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Presidentes

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Quando Deodoro proclamou a República e tornou-se o primeiro presidente iniciou-se a rotina constitucional de realização de eleições e mudanças de mandatários a cada quatro anos. Mais tarde tornou-se possível a reeleição fato que nos brindou com dois mandatos seguidos ocupados por um mesmo presidente.

Talvez não exista exagero em se dizer que nos últimos anos a aura em torno dos homens que ocupam a presidência tem decaído. Não será demais lembrar que a presidência é o mais alto cargo público do país, daí pretender-se que os seus ocupantes as honrem e façam jus ao cargo para o qual foram eleitos. Daí estarem sempre estudiosos e pesquisadores às voltas com quadriênios do passado nos quais tais e tais presidentes realizaram seus governos.

De fato, olha-se com muito respeito o governo de presidentes que se notabilizaram por suas ações de governo, mesmo aquelas que, sob o escrutínio da posteridade, revelaram-se inadequadas. Ainda hoje perdura a curiosidade sobre o curto governo de Delfim Moreira, tomado pela doença que o levava a prolongadas “ausências” daí as medidas essenciais serem tomadas por seu ministro Afrânio de Mello Franco.

Na mesa de almoço de minha casa muito ouvi falar sobre Getúlio Vargas que tornara ao governo em 1950. Respeitava-se Vargas, ainda que em seu novo período fosse assolado pelas críticas de Carlos Lacerda e ações intempestivas de seus acólitos. O suicídio Vargas, em 1954, foi chorado por multidões. Ia-se um ícone da história do país.

A renúncia do “homem da vassoura” em quem se depositara tanta confiança estremeceu o país. A Jânio atribuiu-se a loucura pelo gesto inexplicável. E veio do Sul aquele Brizola em campanha que resultou na posse do Jango, então vice-presidente.

De 1964 para cá o país experimentou longa ditadura na qual generais se sucederam no poder. Até a abertura e a redemocratização.

Por tudo isso passamos. Devagar o grande país foi-se, a duras penas, sobrevivendo, erguendo-se. Até os anos recentes nos quais uma fabulosa e bem engendrada rede de corrupção lançou manchas sobre o governo, afinal derrotado na última eleição.

Nos dias de hoje ocupa a presidência um político que até a pouco não tinha maior expressão. Nesse homem milhões de brasileiros depositaram confiança, esperando por dias melhores. Entretanto, com pouquíssimo tempo no cargo o novo presidente ainda não teve oportunidade para mostrar a que veio. Críticas em relação a algumas de suas atitudes avolumam-se.

Não custa lembrar que ainda é cedo para julgamentos tão definitivos como os que correm por aí. Afinal, existem exemplos na história mostrando que, em muitos casos, não é o homem que faz a presidência, mas, sim, ela que os faz.

As revoluções

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No “Houaiss“ o vocábulo revolução, em sentido político, é definido como “movimento de revolta contra um poder estabelecido, feito por um número significativo de pessoas, em que geralmente se adotam métodos mais ou menos violentos; insurreição, rebelião, sublevação”.

No Brasil a turma dos descontentes costumava descaracterizar a “Revolução de 64”, também conhecida como “A Redentora”, taxando-a de “quartelada”. Movimento incruento, realizado por militares, não seria revolucionário. O poder foi tomado, o presidente João Goulart deixou o país e o resto todo mundo sabe. Quanto a número significativo de pessoas envolvidas e métodos violentos, não há notícia de que tenham sido expressivos naquele 31 de março de 64. A violência viria algum tempo depois, de ambos os lados, e o assunto ainda hoje dá pano para manga. Países vizinhos que viveram situações semelhantes encararam mais de frente o problema envolvendo torturas, desaparecimentos e terrorismo. Por aqui se pretendeu, com a anistia, sepultar memórias e condicionar uma paz de espírito impossível. O resultado é que o assunto continua vivo. Hoje mesmo lê-se nos jornais a notícia de que um procurador militar do Rio quer examinar papel de agentes das Forças Armadas no desaparecimento de quatro militantes ao tempo da ditadura. Para o procurador esses casos não estão prescritos e não aplica, em relação a eles, a Lei de Anistia de 1979.

Cada um terá as suas lembranças sobre o período da ditadura no Brasil. Para mim vários momentos ficaram gravados e talvez mais tarde eu me proponha a recordá-los. Por ora, basta um deles relacionado ao significado do termo revolução. Naquele 31 de março eu era um aluno de primeiro grau, estudando em colégio de cidade do interior de São Paulo.  Acontecido o Golpe de Estado que colocou fim ao governo democrático de Jango seguiu-se prontidão e movimentação de tropas em todo o Brasil. Na cidade em que eu estava existia – e ainda hoje – um quartel. Dele saíram soldados em direção ao Rio de Janeiro, viagem que não se completou devido ao mau estado dos veículos utilizados. De modo, que quando se entendeu irrevogável o Golpe Militar, voltaram os briosos soldados, até então estacionados na Via Dutra, ao quartel de origem.

Ora, naquela época os efeitos da Guerra Fria faziam-se sentir pesadamente no continente dada a liderança inconteste dos Estados Unidos. O receio do avanço do comunismo, a ânsia por desenvolvimento, progresso, paz política e redução da carestia contribuíram para que, num primeiro momento, o Golpe Militar fosse muito bem visto pela população. De modo que, quando os soldados voltaram, entraram na cidade triunfalmente, sendo recebidos com muito carinho e aclamados pelo povo. Voltavam como heróis e com tal carapaça desfilaram pelas ruas.

A isso assisti e testemunhei. Creio que o fato dá ideia das dificuldades de momento para a união de forças no sentido de executar uma verdadeira revolução.

Tudo isso me vem à memória no momento em que ditaduras do norte da África enfrentam movimentos de oposição. Enquanto no Egito o ditador Mubarak viu-se obrigado a renunciar, na Líbia o ditador Muammar Gaddafi declara que só deixará o governo se morto. A desordem toma conta de cidades líbias e a revolta é duramente reprimida pelo governo. Civis são bombardeados e estrangeiros encontram dificuldades para deixar o país.

Revoluções. Longas ditaduras do mundo árabe podem ruir pela força das revoluções.