existe a pior coisa do mundo. Trata-se de uma sala de tortura na qual o torturado é submetido a algo terrível. Mas, o que pode vir a ser a pior coisa do mundo? Acontece que para cada pessoa existe uma pior coisa do mundo relacionada aos seus temores. O meu horror é provocado por fatores diferentes do seu daí que o que é pior para mim pode não significar muito para você. Enfim, para cada pessoa existe algo que a ela é absolutamente insuportável, daí figurar como a pior coisa para a qual pode ser exposta.

Lembrei-me dessa passagem do livro cujo conteúdo é mais ou menos o apresentado no parágrafo anterior - li “1984” há muito tempo e emprestei o livro a um amigo que o surrupiou, agregando-o à sua biblioteca particular. Aliás, vale a ressalva de que livros não devem ser emprestados porque a mão que leva raramente se dá ao trabalho de trazer de volta. Dias atrás procurei o livro que Sartre escreveu sobre o poeta Charles Baudelaire e só depois me lembrei de que alguém o levou por empréstimo com a promessa de devolvê-lo em uma semana. São já passados uns três anos e creio que esse livro pode ser incluído na lista dos definitivamente perdidos.

Mas, ao horror. Dizia que me lembrei do texto de Orwell. A razão foi a ocorrência de um crime que nos últimos dias tem-se muito divulgado, atraindo a atenção pública. Uma jovem universitária foi encontrada morta dentro de seu carro constatando-se que apanhou muito e foi finalmente degolada. Esse crime terrível provocou resposta da polícia que se empenhou nas investigações em busca dos assassinos.  Finalmente dois homens foram presos e confessaram que cometeram o crime a mando de um ex-marido da universitária. A razão foi a negativa da jovem de dividir ou pagar uma dívida de R$ 1600,00 feita juntamente com o ex-marido.

É de se imaginar como terão sido os últimos momentos de vida dessa universitária exposta ao ataque de bandidos contratados para matá-la, chegando ao inominável ato de degola dentro de seu próprio carro. Momento de horror sem fim nos quais ela pode ver de perto algo que pode ser interpretado como a pior coisa do mundo.

Agora o ex-marido nega que tenha ordenado a morte da universitária, alegando que contratou os dois bandidos apenas para pregar um susto nela. A família da moça degolada sofre com  tamanha barbaridade, ainda mais sendo cometida por pessoa de boa família a quem tinham como verdadeiro filho.

História terrível, assustadora. Provoca calafrios e nos faz pensar sobre os limites da maldade humana.

A boa e a má internet

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Acredito que, ao escrever “1984”, George Orwell tenha pensado em algo que não chegou a se formar completamente na cabeça dele, mas que bem poderia ser a internet. Convenhamos: existe melhor sistema de vigia que a rede mundial? Quando você usa o seu computador pessoal os acessos a sites carregam o IP do local de acesso. Caso seja a sua casa você poderá ser localizado; caso seja a empresa em que você trabalha o IP dela revelará o local de acesso. Assim, se você acha que tudo o que faz na internet é impessoal, cuidado.

Por outro lado hoje em dia é muito suspeito não ter internet. Veja-se o caso bin Laden: a inexistência de internet e telefone numa casa de luxo contribuiu para que ele fosse localizado e morto pelos soldados dos EUA.

A morte de bin  Laden colocou a internet em evidência nas últimas horas. Resumo aqui um pouco do que ouvi de vários comentaristas. Um deles afirmou que bin Laden não teria montado a sua rede de terrorismo sem a existência de internet. Bin Laden fez uso da internet para marketing pessoal, aparecendo bastante em vídeos com mensagens contrárias aos detentores de poder no ocidente. Até aí se tem a má internet, aquela usada para fins escusos e violentos. Quantos jovens sequiosos de vingança contra um mundo cheio de desigualdades tiveram nas imagens de bin Laden referência para suas revoltas.

Mas, os comentaristas também não se esquecem de citar os benefícios gerados pela boa internet. Em relação ao mundo árabe, hoje em grande pauta, tem sido bastante lembrado o fato de que a internet se constituiu em ferramenta poderosa para as revoltas que derrubaram governos ditatoriais e até então estáveis como, recentemente, aconteceu no Egito.

