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São João

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O dia 20 de junho marcava o início do período de festas. Seria um final de mês vibrante em meio aquele frio da montanha combatido com as labaredas de fogueiras. A lenha cortada com apuro vinha dali, perto de casa, do mato que naquele tempo cobria quase tudo. Era um mundo muito distante do que se conhece hoje.

Havia muito a se comemorar. Vida simples, rotina quase sem percalços. Depois do dia 20 as mulheres já areavam os tachos nos quais fariam os doces para as festas juninas. Doces de abóbora, batata, figos cristalizados ou em calda. Vez ou outra as peras e pêssegos em calda. Muitos e deliciosos doces aos quais se acrescentavam as paçocas, as pipocas, as talhadas, as rapaduras. O quentão, bebida de preferência, animava o espírito além de aquecer o corpo nas noites geladas.

Tudo preparado, na noite de são João armava-se a fogueira no fundo do quintal. Ao anoitecer ateava-se fogo à lenha e vinham as comadres para a festa. As pessoas acomodavam-se em torno da fogueira que, a essa altura, já tinha fogo alto. Então entravam em cena os pinhões e as espigas de milho verde, assados ao calor do fogo. Sem falar na batata doce que era de preferência geral.

A festa ia até tarde quando as pessoas se recolhiam. Mas, a noite de São João em pouco seria substituída pela de São Pedro. Em casa a festa de São Pedro, em 29 de junho, era ainda maior e mais animada que a de São João. Minha mãe fazia muita questão de comemorar o aniversário dela no dia 29 de junho. Ela preparava uma grande festa, no mesmo lugar da de São João, fogueira, quentão, doces, pinhões e tudo o mais. Inesquecível.

Ainda agora é possível rever aquelas pessoas, na sua vilazinha do interior, naqueles anos cinquenta. Estão lá, felizes, imutáveis ao calor do fogo gerado pela lenha queimada. Daquele grupo me parece não ter sobrevivido quase ninguém. A poucos de nós, crianças na época, coube a missão de chegar até esse São João de hoje, em 2020, para manter viva a memória das gentes que se foram. Memórias que também se apagarão quando o tempo passar e não houver mais ninguém para se lembrar disso.

São Pedro

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De festas juninas guardo minha mãe comemorando o aniversário dela. Dia 29, São Pedro.  Minha mãe passava o dia preparando a festa. Tínhamos um quintal grande. Armava-se a fogueira com troncos de lenha dispostos numa pilha que se afinava em direção ao alto. Na cozinha as mulheres trabalhavam. Preparava-se o quentão e coziam-se os doces em tachos no fogão de lenha. O de abóbora era o meu favorito.

No início da noite as pessoas chegavam. Vinham agasalhadas porque o frio era intenso. Passavam pelo portão com faces felizes, prontas para o divertimento que viria. Ateava-se fogo à lenha e logo a pira incandescente iluminava a noite.

Os convidados se reuniam em torno da fogueira. Rolava o quentão. Fazia sucesso a batata-doce, assada em meio às brasas da fogueira. Minha mãe circulava, agitando a festa. Estava feliz.

Pelas tantas surgia o bolo. Os amigos se reuniam no coro para os parabéns. Tinha-se a impressão de que, do céu, São Pedro abençoava aquela gente. Era o dia dele. Era o dia de minha mãe.

São passados seis décadas desde aquelas noites de São Pedro. Dos convivas em torno das fogueiras quase ninguém sobreviveu. São Pedro deve tê-los recebido com um sorriso na entrada do céu. Dizem que o santo não se nega aos seus que sempre o festejaram.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 junho, 2017 às 12:05 pm

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