Favela da Rocinha at Blog Ayrton Marcondes

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Não foi para isso que criei o meu filho

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Com essas palavras e chorando muito, uma mãe transmitiu toda a sua agonia aos repórteres que a circundavam. A cena se passou defronte à recepção do Hotel Intercontinental, São Conrado, Rio de Janeiro. Dentro do hotel marginais haviam feito reféns, um deles rapaz de pouco mais de vinte anos de idade, filho da mulher acossada pelos repórteres.

A ação começara pouco antes. Os marginais, traficantes de drogas, voltavam para a favela da Rocinha e deram com a polícia. Durante o tiroteio que se seguiu uma mulher que descia de um táxi foi baleada e morta: depois se soube que ela trabalhava para o tráfico. Pouco depois a mãe pediu ao filho que se rendesse. Tendo ele se negado ela postou-se à frente do hotel, desesperada, aguardando a ação da polícia. Repetia que esse era o seu filho, que apesar de tudo o amava e concluía:

- Sou mãe. Vocês me entendem, não?

Algum tempo depois os marginais se renderam. No meio do grande alívio de hóspedes e funcionários do hotel que passaram a ser abordados pelos repórteres em busca de detalhes da ocorrência, ficou ali a mãe para quem a manhã de sábado fora de todo pungente e, talvez, incompreensível.

Era uma mulher que afirmava trabalhar honestamente e amar ao filho em qualquer circunstância. Algo de muito grande dera errado em seus planos para o filho, por isso chorava tanto.

As cenas do lamentável episódio correram o mundo e entraram nas nossas casas, sem nenhuma cerimônia, como se fossem parte de um filme cujo enredo é conhecido e não nos diz respeito. De estranho e fora do script só a imagem de uma mulher chorando por um filho levado pelo crime, talvez irrecuperável.