Não é o caso de se fazer aqui uma relação completa dos bons e maus usos da internet. Se diariamente recebemos mensagens estranhas - os tais e-mails que rapidamente deletamos  - o fato é que a internet nos integra ao mundo e torna possível a realização de inúmeras afazeres ligados ao nosso dia-a-dia. Só para citar um deles: não precisamos mais ir aos bancos para realizar algumas operações e só isso já é uma grande, para dizer a verdade uma enorme coisa.

Bem, ninguém quer ficar de fora. Crianças começam cedo e idosos se esforçam por aprender um pouco sobre computadores e internet. E não nos importa muito todo esse palavrório sobre benefícios e desvantagens da rede: já não ficamos sem ela que se tornou um terceiro braço do qual lançamos mão a todo o momento.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 maio, 2011 às 11:32 am

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Google View: flagrantes do cotidiano

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Hoje em dia você corre o risco de ser flagrado a qualquer momento, em qualquer lugar, inesperadamente. Existem olhos por toda parte, tantos olhos que nada passa despercebido. Você já usou o Google View? Rapaz, que coisa. De repente você pode fazer um passeio virtual por ruas de muitas cidades do mundo, ver os prédios e as pessoas que circulavam no momento em que as fotos foram tiradas. Pode ser que para a geração atual - essa para quem tudo parece normal e óbvio - o Google View pareça uma coisa muito lógica e simples. Olhe, não é não. Deixando para lá esse papo de invasão de privacidade, de facilitar aos bandidos as suas ações criminosas, o fato é que o que vemos na tela é fenomenal. Agora, que tem algo de Grande Irmão nisso, lá isso tem daí me perguntar o que acharia disso tudo o bom camarada George Orwell.

Em Belo Horizonte um cidadão processou o Google porque foi fotografado no momento em que vomitava na rua. Ele pede uma indenização. Fotos ao acaso de ruas mostram de tudo, que fazer? Mas, o Google View é também um serviço interessante, ajuda a localizar muita coisa e a conhecer cidades a que jamais iremos. Outro dia dei uma olhada em Tókio e foi como, de certo modo, eu conhecesse um pouco a cidade e a japonesada que anda por lá.

Quanta diferença com o passado. Quando da realização da Olimpíada de Moscou, em 1980, havia uma grande curiosidade sobre como seriam os russos. Com a Cortina de Ferro fechada como era, o povo russo parecia a todo mundo mais distante que os hipotéticos habitantes de Marte. Aí começaram os jogos e pode-se ver russos na torcida, gente como a gente, levando filhos no colo etc. Eram os tempos da Guerra Fria e os comentários que passaram a ser ouvidos foram os de que “os comedores de gente são iguais a nós”. Tratava-se de uma ressalva importante em tempos em que os russos eram demonizados pela propaganda norte-americana.

Hoje você tem acesso a milhares de fotografias de Moscou e em breve poderá passear virtualmente na cidade através do Google View. O mundo é outro, a Guerra Fria teve seu fim com a extinção da União Soviética, em 1991, e os EUA andam às voltas com guerras e grande crise interna. Alguns países ditos emergentes, entre eles o Brasil, experimentam ser gente grande e a tecnologia permite uma integração maior entre os povos. É a aldeia global, prevista por Marshall Mcluhan, para quem o progresso tecnológico reduziria todo o planeta à situação observada em uma aldeia, ou seja, a possibilidade de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nela vive. Que o digam os emails, os blogs e as comunidades virtuais. Não é que a Rainha Elizabeth da Inglaterra estreou há dois dias no Facebook e ganhou, nas primeiras horas, quase 100 mil fãs?

O que surpreende nesse admirável mundo novo é a velocidade da informação e o consumo dela. Embora isso seja óbvio e a afirmação nada tenha de novo a coisa toda continua impressionando e muito. Há dois dias, no início da noite, um apresentador de TV se queixou, dizendo-se perseguido por uma emissora concorrente. Ele fez isso durante a apresentação do seu programa o que conferiu aspecto mais bombástico às suas declarações. Pouco depois alguns portais jornalísticos da internet já exibiam imagens gravadas do programa contendo as declarações do apresentador. É essa instantaneidade que impressiona, a rapidez do processamento de algo que alguém viu, achou importante, gravou e divulgou. A verdade é que se vive num ambiente cujo teor de grande parte das informações tende à fofoca: é só entrar nos portais da internet para acompanhar o dia-a-dia das celebridades, o que fizeram ou deixaram de fazer, elas também surpreendidas pelo grande olho que tudo vê e divulga para que todos saibam e persigam pessoas.

