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Variantes de campanha eleitoral

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Recebi, por email, o link de vídeos com os pronunciamentos de José Serra e Dilma Roussef ao empresariado, em São Paulo. Gentileza da amiga Guta, filha de enormes amigos, que terminou o email ponderando a quem assistisse aos vídeos que julgasse quem poderia vir a ser melhor presidente da República.

Vá lá que não se possa ter definição do perfil do melhor candidato apenas por um pronunciamento: há que se levar em conta fatores como temática, ocasião etc. De modo que deixo de lado minha a opinião e recomendo aos interessados acesso ao link que me foi gentilmente enviado:

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ele-e-candidato-ela-e-candidata

Mas a campanha prossegue. Dilma abriga-se sob o manto de Lula e faz promessas em sintonia com o governo. Serra parece ter-se assustado com o empate em intenções de voto recentemente divulgado pelo Datafolha e tem partido para o ataque. Os jornais de hoje chamam a atenção para uma declaração mais bombástica do candidato tucano. Segundo ele afirmou a Bolívia é cúmplice de traficantes.

A intenção de Serra ao dizer coisa assim é justamente criticar o governo Lula e o modo de estabelecimento de parcerias do Brasil com países da América Latina. Por outro lado, a declaração gerou protestos de autoridades bolivianas: o embaixador da Bolívia no Brasil exigiu que Serra apresentasse provas.

Como se diz por aí, o circo está em plena função. Nós, eleitores, conhecemos bem esse caminho, sabemos que a temperatura vai esquentar. De minha parte só sinto que a campanha eleitoral ocorra justamente no ano das eleições presidenciais. Nesse sentido me pergunto a quem melhor servirá uma possível vitória do Brasil. A primeira impressão é que seja um prato quente para o governo e sua candidata. Entretanto, vale lembrar que estamos falando sobre política, território onde tudo pode acontecer.

A ver quem vai faturar com a vitória ou a derrota do Brasil na Copa do Mundo.

Os multi-ideológicos

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No seu excelente “Dicionário de Filosofia”, Nicola Abbagnano faz longa digressão sobre a definição de ideologia. Ele ensina que, em geral, o termo refere-se “a toda crença usada para controle de comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença, em seu significado mais amplo, como noção de compromisso ou conduta, que pode ou não ter validade objetiva”.

Abbagnano acrescenta que o significado de ideologia consiste em sua capacidade de controlar e dirigir o comportamento dos homens em determinada situação. Isso representa que princípios ideológicos arraigados interferem no modo de agir das pessoas dentro das circunstâncias em que agem. Derivam daí comportamentos que observamos, ditados por essa ou aquela crença.

Recentemente o presidente da República declarou-se multi-ideológico. Justificando a sua posição o presidente afirmou:

“Um chefe de Estado não é uma pessoa, é uma instituição, não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis”.

Essa posição, talvez útil no trato com diferentes situações e governos, pretende caracterizar uma situação multi-ideológica apensa não ao homem que assim professa, mas ao cargo que ocupa. Seriam as necessidades maiores do Estado a sobrepujar as do homem que é servidor dele; cabe ao servidor deixar de lado a vontade própria, aderindo momentaneamente a vertentes ideológicas que se chocam desde que contribuam para levar a cabo acordos que sejam possíveis.

O assunto é palpitante e está a merecer análises mais profundas. De que o mundo globalizado exige de autoridades maior cintura nas negociações, sem o que emperrariam as relações entre países, não resta dúvida. Mas, como entender, do ponto de vista pessoal, a adoção de um perfil multi-ideológico?

As campanhas para as eleições presidenciais que se aproximam constituem-se em terreno fértil para a análise de comportamentos. Já surgem as primeiras inversões de posições ideológicas sobre assuntos polêmicos. Teses ardorosamente defendidas no passado sucumbem à necessidade de mudança, adotando-se posicionamentos mais caros à opinião popular. De repente o que está em jogo é o interesse maior da conquista de eleitores.

Talvez a atenção à reafirmação ou negação de princípios ideológicos expressos anteriormente sirva ao eleitor para decidir com mais confiança o seu voto nesse ou naquele candidato.

