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A euforia dos EUA

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Osama bin Laden está morto e sua morte coloca, finalmente, uma lápide sobre os acontecimentos daquele infausto 11 de setembro de 2001. Os longos anos de perseguição ao terrorista e as circunstâncias da invasão à mansão onde ele se escondia no Paquistão estão sendo, vagarosamente, esclarecidos pelo governo norte-americano. Por outro lado, o acontecimento desperta, em todo mundo, verdadeiro tsunami de comentários nem sempre concordantes. Aqui se discute o fato de que a verdadeira Justiça não foi feita em relação a bin Laden dado que o mais correto seria prendê-lo para posterior julgamento. Em outra parte fala-se sobre o que de fato representa a morte do grande terrorista de vez que seu discurso e métodos de ação não partem com ele. Há quem condene o fato do cadáver de Bin Laden ter sido jogado ao mar em desrespeito aos cuidados que os mulçumanos dedicam aos mortos. Entre tantos outros comentários destacam-se os que não descartam retaliações de terroristas aos EUA e ao Paquistão e mesmo os que não veem sentido algum nas comemorações do povo norte-americano que saiu às ruas após o anuncio da morte de Bin Laden. Para esses últimos não há o que comemorar: os EUA assassinaram friamente o terrorista, daí ser impossível endossar ato como esse ordenado por um governo.

Não é possível prever o futuro, mas é de se pensar na reação de um leitor das notícias de hoje, decorridos 80 anos do fato. Talvez então, o mundo tenha se tornado muito menor do que já é e ninguém consiga se esconder por tanto tempo, driblando os eficientes serviços de investigação de vários países. Ainda assim, torna-se possível imaginar que ao suposto leitor do futuro todo esse estardalhaço em relação à morte de Bin Laden careça de sentido. Afinal, por que os homens do passado empenharam-se tanto em relação ao desaparecimento de um criminoso? - poderá se perguntar o nosso futuro leitor.

Creio que, partindo desse raciocínio, o fato em si, a aprovação quase unânime da ação das forças dos EUA e as próprias comemorações possam ser explicadas, revelando-se o seu significado. Quase seria desnecessário dizer que os fatos envolvendo a personagem bin Laden têm a duração de dez anos. O terrorista tornou-se famoso no episódio de 11 de setembro e de lá para cá foi declarada a chamada “Guerra ao Terror” em nome da qual muitas barbaridades têm ocorrido. De certo modo a morte de bin Laden simula encerrar um grande capítulo nessa história de combate terrorismo. Momentaneamente, não importa o fato de que o terror não termina com a morte daquele que era conhecido como o Nº 1. Acrescente-se a isso a dor do povo norte- americano que, além de sofrer com a destruição de um de seus mais importantes ícones e a morte de cidadãos inocentes, desfruta, nesse exato momento, da sensação de vingança e justiça realizada. Não por acaso o The Washington Post estampou em sua primeira página a manchete “Justice has been done”, acompanhada do subtítulo: ”U.S. Forces kill Osama bin Laden”.

Ora, quase nada disso alcançará ao leitor do futuro que não assistiu às terríveis cenas dos choques de aviões contra as torres gêmeas no momento em que ocorreram. A emoção ligada aos fatos, infelizmente, não poderá alcançá-lo e sabe-se lá que impressão terá ele desse período da história do mundo.

Com esse arrazoado ouso discordar daqueles que condenam a momentânea euforia do povo norte-americano. Têm, lá, eles as suas razões para colocar para fora algo que estava entalado nas suas gargantas. A atitude crítica em relação à euforia mais parece à daquele leitor do futuro que ao qual faltarão os detalhes do calor da hora, do modo de ser de um povo no momento em que suas mais arraigadas convicções foram seriamente abaladas. Não é demais lembrarmo-nos de que o episódio de 11 de setembro serviu aos americanos do norte como revelação de algo que desconheciam, ou seja, do ódio a eles dedicado por outros povos pelas atitudes hegemônicas de seus governos, tantas vezes absurdas e, com terríveis consequências para os países periféricos.

Não sou americanófilo e não endosso assassinatos. Jamais acreditei em desfecho diferente para o caso bin Laden que, queira-se ou não, mais cedo ou mais tarde ia dar nisso. Confesso, entretanto, que diante da magnitude do ataque de 11 de setembro e das ações terroristas em todo o mundo não me vejo em situação de assumir posição crítica em relação à alegria que tomou conta do povo norte-americano nas últimas horas.