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A missão do padre Calleri

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Há 50 anos, no dia 26de novembro de 1968, o jornal “Folha de São Paulo” noticiava sobre a chegada a Manaus do mateiro Álvaro Paulo da Silva. O mateiro era o único sobrevivente da expedição do padre João Calleri na Amazônia. Essa expedição fora organizada em função da construção da rodovia Br174 - Manaus- Boa Vista - em cujo trajeto se localizavam os índios waimirins-atroaris.

Calleri partiu de Manaus com a missão de fazer contatos amistosos com os atroaris. O grupo era formado por onze pessoas, nove homens e duas mulheres. A princípio as relações com os índios foram amistosas. Entretanto, segundo o relato do único sobrevivente, o padre Calleri teria agido com teimosia e rudeza, despertando a ira dos índios que acabaram por massacrá-los. Álvaro abandonara a expedição um dia antes do massacre e salvara-se por verdadeiro milagre em meio à floresta.

Em 1998 o padre Silvano Sabatini publicou o livro ”Massacre” no qual aborda o malogro da missão Calleri. Segundo Sabatini, Calleri foi ao encontro dos índios consciente de que tinha 50% de possibilidades de retornar vivo. Calleri entendia que, caso não fosse, os índios viriam a ser totalmente exterminados quando da construção da estrada. Mas, Sabatini concluiu que, na verdade, Calleri e seu grupo não foram vitimados somente pelos índios. Comandados por um mateiro, brancos e índios atacaram e mataram os membros da expedição. A ação teria sido orquestrada pelo pastor americano Claude Lewitt.

Entretanto, a morte de Calleri serviu como pretexto para que os waimirins-atroaris viessem a ser quase exterminados. De 3000 índios em 1968 a população foi reduzida a 332 em 1983.

O episódio de 1968 remete-nos ao momento atual no qual empresários, índios e parlamentares se mobilizam para uma nova fase de conflitos em torno da exploração de terras indígenas. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, sugeriu que os índios usem suas reservas para obter royalties de hidrelétricas e de outros projetos.

Casos de invasão e desmatamentos ilegais em áreas indígenas acontecem com regularidade. Há três anos, no Maranhão, índios gamelas foram atacados por homens munidos de armas e facões. Na ocasião treze indígenas foram feridos. De todo modo conflitos acontecem em torno da demarcação de áreas indígenas. Interesses diversos estão na base de uma situação ainda longe de que venha a ser resolvida.