A paternidade das obras públicas

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a-paternidade-das-obras-pablicasAno eleitoral se presta para a divulgação dos feitos dos candidatos que, por esse meio, procuram demonstrar suas eficiências políticas e administrativas. Entre nós não importa muito que obras públicas sejam realizadas com dinheiros arrecadados da população através de uma das maiores tributações cobradas em todo o mundo. Desse modo, obras de interesse comum são entregues à população como se tratasse de uma espécie de favor: o contribuinte recebe algo pelo qual pagou para ser realizado e deve estar agradecido àqueles que tornaram possível a concretização do projeto.

Não se está a desmerecer os méritos dos governantes que mostram visão ao optar por tal ou tal obra que contribui para o bem estar comum. O fato é que, infelizmente, a história do país é rica em desmandos que envolveram gastos enormes aos cofres públicos e não deram em nada. Estradas abandonadas e a Paulipetro são bons exemplos de gastos absurdos e desnecessários. Daí que elogios aos governantes que cuidam da coisa pública com probidade são mais que merecidos.

Atualmente vive-se uma maratona de inaugurações, mesmo de obras ainda incompletas. O governo federal, empenhado na candidatura de Dilma Roussef, anunciou o PAC 2 mesmo enfrentado críticas sobre os resultados do PAC 1. Mas, é preciso mostrar à população que este é um governo que realiza, obviamente visando às urnas de outubro.

Por outro lado, em São Paulo, inauguram-se obras, destacando-se o Rodoanel, ainda que levemente incompleto. É a resposta da candidatura de José Serra ao governo federal.

Existe, portanto, uma disputa a céu aberto. O mais recente episódio dessa disputa está sendo exibido agora na televisão: propaganda do governo federal atribuindo-se parceria nas obras realizadas e São Paulo, com destaque para o Rodoanel.

Mas isso é só o começo porque as campanhas eleitorais estão engatinhando. Há muita coisa por acontecer, inclusive disputas acaloradas sobre a paternidade do que é realizado com o dinheiro público.

Quem viver verá.

Eleições presidenciais

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Se levarmos em conta os indícios da largada, as estratégias a serem adotadas no embate entre José Serra e Dilma Roussef parecem determinadas.

Serra provavelmente fará uso de uma linha menos agressiva, atuando num plano superior que é o da discussão dos interesses do país. Terá que ralar duro para conter a língua e não reagir enfaticamente a ataques, deixando as respostas para os membros do PSDB. Para isso favorece-o certo ar elitista que na verdade é uma faca de dois gumes: esse é justamente o aspecto que mais o afasta do chamado povão. Isso quer dizer que tornar-se simpático e igual será para Serra um divisor de águas.

Dilma tem contra si o fato de não ter um passado político que dê a ela grande visibilidade, credibilidade e projeção. Todo mundo sabe que ela é achado do presidente, o principal cabo eleitoral dela. As realizações são do presidente e do peso da popularidade dele dependerá o desempenho eleitoral candidata. Trata-se, portanto, de um curioso caso de possibilidade de transferência de crédito que tem muita chance de não dar certo. Sem passado político relevante e pouco simpática resta a Dilma o ataque baseado na comparação entre os governos FHC e Lula. Daí que se lê diariamente por aí que a comparação não leva a nada simplesmente porque FHC não é candidato. Entretanto, pesa a favor de Dilma a idéia de continuidade de algo que vai dando certo, a tal história de que não se mexe em time que está ganhando.

Supérfluo dizer, mas gostaríamos de um embate no qual pudéssemos observar, com clareza, o perfil e as verdadeiras intenções dos candidatos. Mas, sendo a política também a arte de dissimulação, isso dificilmente acontecerá: nesse jogo tudo é possível, até o vale-tudo embasado em radicalismos extremados.

Outro dia ouvi alguém dizer que se trata do duelo entre dois antipáticos. Não creio que se chegue a tanto. Claro que estamos longe do charme das competições entre políticos do porte de Jânio Quadros e Adhemar de Barros, por exemplo. Mas eleição é eleição, surpresas não podem ser descartadas e as campanhas estão apenas começando.

Vamos torcer pelo menos por um jogo limpo e esclarecedor, afinal o que interessa é um país onde possamos viver bem.

