Dilma entre deveres e conchavos at Blog Ayrton Marcondes

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Se eu fosse presidente…

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Olha aí que não seria nada fácil assumir a presidência da República. Há quem se apegue às vantagens do cargo: mordomias, viagens grátis, séquito de servidores adivinhando os desejos do presidente, presentes, vantagens, enriquecimento de filhos e até passaportes especiais para os familiares. Mas, convenhamos, isso não é lá muita coisa, exigindo-se de quem está no cargo certo grau de surdez e acomodação para que o presidente possa ser uma pessoa feliz.

Faltou dizer, no parágrafo anterior, que um dos atributos exigidos para que o presidente possa ser feliz é, também, o de ser meio cego, o suficiente para não ler o que se escreve sobre ele e seu governo. Note bem, tudo isso se o presidente fizer mesmo questão de ser feliz. O outro lado disso é a realidade, os deveres do cargo, o respeito pelo povo e pelo próprio país. Pois é, o diabo é que a realidade nua e crua em geral impede que a pessoa que ocupa a presidência seja realmente feliz, tantos os problemas a enfrentar.

A quem discordar do que se disse até aqui se recomenda dar uma olhada na situação de momento da atual presidente da República. Meus amigos, a grande verdade é que ela está numa sinuca de bico. Prensada pelos deveres a seus correligionários, abrigada sob a incômoda sombra de seu mentor que se recusa a sair de cena, obrigada a proteger um ministro que se não explica o seu enriquecimento, derrotada em votação no Congresso, a presidente certamente toma consciência de que terminou a sua lua-de-mel no cargo que ocupa. É, pois, chegado, para a presidente, o momento de escolher entre a felicidade – à custa de surdez, cegueira e acomodação – e o enfrentamento da realidade que, certamente, vai roubar a ela muitas horas de sono.

De fato, há que existir muita surdez e cegueira para não saber o que corre por aí. É impossível ignorar  comentários do tipo a presidente sumiu, seu padrinho cresce enquanto ela desaba, a prometida transparência  e rigidez contra desvios não passou daquela retórica de políticos desacreditados a que estamos, infelizmente, habituados.

Meu caro, ser presidente não e nada fácil. Eu ? Nem pensar em me envolver num embrulho desses, daí que inexiste, ainda que em sonhos, a hipótese de raciocinar em termos de “se eu fosse presidente”. Daí que o que me resta é recorrer às biografias de pessoas que ocuparam cargos importantes e neles se revelaram, justamente nos momentos de crise. Pois é nos momentos de crise, quando todos estão mais envolvidos com interesses pessoais que públicos, neles é que se revelam os verdadeiros líderes, aqueles que deixam de lado as facilidades e conchavos e partem para o enfrentamento de situações nas quais é preciso defender os interesses públicos, sempre acima de exigências pessoais e partidárias.

Dispõe, nesse exato momento, a presidente da República da singular oportunidade de firmar-se no cargo e ocupar o lugar que a ela é reservado na história do país. Firmeza, pulso, transparência, defesa intransigente dos interesses públicos e da própria República. Se agir assim, certamente descontentará muita gente e deixará de lado a felicidade fácil daqueles que optam por contemporizar. Alcançará, por outro lado, felicidade maior que consiste no respeito dos brasileiros e o reconhecimento da posteridade.