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A voz do Mário

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Não sei dizer se primeiro li Macunaíma ou se assisti ao filme de 1969. Desconfio ter visto o filme dado que nunca me esqueci de Grande Otelo na pele do “herói sem nenhum caráter” em busca do precioso “muiraquitã”. Inesquecíveis as cenas do safado índio Macunaíma a repetir o que parecia ser para ele uma senha: “ai, que preguiça”.

Tal o perfil do “herói de nossa gente” atraído pela cidade grande e pela máquina no texto de Mário de Andrade. Do livro guardei a estrutura não linear, o surrealismo, a escrita propositalmente corruptiva de normas gramaticais dado o herói escrever e falar conforme fala a nossa gente das ruas.

Do poeta de “Lira Paulistana” guardei os versos do homem que amou profundamente a sua cidade, escrevendo naquele “Quando eu morrer…”:

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

O grande Mário de Andrade, membro do “Grupo dos Cinco” que engendrou a revolução modernista e 1922. Sua obra até hoje inquieta seus leitores que se perguntam sobre quem, afinal, terá sido esse homem, morador da Rua Aurora, romancista, poeta, musicólogo, folclorista, pesquisador e tantas coisas mais.

De Mário restaram as imagens que nos olham de suas fotografias e os depoimentos daqueles que o conheceram. Mas, agora, eis que o vulto ganha novas formas. Descobriram-se na universidade de Indiana gravações da voz de Mário de Andrade, ora cantando modinhas coletas do folclore nordestino, ora falando sobre elas. O homem das fotografias ganha voz, articula-se, aproxima-se de nós, revive. A sonoridade de sua bela voz, a agilidade e perfeição de seu discurso deixam de estar apenas impressas na páginas dos livros e ganham vida através dessa importante descoberta.

Sempre penso no que viria a ser a possibilidade de uma viagem no tempo em direção ao passado. Dizem que isso é impossível, mas como seria fantástica a proximidade com pessoas desaparecidas que nos deixaram sinais vigorosos das suas existências.

Alegrai-vos: Mário de Andrade fala.