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Pra Marancangalha

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Tudo cansa, até o interminável noticiário sobre ocupação dos morros no Rio. Tá bom, as coisas andam, que bom. O Exército vai atuar como força de paz, legal. Mas, as intermináveis entrevistas, o detalhamento de ocorrências… O pior é a repetição que acontece por atacado, em todos os canais.

O telefone toca. Atendo a moça da Telefônica que me oferece um plano novo, vantagens incríveis, como é que estou fora disso? Abro a caixa postal e sou atacado por uma montanha de envelopes, todos com assuntos comerciais. Nada de pessoal, só contas a pagar e ofertas de produtos a preços especiais para o natal que está chegando. No meio de tudo uma cartinha de pessoa doente que vive num asilo e pede que eu me lembre dos pobres e desvalidos com uma pequena contribuição.

O interfone toca. É o zelador para falar sobre o vizinho de baixo que reclama de um eterno vazamento, consertado não sei quantas vezes sem resultado. Penso em dizer que talvez por trás disso exista alguma ação terrorista, na água que escoa pode haver um veneno infiltrado, vindo do céu para matar todo mundo e, assim, redimir os pecados. Mas só resmungo, prometo chamar o encanador, mas não aquele que conversa demais e sempre fala na filha que vive com um cara que ele detesta e um dia vai matar.

Ligo o computador e descubro que o dia tornou-se radicalmente contrário a mim. Forças do mal estão agindo em todos os setores, a verdade é que estou cercado. O computador não passa do boot, o Windows não carrega, meu Deus, preciso enviar uns e-mails agorinha, é coisa de responsabilidade. Não posso ficar na mão de uma máquina rebelde que talvez esteja cansada de mim, das minhas esquisitices e agora se nega a me ajudar, talvez o conteúdo dos e-mails desagrade a esse monte de fios e cabos, sei lá.

Preciso sair, mas espero a minha mulher chegar porque não posso deixar sozinho o pintor que está às voltas com a massa corrida da parede da sala. Olho para o relógio, ando de um lado para outro nessa manhã de pura barbárie, na qual tudo teima em dar errado. É quando o telefone toca de novo e fala uma moça da agência de viagens, dizendo que dispõe de ofertas incríveis para o Natal e o ano Novo. São lugares maravilhosos onde eu serei mais feliz que na Passárgada do Bandeira. Conheço a moça, na última viagem foi ela quem cuidou de tudo, então me sinto a vontade para dizer a ela o que quero nesse exato momento:

- Minha filha, eu quero mesmo é ir pra Maracangalha, não importa o preço, você pode providenciar isso?

Escrito por Ayrton Marcondes

3 dezembro, 2010 às 11:19 am

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