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O menino Sean

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A foto do menino Sean, chegando à embaixada dos EUA, é constrangedora. Ele aparece abraçado a um parente e é protegido pelo braço do advogado que cuida do seu caso.

Sean está ali para ser entregue ao pai norte-americano, o que deve ter ocorrido há pouco por que expirou-se o prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal para que isso ocorresse. A história do caso todo mundo conhece: a mãe do menino morreu, ele vive com os avós no Rio e o pai reclama seu pátrio direito sobre o filho.

A decisão do STF teve grande repercussão não só no Brasil como na imprensa internacional. Um acordo econômico que estava suspenso nos EUA enquanto a situação do menino não fosse resolvida, foi fechado após a decisão do STF. Os avós de Sean dizem que o Brasil trocou o menino pelo acordo. Os noticiários da televisão norte-americana falam sobre o caso usando o tom de menino roubado do pai.

No centro de tudo isso está Sean. Olhem para o rosto dele na foto: verão uma criança assustada, agarrada a um parente, olhando temerosa para aquilo que o aguarda, talvez perguntando-se por que tinha de ser assim justamente com ele.

Sean tem só 9 anos de idade. A essa altura deve já estar com o pai dentro da embaixada e voará, o mais depressa possível, para os EUA. Fica o seu rosto de choro, espécie de repúdio, provavelmente inconsciente, não contra o pai que o quer, não contra a família que procura retê-lo, não contra a Justiça que se ocupa do seu caso: é contra a sorte, contra a vida do modo que ela está se apresentando a ele que fecha o seu semblante.

Olhem para o menino da foto.

A destruição de um sonho

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Os dois são jovens. Casaram-se há pouco tempo, começo de vida, sabe como é. Moram em apartamento alugado e vêm juntando suas economias para comprar o seu primeiro imóvel. São bonitos, cara de gente boa, esperançosos, confiantes. Ainda não têm filhos, mas assim que a vida estabilizar…

A história do casal é igual à de tantos outros, até mesmo a de quase todos nós, mais velhos, que experimentamos, no passado, essa fase de nossas vidas. Também um dia precisávamos comprar um apartamento e muita gente há de se lembrar do BNH (Banco Nacional de Habitação) de ruidosa memória.

Bem. Para a compra de um imóvel o casal de jovens bonitos tem à sua frente um obstáculo: os dois trabalham, mas ainda não conseguiram juntar os 20% do valor do imóvel necessários para obter financiamento. É aí que entra nas suas vidas um cidadão, proprietário de uma empresa que facilita as coisas. Já não será preciso tanto dinheiro de entrada, o que eles têm é suficiente. É desse modo que fecham o negócio, passam o dinheiro ao cidadão que, obviamente os enrola durante algum tempo (a eles e a outros) e certo dia simplesmente desaparece.

É desse modo que fico conhecendo o casal. Eles aparecem no jornal da manhã de um canal de televisão, relatam a sua tragédia e esperam que se faça justiça. A imagem dos dois me constrange. São bonitos, mas não se observam em suas faces os esperados sinais de confiança e esperança. Eles foram traídos talvez pela sua juventude, inexperiência e por confiar num ser que não é digno de pertencer à comunidade das pessoas de bem.

Desligo a televisão me sentindo culpado por não poder fazer alguma coisa, por ter certeza de que o trambiqueiro vai acabar se arranjando, isso se chegar a ser encontrado e preso. Caso isso aconteça alguma lei, algum bom comportamento, alguma coisa relacionada a ser primário, alguma necessidade de diminuir a superlotação carcerária, enfim qualquer pretexto legal vai devolvê-lo às ruas e a novos golpes.

E dizer que o trambiqueiro que promete facilitar financiamentos de imóveis pratica um tipo de crime hediondo que é ainda maior que o de lesar: o de destruir o sonho das pessoas.

Meio-dia e a imagem dos jovens lesados pelo trambiqueiro não me sai da cabeça talvez porque veja neles um pouco do que já fui. É quando me lembro desse tal Bernard Madoff, o financista americano que foi condenado a 150 anos de prisão pela fraude de cerca de 65 bilhões de dólares. Nos EUA o condenado só pode ser solto após cumprir 80% da pena o que significa para Madoff morte dentro da prisão. 

O trambiquiero que desapareceu é mesmo um cara de sorte: ele vive no Brasil. Daí que fico com o articulista de um jornal que confessou, dias atrás, sentir inveja dos EUA quando da condenação de Madoff.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 julho, 2009 às 11:59 am

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