Esta é uma época de imagens por atacado e privacidade comprometida. O acesso à vida particular seguramente é muito maior que em outros tempos. Por isso, meu amigo, você não está seguro. Veja aí o que anda fazendo, principalmente onde anda fazendo. Se o amigo é dado a esquisitices, cuidado. Vive-se num período em que as mais estranhas teorias têm chance de ser confirmadas, inclusive aquela que prevê um grande e único governo totalitário vigiando todas as pessoas. Claro que isso é um absurdo, mas será mesmo? Pois se há alguns anos me dissessem que haveria um programa de computador que permitiria passeios virtuais a cidades do mundo, eu riria na cara de quem afirmasse isso. Portanto cuidado: um desses carinhas que se vê no Google View, atravessando uma rua, pode ser você. Veja lá o que anda fazendo, o mundo está cheio de olhos que nos vigiam e podem nos comprometer.

A pior coisa do mundo

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São frequentes notícias sobre roubo de espécies nativas do Brasil, algumas delas ameaçadas de extinção. O que está em jogo é a biodiversidade do país e o uso de substâncias que acabam sendo patenteadas no exterior.

A pirataria parece não ter limites. Semana passada li que as caranguejeiras nacionais valem 80 reais, cada uma, no mercado externo. Não é difícil imaginar um bando de esfomeados correndo atrás de caranguejeiras para entregá-las a bandidos que as repassarão a outros países.

Ao Estado totalitário do livro 1984, de George Orwell, é insuportável qualquer tipo de liberdade, principalmente a de pensar e questionar a política do governo. Os que infringem as regras são severamente punidos sendo, inclusive, submetidos à tortura. Para isso existe uma sala onde o torturado é submetido à pior coisa do mundo.

O que é a pior coisa do mundo? Depois de algumas páginas ficamos sabendo que a pior coisa do mundo depende do medo de cada um. Para Winston Smith, a personagem de Orwell que é torturada, a pior coisa do mundo é um grupo de ratos que são colocados perto do seu rosto, separados por uma pequena grade.

Não sei dizer se as baratas são a pior coisa do mundo para a maioria das mulheres. Há que se lembrar do efeito devastador que uma simples perereca é capaz de causar nas pessoas do sexo feminino.

Quanto a mim, nunca me dei bem com serpentes e aracnídeos. Não se trata de medo que me paralise a ponto de não ter coragem para enfrentar esses seres ou sair correndo. Como em geral acontece, o medo está ligado a alguma passagem da infância, esquecida ou não. No meu caso trata-se de uma velha casa de fazenda que pertenceu ao meu avô e onde dormíamos de vez em quando. Era dessas casas com piso de madeira e porão habitado por toda sorte de bichos, predominantemente aranhas e escorpiões. Eu me lembro de meu pai ao meu lado, durante a madrugada, afastando da minha cama um escorpião. Assim nasceu o medo. Freud explica.

Mas os meus medos não são o meu assunto.  O meu tema é a recente descoberta de uma aranha boazinha, porque vegetariana. Ela vive no México e foi batizada como Bagheera kiplingi, nome que de modo algum faz justiça a ela. Acontece que “Bagheera” é o nome de um predador - a pantera das histórias de Mowgli, o menino lobo.

A notícia sobre a aranha vegetariana foi divulgada pela revista científica “Current Biology”. Trata-se, até onde se sabe, da única aranha do mundo a comer praticamente só plantas. E que não se assustem os leitores com esse “praticamente”: ocasionalmente a Bagheera pode comer larvas de formigas que vivem em folhas de acácias. Além disso, suspeita-se que ela não coma as larvas por simples gula. Os cientistas que a descobriram acham que as larvas ingeridas talvez forneçam à Bagheera bactérias da flora intestinal das formigas, permitindo a ela digerir pontas de folhas.

O que não se pode tirar da Bagheera é o jeitão agressivo que toda aranha tem. Tudo bem que ela é gente boa, vegetariana e tal, mas para quem tem medo continua sendo aranha. Vai daí que o melhor mesmo é saber da existência só por fotografia.