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Abaixo as vuvuzelas

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vuvuzelaImagino o que seja atravessar boa parte o mundo para assistir aos jogos da Copa do Mundo sob o ininterrupto ruído das vuvuzelas. A coisa é brava. Aquele som de fundo, constante, que se ouve durante a transmissão dos jogos pela televisão já é irritante. Ao vivo, então, como será?

Um amigo me responde: não queira saber. O que me deixa perplexo é o fato de um camarada pagar ingresso caro para ver um jogo e passar todo o tempo soprando uma vuvuzela. Vá lá que seja gostoso uma vuvuzelada ou outra; mas, o tempo todo? E o jogo?

Noticiou-se que a FIFA está decidindo sobre a proibição das vuvuzelas. São muitas as reclamações e existem os direitos daqueles que não querem ser atormentados com tanto barulho. Entretanto, o mal está feito: o novo instrumento existe e corre-se o risco de que seu uso se espalhe pelo mundo.

Aqui perto de casa tem um palmeirense proprietário de uma corneta. Cada vez que acontecia um gol do Palmeiras, ele saía à janela e nos agraciava com um solo longo e profundo. Depois o Palmeiras foi caindo, gols rareando e o torcedor decidiu vingar-se de todo mundo, cornetando até nos gols dos adversários. Foi o jeito que ele escolheu para protestar, há que se entender uma alma palmeirense ferida.

Mas, a coisa não parou por aí. O fato é que esse meu vizinho, torcedor do “Verdão”, tomou gosto pela sua corneta e passou a tocá-la toda vez que acontece um gol, em qualquer jogo. Ele não perde oportunidades para soprar o seu malvado instrumento cujo som entra nas nossas casas em tom de desafio do tipo “eu posso, ninguém me impede”.

É assim que agora, durante a Copa, estamos sendo duplamente prendados com o som das vuvuzelas e o da corneta do palmeirense, simultâneos.

Segundo meu amigo a minha bronca com as vuvuzelas está ligada à minha pregressa irritação com a corneta do meu vizinho. Não sei não, pode até ser.  Na verdade eu gostaria que este texto pudesse ser acompanhado do som da corneta que agora pouco soou aqui, ao lado da minha casa. Tenho certeza de que, então, você entenderia melhor o que estou dizendo.

Finalmente, rogo a atenção das autoridades brasileiras para que mandem vigiar aeroportos, portos e as nossas fronteiras no sentido de impedir a entrada de vuvuzelas no país. Que sejam criadas leis terríveis e aplicadas penas máximas aos empresários que produzirem vuvuzelas em território nacional. A vuvuzela é uma praga que se espalha, daí a obrigação do governo em impedir a sua disseminação. Além disso, já temos cornetas comuns, para que vuvuzelas?

Espero que me ouçam antes que todos fiquem surdos de tanto ouvir o barulho provocado pelas tais vuvuzelas.

Muito obrigado pela atenção.

Escrito por Ayrton Marcondes

15 junho, 2010 às 12:17 pm

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Os novos heróis nacionais

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Noite de domingo. A frente fria que fez cair temperaturas nos Estados do Sul chegou à região Sudeste. Ontem choveu, hoje tivemos tempo bom e frio.

Não só porque é noite de domingo – amanhã, bem cedo, a rotina nos espera – mas, também, porque faz frio, não saímos de casa e o jeito é ligar a televisão e dar uma olhada no que está acontecendo.

O grande assunto é a Copa do Mundo que está para ser iniciada.  Reportagens transmitidas diretamente da África do Sul caracterizam-se pelo esforço em apresentar o país sede da Copa aos brasileiros. Como não poderia deixar de ser o apartheid é a toda hora lembrado e as notícias giram em torno do contraste entre a minoria bem de vida e a maioria que vive em extrema pobreza. É sempre citado o esforço do governo sul-africano para melhorar as condições de vida da população. Brancos de ascendência inglesa mostram-se céticos quando entrevistados; negros dizem que o apartheid continua vivo.

Por vezes o assunto é a natureza, com ênfase para a fauna da África do Sul rica em animais como elefantes, girafas, rinocerontes etc. Entretanto, o grande destaque das reportagens transmitidas da África do Sul resume-se aos acontecimentos relacionados ao dia-a-dia da seleção brasileira. Mais que isso, engendrou-se na mídia uma forma de endeusamento dos jogadores que são apresentados como modelos de sucesso e verdadeiros heróis nacionais.

