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“O Artista”

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Assisti a “O Artista” e, para dizer o mínimo, a obra mereceu o Oscar de melhor filme de 2011. Trata-se de uma lembrança sobre o cinema sem os efeitos especiais computadorizados que hoje pipocam nas telas e, mais que isso, sem a fala dos artistas. É nesse mundo em preto-e-branco que se agita o ator George Valentin – interpretado por Jean Dujardin – astro em ação no final dos anos 20 e início da década de 1930. Valentin é um ídolo do dos filmes mudos mudo que atraem multidões aos cinemas. Sua técnica de atuação é rica em expressões faciais úteis para suprir a ausência de diálogos, sempre ajudado em cena pelo seu pequeno cão Uggle que também mereceria um prêmio pela sua grande atuação.

A grande questão que envolve a trajetória de Valentin é o fim do cinema mudo e o início do cinema falado. Nesse sentido a trajetória de Valentin é semelhante à do ator real, John Gilbert, grande astro na década de 1920, mas que sucumbiu na era do cinema falado. Gilbert chegou a participar de um filme falado, mas conta-se que sua voz provocou risos na plateia. Também se conta que a voz de Gilbert foi adulterada de propósito sob mando do dono da Metro, mas isso pertence às más línguas do mundo cinematográfico. A partir do início da era dos filmes falados John Gilbert caiu em desgraça, começou a beber e morreu em 1936.

Em “O Artista” a carreira de George Valentin também é destruída pelo aparecimento do som nos filmes. Apresentado à novidade ele ri e não vê futuro no cinema falado. Mas, os filmes falados deixam para trás o tempo do cinema mudo e quem desponta como grande atriz na nova  era é justamente Peppy Miller – interpretada por Bérénice Bejo – cujo início de carreira fora justamente impulsionado por George Valentin.

É desse modo que a alegria da primeira parte do filme, quando Valentin é ídolo, é substituída pelas cenas de decadência do grande ator que, entretanto, encontra em Peppy Miller o seu anjo da guarda. É Peppy quem vela por Valentin e o socorre em suas agruras e piores momentos. Mas, não é fácil ajudá-lo: Valentin é orgulhoso, teimoso e a todo custo quer afundar-se sozinho.

O maior mérito de “O Artista” certamente está no retorno às origens do cinema, fazendo-nos lembrar de que a sétima arte lutou em seus primórdios para ser o aquilo em que hoje se tornou. “O Artista” é um filme exato, sem erros e a grande atuação de Jean Dujardin confere o pulso às ações, daí ter sido ele premiado com o Oscar de melhor ator.

Por outro lado o filme nos leva a refletir sobre a efemeridade da glória e a instabilidade das estruturas que nos sustentam. A vida é um grande jogo no qual tudo pode acontecer, sendo que vitórias e derrotas dependem de condições tantas vezes alheias à nossa vontade. Nesse fato, talvez, a grandeza em espelhar na tela o fim de uma era e o início de outra, com os acidentes de percurso que influem, dramaticamente, na vida das pessoas envolvidas.