Filme “Os Desajustados” at Blog Ayrton Marcondes

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A paralisação das atividades imposta pelo confinamento abre as portas do passado. Não se trata apenas da reclusão pessoal, convite inevitável para incursões nas memórias. De repente pessoas e situações há muito vividas saem das sombras. É como se nossas casas estivessem, da noite para o dia, povoadas por fantasmas que a todo transe nos acossam. Lembranças, lembranças, mesmo aquelas de que não gostaríamos mais de recordar. Alegrias, tristezas, atitudes corretas e outras nem tanto, erros crassos, amores perdidos, sofrimentos que pareciam jamais terminar, desavenças, ajudas, enfim tudo aquilo que nos faz misteriosamente humanos.

Mas, não há como fugir ao passado. A disseminação da pandemia impõe paralisações inevitáveis. Na imprensa o noticiário gira em torno de números de pessoas infectadas e óbitos, relegando ao segundo plano notícias que nos chegavam ainda a pouco. Alerta-se sobre a crise econômica decorrente da paralisação, da queda do consumo de combustíveis e sobre o futuro incerto. Com atividades esportivas suspensas resta-nos assistir a competições ocorridas no passado. Ressuscitam-se heróis de conquistas memoráveis. O embate entre as seleções brasileira e italiana na final da Copa do Mundo de 1970 é mostrado na televisão. Grandes jogos entre equipes também ocupam o espaço deixado pelas competições agora paralisadas. Sugestões de livros para estimular a leitura nas intermináveis horas do dia e da noite aparecem na mídia. Isso sem falar na repetição de novelas de sucesso cujos capítulos são exibidos diariamente. E filmes que marcaram época. De repente as novas gerações entram em contato com ídolos do passado de cuja existência desconheciam. Estão aí celebridades como Henry Fonda, John Wayne, Tyrone Power, Clarck Gable e tantos outros.

Por falar em Clark Gable dias atrás alguém mencionou o filme “Os Desajustados”, de 1960. Dirigida por John Huston a película conta com grandes estrelas, o próprio Gable, Marylin Monroe e Montgomery Cliff. No enredo uma mulher recentemente divorciada, Rosilyn Taber, vivida por Marylin, está num bar com uma amiga e conhece dois cowboys, Gay Langland (Clark Gable) e Perce Howland (Montgomey Clift). O grupo acaba por ir a um rodeio onde encontram um terceiro cowboy, Guido (Eli Wallach), que fala sobre cavalos selvagens. A decisão é ir à caça desses cavalos. Entretanto, quando a caça acontece Rosilyn descobre que o motivo da perseguição é apanhar os cavalos para serem sacrificados e fornecerem suas carnes. Rosylin se opõe a isso. É impressionante a cena da captura dos cavalos, realmente selvagens, induzidos a correr numa trilha. Há o momento em que Gay tenta laçar um deles e é atrapalhado por Rosalyn. A reação de Gay é empurrar Rosalyn que acaba caindo.

Em “Os Desajustados” existem, ainda, as reações amorosas entre Rosalyn e os dois homens, Gay e Perce. O roteiro do filme foi realizado pelo grande escritor Arthur Miller, na época marido de Marylin Monroe. Trata-se do último filme de Gable e Marylin. Gable morreria pouco depois. Marylin seria encontrada morta em seu quarto, em 1962. Aos que não tiveram oportunidade de conhecer a grande diva Marylin Monroe “Os Desajustados” apresenta-se como grande opção.

Nos EUA grandes escritores trabalharam como roteiristas de filmes. O dramaturgo Arthur Miller, autor de “A morte do caixeiro viajante”, foi um deles. F. Scoot Fizgerald, autor do grande romance “O Grande Gatsby” trabalhou alguns anos em Hollywood. O prêmio Nobel de literatura William Faulkner foi roteirista de filmes dirigidos por Howard Hawks. Aliás, sobre Faulkner existe a piada de que Hawks apresentou-o a Clark Gable, na época grande estrela de Hollywood. Ao serem apresentados, Gable perguntou a Faulkner sobre o que ele fazia. Ao que Faulkner respondeu:

- Sou escritor. E o senhor, o que faz?