Sendo a maioria, senão a quase totalidade, dos jogadores oriundos de famílias pobres ou no máximo remediadas, não é difícil compor a trajetória de ascensão dos ídolos populares que defenderão a honra verde-amarela dentro das quatro linhas. Isso é feito com a participação das famílias dos jogadores, pessoas do povo, chamados a relatar a luta e o esforço de seus filhos ou parentes para chegar a jogar na seleção. Também importa a escalada a um status financeiro invejável: pessoas pobres e boas de bola que saíram de condições quase miseráveis para hoje jogar em grandes clubes da Europa, sendo pagos a peso de ouro pelos seus chutes ou defesas.

Nada haveria contra esse tipo de reportagem não fosse ela a exploração banal de sucessos merecidos, mas que não servem como exemplo aos milhões de deserdados que nenhuma oportunidade têm - ou talvez nunca terão - de modificar, ainda que minimamente, suas situações financeiras.

Afinal, a quem interessa a história pessoal desse ou daquele jogador que hoje ganha rios de dinheiro e transitoriamente foi convocado para jogar pela seleção nacional? O que se está a ver, não passa da exploração da imagem de ídolos populares que, por mais que se queira, continuam sendo jogadores de futebol, excelentes em suas profissões, mas jogadores.

O Brasil passa por fase de ufanismo excessivo e perigoso, fato verificado em várias áreas. É como se tudo estivesse se ajeitando depressa e problemas tão conhecidos deixassem de existir. Uma corrente de ufanismo é sempre boa quando nascida de expectativas naturais; entretanto, esse movimento goela abaixo, a forma descabida de apresentar o que se faz em prol do país como realizações espetaculares nada têm de sério e produtivo.

Por fim, o futebol nada tem a ver com isso tudo. Resumindo: jogador joga; nós torcemos. O resto é figuração ou exploração pura e simples da paciência dos espectadores.

A questão dos horários do futebol

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Está na ordem do dia a discussão sobre os horários de realização dos jogos de futebol. Como se sabe, os horários são determinados pelas redes de televisão: os jogos noturnos só começam depois do fim das novelas. Na prática isso quer dizer que os juízes só apitam dando início às partidas perto das dez horas da noite.

Para os torcedores trata-se de um horário infame pelas dificuldades em relação a meios de transporte, situações de perigo ligadas à violência e o fato de trabalharem no dia seguinte. Entretanto, a situação já perdura desde longo tempo o que leva os críticos mais inflamados a falarem em ditadura dos canais de televisão.

Ditadura ou não, a raiz do problema é o patrocínio da TV aos jogos de campeonato. Os clubes de futebol precisam do dinheiro oriundo do patrocínio e, por isso, se submetem às exigências dos canais de televisão. O mesmo acontece com as federações às quais os clubes se filiam. No fim tem-se um negócio com a participação de vários interessados no qual só existe um prejudicado: o torcedor.

Acontece que a imposição de horários prejudica os cidadãos. Considerando-se que canais de televisão dependem de concessões governamentais, tem-se aí um quebra-cabeças a ser resolvido pelas chamadas autoridades competentes.

É dever do Estado zelar pelo interesse comum da população e espera-se que alguma coisa seja feita, se possível de consenso e sem prejuízo para o futebol. Nos últimos dias políticos tem-se manifestado sobre o assunto, criticando a televisão e colocando-se ao lado dos torcedores. De modo geral, estima-se que o limite máximo para o início das partidas noturnas seja o de 21 horas. Além disso, as críticas têm sido reforçadas citando-se as exigências feitas pelos canais de televisão no último carnaval. O que se diz é que por conta dos interesses da televisão em relação a anúncios comerciais verificaram-se grandes atrasos, prejudicando as escolas de samba e o público que assistia aos desfiles.

É sobre esse assunto que se espera atitude dos órgãos governamentais de modo a que o equilíbrio de interesses, particularmente o da população, seja preservado. Enquanto isso, teremos que esperar o fim da novela para torcer pelo time de nosso coração. Para quem sai de casa muito cedo isso é, de fato, uma tortura.