Subindo a Serra

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Não é a toa que Minas Gerais é conhecida como “Terra das Alterosas”. Quem sai de São Paulo em direção a Minas, viajando de carro, percebe que tem que subir para chegar ao coração daquele Estado.

Subir sempre foi mais difícil que descer. Essa verdade banal pode ser constatada ontem pelo governador de São Paulo, José Serra, na festa do centenário de Tancredo Neves. Festa mineira das boas, com aquelas que são feitas ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São João Del Rei. Aliás, é em São João Del Rei, no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, que está enterrado Tancredo Neves, um dos maiores protótipos do jeito de ser mineiro.

A “mineiridade” é um enigma de muitas faces, daí ser impossível saber-se quando ela está em plena função ou não. Ontem José Serra e Aécio Neves estiveram juntos na homenagem a Tancredo. Serra está para ser o candidato do PSDB à presidência da República e o ideal é que Aécio venha a ser o seu candidato a vice. Mas, Aécio não se decide, continua naquele devagar bem mineiro, o devagar que não diz dizendo, sem dar certeza de nada. É como navegar e ter a direção do barco, mas fazendo com que os passageiros pensem que a embarcação está à deriva.

Na festa mineira chega a hora de Aécio falar e o público explode naquele grito que ecoou em todo o Brasil: “Aécio presidente”. Isso na presença de José Serra. Aí o Aécio faz o que tem a fazer: gesticula, pedindo ao público que se contenha em sua manifestação.

Quem assistiu à cena haverá de interpretá-la a seu modo. Tem gente falando sobre a indefinição do PSDB e suas conseqüências eleitorais; há quem destaque a divisão dentro do partido. Prefiro ficar com a mineiridade de Aécio e sua ambição velada de vir a ser presidente da República. Isso está no sangue, faz parte da tradição mineira, que ninguém se engane porque mineiro dos bons não precisa dizer, ele simplesmente estampa.

Por fim, sai o Brasil prejudicado porque, a essa altura precisaríamos de definições que dessem início a um debate produtivo para o país. Mas, que não se atribuam culpas aos dois governadores que não conseguem chegar a um entendimento. Culpa, se existe, pertence ao sistema eleitoral que permite reeleições ou aos homens que o implantaram. Não fosse assim, os tratos seriam mais fáceis: Serra é mais velho, iria agora; na próxima eleição seria a vez de Aécio.

Afinal, foi assim durante muito tempo, não? Voltaríamos à política café-com-leite com os naturais revezamentos entre São Paulo e Minas Gerais na presidência da República.

Nada disso sendo possível, resta-nos esperar para ver no que vai dar.  Isso, evidentemente, dependendo do chamado “fator Lula”.

A língua dos políticos

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Numa semana de troca de farpas entre governistas e oposicionistas não há como não se render à evidência de que não se deve esperar muito da próxima campanha eleitoral em termos de propostas para o país.

As infeliz afirmação do presidente do PSDB, dizendo que os tucanos acabarão com o PAC por se tratar de uma ficção,  forneceram oportunidade para que o presidente da República e sua candidata se manifestassem, de maneira bastante imprópria: o presidente dizendo que  “quer fazer a campanha do quem sou eu e quem és tu”, a candidata afirmando que a vitória dos oposicionistas representará o fim dos programas sociais em andamento no atual governo, com prejuízo para as classes menos favorecidas.

Sem ao menos entrar no mérito da eficácia de programas como o PAC evidencia-se, mais uma vez, a grande dicotomia de um país capitalista no qual a disparidade social e econômica é por demais acentuada e, talvez, decisiva em termos eleitorais. O discurso da ministra obviamente dirige-se ao chamado “povão”, massa imensa de brasileiros desvalidos e eleitores os quais, sob ameaça de retirada das benesses assistencialistas a eles hoje disponibilizadas, não terão dúvidas sobre em quem votar nas próximas eleições. Não importa que as camadas mais letradas detectem um lamentável sofisma nas palavras da candidata – os jornais de hoje caem de pau sobre o pronunciamento dela. O que verdadeiramente importa é que o recado certeiro da candidata chegará ao seu público alvo, em sua maioria não dado a interrogações mais profundas que aquelas ligadas à sobrevivência imediata.

