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Sem assunto

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Pouco se fala sobre isso hoje em dia, mas é clássico entre cronistas diários fazer assunto justamente da falta de assunto. Acontece quando o mundo parece ter-se tornado plano e nada nele se destaca suficientemente para chamar a atenção. Convém dizer que esse fato depende quase que inteiramente do estado de espírito do escriba de plantão o qual, por vezes, mais se parece com esses bolos encruados que saem do forno tristemente malparados.

A verdade é que há inúmeros assuntos e pouca vontade de dizer algo sobre eles. Podemos começar pelo aumento de IPI que privilegia apenas carros importados. A medida do governo está dando o que falar e muita gente não se conforma com a mudança súbita das regras do jogo, tanto que algumas revendedoras de carros estão  partindo para a via judicial no sentido de proteger os interesses delas. Do lado do governo a explicação é a de que é preciso proteger a indústria nacional coisa com a qual nem todo mundo concorda. Como resultado verifica-se uma corrida às revendedoras nas quais os estoques de veículos ainda não reajustados estão acabando.

Outro tema que confunde a opinião é a questão da saúde que afeta milhões de pessoas. Por um lado há a revolta dos médicos contra os planos de saúde pelas baixas remunerações que recebem pelos serviços prestados. De fato, chega a ser aviltante o pagamento com que é contemplada a maior parte dos procedimentos médicos, inclusive os cirúrgicos. Devido a isso os médicos pararam um dia em protesto. Essa greve foi mal vista por todo mundo, sendo que os cidadãos se perguntaram o quê, afinal, têm eles a ver com a briga entre médicos e os planos de saúde. Se é verdade que a classe médica vem sendo explorada pelos grupos responsáveis pelos planos de saúde, daí o seu justo protesto, também é que a população não pode pagar por isso. Outro assunto do mesmo ramo é a ainda em pauta criação de um imposto para fazer frente ao rombo no sistema de saúde pública. O péssimo atendimento à população requer investimentos no setor e o governo confessa não dispor de meios para isso, daí a necessidade do imposto. Tema em aberto que, no momento, conta com a recusa dos parlamentares do Congresso em aprovar a nova tributação porque ela representaria mais um grande ônus no país onde se pagam mais impostos no mundo.

Dias trás tivemos a greve dos coveiros e pessoas ligadas a serviços funerários em São Paulo. Foi um Deus nos acuda porque morre gente todo dia e tornou-se impossível atender à demanda de enterros. Agora a situação parece ter voltado ao normal.

O restante dessas linhas seria para falar sobre corrupção, mas isso não, agora não. Assim, termino com um alô sobre o “Rock in Rio” no qual milhares de pessoas se reúnem para assistir e ouvir música. O evento é de fato grandioso e sensacional, chamando a atenção o poder de mobilização ao alcance de toda gente que promove e participa dos shows. Não deixa de ser interessante ver a multidão repetir gestos mais ou menos programados, entregando-se ao delírio das apresentações das bandas. Pelo que este que vos fala se pergunta por que não acontece a mesma coisa em relação a interesses coletivos, às medidas impositivas e tantas vezes discutíveis do governo, à absurda corrupção que corre solta no país e assim por diante? Por que milhares de pessoas não se reúnem para protestar e exigir direitos que são de toda gente que trabalha e faz do país o que ele é?

Tentar responder a isso cobraria muitas elucubrações, além do que talvez não se chegasse a grande coisa. Daí que me despeço, sem mais assunto.