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O fim está próximo

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Alegrem-se: o fim está próximo. Em pouco tempo todo esse falatório, as marchas e contramarchas eleitorais farão parte do passado e poderemos dormir em paz. Alguém será eleito para o cargo de primeiro mandatário do país e sob os ombros desse alguém pesará a responsabilidade de reerguer a economia do país e melhorar a condição de vida de milhões de pessoas.

A gente não se dá conta de que hoje os brasileiros já passam da conta de 200 milhões de cabeças. Em 1970 éramos 70 milhões, veja-se como fomos operantes nessa coisa de gerar filhos. Pois entre esses mais de 200 milhões de homens, mulheres e crianças reina uma desigualdade social que levará décadas para ser melhorada, isso se os “alguéns” que ocuparem a presidência se derem ao trabalho de se preocupar com a situação.

Mas, o problema atual, o nosso problema, é a escolha do “alguém” da vez. Eis que dispomos de três opções. A primeira é a atual governante que pertence a um partido que de fato melhorou as condições de vida de muita gente, mas que se perdeu num mar de corrupção; a segunda é uma candidata sobre a qual pesam sérias dúvidas quanto aos procedimentos que terá caso venha a ser eleita; o terceiro é um ex-governador aprovado pelas chamadas classes médias e alta.

Não sei dizer quanto a você, mas comigo acontece ficar meio nervoso quando fico sozinho diante da urna. Até chegar lá me parece que nada daquilo tem importância. Mas, na hora de apertar o botão, a minha consciência pesa, a responsabilidade me cobra atitude coerente.

Nos últimos dias resultados de pesquisas são publicados a toda hora dando-nos conta das inclinações de momento do eleitorado. Temo dizer que talvez possamos ter alguma surpresa quando os votos forem apurados. Muita gente se verá em diálogo com a própria consciência na hora em que estiver junto da urna. Afinal, todo mundo sabe que o país precisa de ajustes.

O cortador de cana relata

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É um rapaz moreno, gente boa, conversador do tipo que puxa assunto. Quer porque quer ser agradável. A certa altura pergunta:

- Quantos anos o senhor acha que tenho?

Olho o rapaz de alto a baixo e respondo:

- Você tem mais ou menos 30, acho que é por aí.

Ele sorri. Depois diz que está acabado, tem só 21 anos. Acrescenta que o que acabou com ele foi o serviço de cortador de cana:

- É duro, muito duro. O dia inteiro debaixo desse sol do nordeste. E para ganhar o que se ganha…

Interessado, pergunto:

- Diga aí, quanto se ganha?

- Depende. Se a pessoa trabalhar na usina recebe o salário mínimo. Agora, se o trabalho for para fornecedor o salário depende da produção. É assim: o serviço é contado pelo número de feixes de cana cortados, cada feixe pesando 10 Kg. Para cada 100 feixes a gente recebe 8 reais.

- Mas - digo a ele – 100 feixes de 10 Kg correspondem a uma tonelada.

- Então, senhor, veja aí: um bom cortador, dos melhores, consegue duas toneladas e meia por dia, o que dá 20 reais. Mas, isso se o cara for muito bom.

- Quanto produz um cortador, em média? – pergunto.

- A maioria se acaba com uma tonelada e meia.

- Ou seja, em média um cortador de cana ganha 10 reais por dia – concluo.

Ele me olha demonstrando alguma tristeza e diz:

- É. Porém, acontece que a balança do cara que pesa não é das boas, sabe? Ela nunca dá os 10 Kg para o feixe que pesa. Daí que nem sempre se chega aos 10 reais por dia.

A conversa termina aí. Penso em 10 reais por dia de trabalho, nos 300 reais de salário mensal e em homens cortando cana debaixo de sol inclemente. Penso, ainda, nas estradas de terra esburacadas e nos homens que trafegam por elas, em geral em velhas bicicletas, no escuro, voltando dos canaviais. Por fim, penso no Brasil, na imensidão territorial do país, nos povos que habitam as suas terras, nos discursos dos homens que detêm o poder e em mim mesmo, impotente e despreparado para compreender tão grande desigualdade.