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Depois da festança

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Fraudes, corrupção, quando os homens públicos do país vão tomar jeito?

Você viu o desfile da turma do Distrito Federal ontem na televisão? Aquilo não foi perfeito, foi mais que perfeito. Os acusados de corrupção vieram a público para justificar-se. E não se deram por achados: apresentaram razões mais que estapafúrdias.

Foi um show de caras-de-pau, com direito a óleo de peroba, lustra-móveis e tudo o que dê brilho à madeira bem tratada das faces que se apresentaram sem nenhum rubor.

Tudo limpo, perfeito, honesto e mais: o que víamos eram pessoas flagradas por gente mal intencionada, produzindo cenas deliberadamente incriminatórias. Lembra-se daquele dinheiro limpo colocado dentro das meias? Pois ele teve, finalmente, uma explicação: o cidadão que o escondeu nas suas vestes agiu desse modo por não fazer uso de bolsa e, principalmente, visando a sua segurança pessoal.

Assim, tudo está explicado, tudo justificado. Nenhum mal-estar e quanto à vergonha, deixa prá lá.

Não sei o que estarrece mais: os vídeos dos atos ilícitos ou as imagens dos envolvidos explicando  os deslizes que cometeram.

Interessante: o quase geral silêncio da classe política. Explica-se: num ambiente em que todo mundo tem rabo, o melhor é não falar mal do rabo dos outros.

Dinheiro público carregado nas meias

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Em matéria de corrupção o Brasil é pós-graduado. Não bastam os atos ilícitos em si: vez ou outra eles são ilustrados com tristes imagens de corrupção explícita. Mas, evolui-se: o dinheiro passou de dentro das cuecas para o interior das meias.

Uma coisa é tomar conhecimento de que fulano de tal é corrupto, tendo praticado tal e tais deslizes; outra é assisti-lo ao praticar o ato, na mesma dimensão que se presencia, por exemplo, uma cena de sexo explícito.

A intimidade de um crime, quando exposta, estarrece e indigna. Além disso, faz de quem a presencia partícipe de um momento de degradação. Existe a natural revolta diante do ato; há a crítica feroz ao que é inconcebível; mas, também vigora a desilusão com a natureza humana e a parcela de vergonha que nos cabe por um erro gravíssimo que, pelo menos em parte, nos faz sentir culpados.

Culpados? De quê? O cidadão mete a mão no dinheiro público e eu tenho lá alguma responsabilidade em relação ao ato dele? Pois é. Mas, esse cidadão pode ter sido eleito pelo meu voto, eu posso tê-lo levado, degrau por degrau, ao cargo que atualmente ocupa, tendo por obrigação zelar pelo bem público. Também não custa lembrar de que o mesmo cidadão pode ter sido acusado, no passado, de atos ilícitos que não levei a sério, achei que não eram graves e resolvi ignorá-los na hora de votar. E aí está o resultado. Então, sendo honesto comigo mesmo, caso tenha agido assim, devo assumir a parte que me toca nesse triste espólio.

Meu caro eleitor, as eleições vêm aí. Você que sempre se pergunta por que neste raio de país o voto é obrigatório, você que preferiria ficar em casa ao invés de comparecer à sessão na qual vota, você que não acompanha política, você que recebe algum tipo de ajuda do governo e acha que vive no melhor mundo possível, você que recebeu promessa de emprego de um candidato, você não pode ignorar o fato de que é um cara muito importante. O seu voto, meu caro, pode mudar muita coisa, no mínimo mudar a cara dos corruptos ou determinar um rodízio entre eles. Portanto, pense muito bem no que estará fazendo na hora em que entrar naquele cubículo onde está a urna ou o aparelhinho em que se digitam os votos.

Olhe, não estou dizendo tudo isso a você gratuitamente. Acontece que a primeira coisa que vi hoje foi a cena do presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente, recebendo dinheiro do então presidente da Codeplan (empresa do DF), Durval Barbosa. Veja só: o Prudente foi de uma imprudência total porque recebeu o dinheiro das mãos do Barbosa e enfiou parte nos bolsos, parte dentro das meias. Foi exatamente essa cena, a de um político enfiando notas de reais nas meias, locupletando-se com dinheiro público da maneira mais grosseira e explícita possível, que me fez sentir envergonhado.

Quem gravou a cena? O Barbosa. Aliás, também foi ele quem gravou a cena do governador Arruda recebendo aquele dinheiro que, segundo se diz, era para comprar panetone para os pobres.

Depois disso tudo, o mínimo que posso desejar a você é um bom dia.