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Temores na velhice

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Quando se fica velho? Não existe data marcada. Aos cinquenta, sessenta, aos setenta, depende de cada um. Há quem diga que a velhice começa quando a dor aparece.

Pesquisa do Datafolha informa que os brasileiros não temem a morte. O s temores dos idosos relacionam-se com dependências física, mental e econômica. Existe o horror a tornar-se dependente, não ao de simplesmente morrer.

Tornar-se dependente de alguém é de fato um horror. A dependência física é terrível, seja com a dificuldade ou impossibilidade de se locomover, sejam as limitações para alimentar-se ou cuidar-se sozinho. Em relação à dependência mental eis, entre outros, o fantasma da Doença de Alzheimer. O progressivo apagamento das memórias e a triste condição a que se é levado no período final da doença realmente aterrorizam.

Mas, em nosso país a dependência financeira talvez seja a que mais precocemente assuste. O problema está ligado à previdência e aposentadoria. Ao parar de trabalhar o aposentado passa a contar, mensalmente, com valores muito inferiores aos que recebia enquanto em atividade. Por outro lado, sabe-se que o Estado de modo algum pode arcar com os custos da previdência, daí a urgente necessidade de reformas nesse setor. Entretanto, não há como resolver o problema da queda de padrão de vida entre os aposentados. Idoso e sem condições de continuar na ativa resta ao idoso enfrentar situações que chegam a ser humilhantes. A queda de padrão acontece justamente no momento em que surgem os inevitáveis problemas de saúde, consequentes ao desgaste do organismo.

Medo da morte? Talvez o resultado da pesquisa, negando o medo da morte, se relacione com algum conformismo diante do inevitável. Aos setenta anos de idade pode-se olhar retrospectivamente ao passado e constatar a proximidade do fim. O peso de temores como os já apontados, a chegada de limitações tantas vezes irreversíveis, as dificuldades de superação de obstáculos antes mais facilmente transpostos, a ameaçadora possibilidade de dependências inaceitáveis, tudo isso concorre para pelo menos um olhar mais sereno em relação à morte.

Semana passada faleceu um professor de quem fui aluno em meu curso de graduação. Fora excelente profissional ao longo de sua vida, preparando gerações de alunos para o futuro exercício de suas profissões. Já entrado em anos o professor foi subitamente vitimado por um AVC que o prostrou ao leito, tirando dele todo o controle sobre si mesmo. Nesse estado permaneceu por poucos meses até que a morte colocou fim a seu sofrimento.

Há pouco tive a oportunidade de ver uma fotografia do professor, já em seu período final de vida. Ao vê-la lembrei-me do homem em atividade, ministrando suas aulas em laboratório, pleno de energia e longe de suspeitar qual seria a natureza de seu fim de vida. O contraste entre minhas lembranças e a dura realidade mostrada na fotografia impactou-me.

O fim da vida em idades mais avançadas reserva situações das quais queremos a todo custo ser poupados. Talvez por essa razão a morte nos surja como a boa amiga que figura no horizonte para colocar fim ao sofrimento. Mas, enquanto ela não vem o que nos resta é torcer para uma vida longa e boa, longe dos temores que tanto nos incomodam.