Mas que não se enganem aqueles que esperam dos políticos da oposição atitudes mais coerentes. Revides do mesmo nível e acusações contra o caráter de seus oponentes ocorrerão, infelizmente para o país. A pouco sutil afirmação do presidente do PSDB terá sido apenas uma “overture” da campanha que já se inicia.

Em um de seus textos o antropólogo Darcy Ribeiro dizia que a dor que mais doía a ele era a de envelhecer temendo que os jovens de seu tempo tivessem que repetir, no futuro, que o Brasil é um país que não deu certo.

Que o espírito de Darcy Ribeiro descanse em paz: o Brasil vai dar certo, estamos já a meio caminho disso. Acontece que talvez a realização do grande sonho demore mais do que seria esperado dado o perfil da classe política atualmente em atividade.

Mas não devemos nos preocupar: essas pessoas passarão e o país seguirá forte, imenso e fértil, livre das mentiras de ocasião e das personagens menores, cumprindo o destino que dele se espera.

Não tenham dúvidas quanto a isso.

A política de hoje

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Sinceramente não invejo os colunistas diários de jornais cujo assunto é a política brasileira. Gente… Os caras são obrigados a uma atividade cansativa que, imagino, não dê a eles nenhum prazer. Vejam-se lá as idas e vindas de opiniões, as afirmações seguidas de negativas peremptórias, os disfarces e conchavos, a falsidade dos discursos, a corrupção, as traições ideológicas e, principalmente, o habitual descaso pelo bem público solapado por interesses menores.

Estamos assistindo nesse momento à agitação que precede as candidaturas que concorrerão à presidência da República no próximo ano.  Meu Deus haja estômago! De um lado o presidente da República com sua mal disfarçada campanha em prol de sua candidata, levando a várias partes do país uma caravana ufanista, creditando-se realizações pessoais nunca antes alcançadas por nenhum homem público “deste país”. De outro, o tucanato indeciso que não sabe bem o que dizer ao povo para desmontar o espetáculo propiciado pelos homens do governo.

Os jornais são férteis em comentários que buscam desmascarar o presidente, apontando seus exageros e frases infelizes. Também não perdoam a oposição que, com justiça, querem mais atuantes. Mas a maior parte do povo não lê jornais e nem mesmo se interessa pelo noticiário político da televisão. No Brasil de hoje a política está desacreditada justamente pelo comportamento de grande parte dos homens públicos do país. Veja-se o caso da desobediência do Congresso Nacional a uma determinação do Supremo Tribunal Federal. Quem tem razão? Em qual instituição podemos confiar?

À margem dos homens o Brasil cresce, seguindo a sua vocação de ser grande.  Às vezes penso no Brasil em termos de prosopopéia, transferindo a ele sentimentos e voz. Pois, pudesse o Brasil falar, que diria? Que dores choraria ele pelas matas devastadas, animais em extinção, alta criminalidade, falcatruas a céu aberto, mentiras proclamadas, riqueza e miséria contrastantes? Que alegrias externaria em função de suas belezas e progressos?

Diz a letra de uma música que o Brasil não conhece o Brasil. Conhece sim. Decorridos mais de 500 anos desde o descobrimento, o país deixou de ser adolescente e assume ares de maioridade. Ele tem consciência de sua imensidão, pensa grande e abre o jogo dando a conhecer riquezas até então escondidas. De repente, não mais que de repente, o grande país impressiona com fabulosas reservas energéticas bem próximas de sua orla marítima. De repente, não mais de que de repente, ele sente pairar sobre o seu território a atmosfera de autossuficiência. E assim vai.

É preciso discutir se o Brasil está crescendo pela ação dos homens ou apesar deles. Obviamente o assunto é controverso e de difícil conclusão. Mas acredito que seja um dos pontos de partida quando o que está em jogo é o destino de milhões de pessoas.

É aí que entram os colunistas que tratam da política, os sociólogos, os cientistas políticos e toda gente que tem espaço para opinar sobre os destinos do país. Diante de um governo que canta vitórias e uma oposição até agora ineficiente cabe aos analistas um estudo mais profundo e ordenado da situação. E não importa a impressão de que as suas palavras possam ser inúteis e nada venham a resolver: é preciso buscar caminhos e apontá-los.

O Brasil agradece.