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Pichando Drummond

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Pobre poeta que nem depois de morto é poupado. Será que poetas mortos devem ser punidos nas madrugadas de fim-de-ano? Que relação tácita terá se estabelecido entre a poesia e o mal a ponto do poeta ser condenado a pagar pela eternidade a boa lavra de sua caneta?

Eis que um casal, enviado das profundezas do inferno, surge para profanar a memória do grande poeta. Os dois se aproximam da estátua do localizada na orla de Copacabana e, um após o outro, cobrem a face e o corpo do poeta com tinta. São meliantes, hábeis em disfarçar a ação que perpetram. Com curtos passos movem-se naquele jeito de quem não quer nada, um vigiando enquanto o outro picha. Assim, estupidamente, escancaradamente, profanam uma imagem que é uma das atrações públicas do Rio de Janeiro.

Carlos Drummond de Andrade certamente não previu que seria uma pedra no caminho desses dois pichadores. Quando escreveu seu célebre poema não imaginava que poderia se voltar contra ele e de modo tão infame.

Mas, os dois pichadores não imaginavam que sua ação pudesse ser gravada e vista por toda gente. Eis que foram flagrados por uma câmera de segurança. O vídeo da ação está na internet e a essa altura já se sabe quem são os pichadores. O que será que os espera nesse país onde de tudo se pode pelo menos um pouco?

Acho que se pudesse Carlos Drummond de Andrade abriria mão da homenagem que a ele fizeram na orla de Copacabana. Poetas também têm direito a descansar em paz, longe do mal do mundo, serenamente adormecidos. Aos quiserem procurá-los que se deixem perder nos seus versos, os mesmos versos mágicos que nos encantam a ponto de os dizermos de cor.

Vida longa aos poemas de Drummond e uma eternidade de paz ao poeta.