Fidel Castro morre em Havana at Blog Ayrton Marcondes

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Fidel

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No início doa anos 60 do século passado Fidel Castro já era o vitorioso de Sierra Maestra quando desalojara Fulgêncio Batista do poder em Cuba. Governava a ilha, situada a apenas 150 km dos EUA, e inspirava intelectuais e jovens em todo mundo.  O filósofo Jean Paul Sartre, acompanhado de Simone de Beauvoir, passara um mês na ilha. A invasão da Baia dos Porcos em 61 e a Crise dos Mísseis em 62 levaram ao rompimento dos EUA com Cuba e à decretação do Bloqueio Continental contra a ilha. Rapidamente, Fidel transformara-se num ícone da esquerda em todo o mundo, estreitando-se as relações de Cuba com o governo soviético.

Fidel já visitara o Brasil no governo de Juscelino Kubistchek, mas não me lembro de ter dado maior importância à Revolução Cubana. Entretanto, um episódio viria a chamar a minha atenção para o que se passava na ilha. Na época preparava-me para futuros exames vestibulares. Morando no interior e não dispondo em casa da tranquilidade necessária ao estudo, consegui permissão para passar algumas horas do dia no claustro de uma ordem religiosa. O espaço a mim reservado era uma cela na qual havia uma mesa e uma cadeira, nada mais. Reinava ali o mais absoluto silêncio, condição ideal para quem se dedicava à compreensão da matéria a ser exigida nas provas.

Entretanto, vez ou outra era eu interrompido pela presença de um frade. Vinha ele cheio e dívidas e me propunha questões para as quais eu não estava apto a opinar. Na época o frade escrevia, justamente, uma peça cujo tema era a Revolução Cubana. Em certas partes da trama faltava ele talvez inspiração para as falas das personagens. Não me recordo de pelo menos em uma única vez ter contribuído para ajuda-lo em sua empresa.

Foi desse modo que ouvi falar sobre Fidel, Raul, Guevara, Cienfuegos e outras personagens da revolução. De todo modo o frade - de cujo nome não me recordo - completou a peça que foi encenada por um grupo de atores amadores. A peça fez sucesso, passando por várias cidades. Se não me falha a memória o dramaturgo Joracy Camargo assistiu a uma dessas apresentações e elogiou o trabalho de toda a equipe.

Anos depois me encontrei com um dos atores da peça. Disse-me ele que o grupo ficara ligado até 1964 quando o golpe militar colocou fim ao regime democrático no Brasil. Depois disso e com o perigo de identificação com qualquer coisa que sugerisse comunismo a peça não foi mais encenada. Fidel era, notoriamente, marxista-leninista. O governo militar pós-64 rompera relações diplomáticas com Cuba e Fidel ajudava revolucionários no Brasil, na Argentina e na Venezuela.

Não se pode negar a Fidel ter sido um calo nos pés dos americanos cuja política imperialista vigorava fortemente sobre o bloco latino-americano ao tempo da Guerra Fria. Sua atitude de desafio frente a um adversário infinitamente mais poderoso é digna de nota. Por aqui fomos direcionados a não simpatizar com Fidel sempre apontado como um perigo para democracia e a liberdade.

O tempo e a história julgarão melhor a personagem que hoje desaparece.