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Pensar grande

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Vi na TV um economista aconselhando a empresários pensar grande. Na opinião dele os empresários que ficam muito presos aos problemas diários de seus negócios e cujo olhar não ultrapassa os limites das janelas das empresas estão fadados ao insucesso. Crescer, disse ele, exige visão, pensamento positivo, boas escolhas, enfim, pensar grande.

Nos meus tempos de faculdade conheci um rapaz que falava muito em pensar grande. Era um sujeito ativo, dotado de energia formidável, desses capazes de falar grosso até mesmo nos tempos da ditadura. Pelo que depois que se formou ele logo se arrumou e bem. Chegou a ocupar cargos públicos de relevância até ser atingido por denúncias que não se sabe ao certo se verdadeiras. Ainda assim nunca perdeu o jeito. Para ele o velho ditado sempre foi válido: quem foi rei nunca perde a majestade.

Confesso que não sei bem o que significa o tal “pensar grande”. Conheço pessoas que sempre enxergam um obstáculo em tudo que encontram pela frente. Para elas sempre existe um “mas”. Caso seja preciso levar o carro ao mecânico esse simples fato já se configura a priori o pior dos mundos. Parece que sobre a cabeça dessas pessoas paira nuvem que de instante para outro pode provocar uma tempestade. Talvez esses sejam aqueles que de fato pensam pequeno.

Falo sobre esse assunto quando leio que os EUA cortam estímulos em sua economia, ignorando os países emergentes. A reação imediata é a alta do dólar. Acredito que a minha posição de cidadão em relação a isso deve ser a de preocupação com os negócios do meu país e os reflexos sobre a economia das famílias que lutam por uma vida melhor. Esse seria o pensar grande, não? Mas, de repente me pego preocupado com o valor da moeda norte-americana cuja alta vai dificultar as viagens ao exterior. E se, por acaso, eu tiver alguma oportunidade de viajar, como ficarão os meus gastos pessoais diante das novas cotações do dólar? Bem, isso talvez seja mesmo o caso de se pensar pequeno, quem sabe egoisticamente.

Pois existe uma diferença enorme entre o público e o privado, entre as ações coletivas e o salve-se quem puder. Quando você deixa de confiar no seu governo e observa que a política empregada por ele vem deteriorando a economia do país, eis aí situação em que você passa a pensar em si mesmo, ignorando qualquer participação coletiva.

Outro dia um amigo me falava sobre aquela campanha que se chamou “Ouro para o bem do Brasil”. Aconteceu em 1964 e o povo atendeu ao chamado para ajudar ao país. Nas praças públicas das cidades, nos coretos, instalaram-se urnas nas quais as pessoas depositavam peças de ouro que seriam usadas para melhorar a situação geral. Meu amigo lembrou-se de que seus pais doaram não só suas alianças de casamento com toda peça de ouro que tinham em sua casa. Eu mesmo assisti em cidade do interior ao movimento de pessoas que compareciam espontaneamente para fazer suas doações. Uma banda de música ao lado do coreto saudava aquele momento de fé dos brasileiros.

Pensava-se grande, então. Agora me diga por que diabos alguém doaria hoje em dia alguma coisa para o bem do Brasil.