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Sob o Império das Aparências

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belezaDe que é preciso cuidado com a saúde não se discute. Dietas ricas em gorduras são prejudicais: a associação entre altos níveis de colesterol e o endurecimento da parede dos vasos sanguíneos está mais que popularizada; exercícios físicos são fundamentais para a preservação da saúde em todas as idades; são enormes os malefícios proporcionados pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas; cigarros nem pensar; e assim por diante.

Assuntos relacionados a cuidados com a alimentação, preservação da saúde e manutenção da forma são constantemente veiculados pela mídia escrita e falada. Eles dão IBOPE, vendem revistas.

Até aí nenhuma novidade. O problema realmente começa quando, sob o manto da preservação da saúde, estabelece-se a ditadura da boa forma, do visual perfeito, da neurotizante balança que não mente, das gordurinhas localizadas, da feiúra opressiva, do botox, da cirurgia plástica tantas vezes desnecessária, da necessidade de melhorar para ser bem aceito nos meios que freqüentamos. Trata-se da imposição do belo.

Quando isso acontece o equilíbrio do organismo deixa de ser um problema médico e passa ao território do “fashion”, das centenas de regimes propostos - muitos deles absurdos -, do emagrecer a qualquer custo para parecer bem, do dedo na garganta após as refeições e todo o arsenal de atitudes desmedidas que, estas sim, comprometem a saúde e colocam em risco a própria vida.

É assim que, de repente, uma jovem modelo apresenta uma infecção urinária que evolui para septicemia e óbito. Do mesmo modo acontecem casos extremos de anorexia cujo tratamento não é nada fácil. Ou, para ficar no mais rotineiro a simples não aceitação do que somos, que se traduz no mal-estar que nenhuma roupa consegue evitar quando nos vemos no espelho.

A existência do belo realça o feio. O fato de vivermos na época do belo artificial, das imagens perfeitas porque retocadas, faz do belo falseado uma meta inatingível.   Cria-se dessa forma uma nova escala entre a beleza e a feiúra na qual aparências normais tendem a deslocar-se na direção do feio. A partir daí não há como se evitar comportamentos e hábitos ditados pelo modismo, pelo império das aparências.

Como certa vez disse Pascal, “nous sommes embarqués”.

Estamos, mesmo, embarcados em curiosos processos de existência.