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Delatores

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A delação premiada tem sido utilizada por muita gente. Quando o cerco se fecha sobre alguém e torna a essa pessoa praticamente impossível safar-se das denúncias que sobre ela pesam, delatar é o caminho. Pela deleção alcança-se minorar anos de condenação e, mesmo, conseguir cumprir pena em prisão domiciliar.

A operação Lava-Jato colocou atrás das grades pessoas acima de qualquer suspeita. As delações abriram caminho para a elucidação de crimes de natureza econômica sobre os quais agora pesa a força da lei. Os brasileiros têm assistido a impressionantes relatos sobre corrupção, com desvios de montantes fabulosos de dinheiro. Há que se concordar que, por mais que o delator venha a ser beneficiado, sem a sua confissão as investigações não prosseguiriam.

Entretanto, há que se pensar na figura do delator. Afinal quem é ele? Que tipo de pessoa se propõe a entregar seus comparsas, visando a obtenção da própria liberdade?

Existem aqueles que talvez prefiram a morte a tornarem-se delatores. Sobre uns poucos envolvidos nos casos de corrupção sabe-se que eles se mantêm em silêncio e, talvez, nunca virão a abrir a boca. Fidelidade ideológica? Enquanto isso outros lutam para que suas deleções sejam aceitas.

O ex-ministro Antônio Palocci, homem forte durante o governo Lula, deixa a prisão e passa a cumprir sua pena em prisão domiciliar. Para conseguir essa mudança Palocci serviu-se da delação premiada, incriminando membros de seu partido, inclusive o ex-presidente agora recluso.

Por detrás de fatos como esse fica a pergunta sobre a convicção política do homem que delata. O certo é que em momentos passados o cidadão, que hora entrega seus pares, foi membro atuante dos atos corruptos que agora expõe. Quando da realização desses atos teria a personagem em questão alguma postura crítica em relação ao que se estava fazendo?

Não será simples, aliás até mesmo impossível, penetrar na alma de um homem que hoje delata. Difícil acreditar que o faça por arrependimento ou em prol do bem comum. O que se diz é que se trata, nada mais, de enredo construído para salvar a própria pele.

Mas, os cadáveres ainda estão frescos e só num futuro distante talvez possamos vir a ter alguma luz sobre esses tenebrosos dias.

A delação

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Assisti ao filme “Trumbo” e me impressionei com a cena na qual o grande ator Edward G. Robinson delatou seus amigos da indústria cinematográfica ao Comitê de Atividades Antiamericanas. Era a transição dos anos 40 para os 50 do século passado. Terminada a Segunda Guerra Mundial iniciara-se a Guerra Fria. Nos EUA cresceu a paranoia da infiltração do comunismo e comunistas passaram a ser perseguidos. O senador Eugene McCarthy liderou a caça aos comunistas que, delatados, eram submetidos a interrogatórios diante da Comissão.

Dalton Trumbo foi um roteirista de cinema, conhecido como um dos 10 amais de Hollywood.   Brilhante e extremamente produtivo era, também, comunista. Em seu interrogatório negou-se a responder quando questionado e acabou condenado à prisão. Quando saiu, sem emprego, acabou escrevendo roteiros para um pequeno produtor de filmes B. Mas, fez, também bons roteiros. Ganhou dois prêmios Oscar que não pode receber porque usara pseudônimos: ninguém se arriscaria a colocar o nome de Trumbo nos filmes daquela época.

Trumbo já estava preso quando Edward G. Robinson entregou o seu nome durante interrogatório da Comissão. Mais tarde Robinson diria a Trumbo que precisava trabalhar e ninguém dava a ele emprego pela sua proximidade com comunistas. Demais - disse Robinson – a Comissão já dispunha dos nomes por ele citados.

Hoje divulga-se que o senador Delcídio Amaral optou pela delação premiada. O senador foi preso por ter proposto a fuga de Nestor Cerveró, via Paraguai, para fugir à operação Lava Jato. A delação de Delcídio estarrece e movimenta o mundo político do país. Por que um senador até a pouco líder do governo, ligado ao primeiro escalão e ciente de tudo o que se passa no âmbito político do país decidiu-se a entregar seus companheiros? Por que atingir até mesmo a presidente da República e o ex-presidente Lula?

Eis aí um caso no qual o envolvido vê-se entre se calar ou salvar a própria pele. Para o senador calar-se representaria assumir sozinho culpas que provavelmente entende nãos serem só dele. A isso some-se a possibilidade de vir a ser condenado e amargar bom tempo na prisão. Por outro lado, aderir à delação premiada torna-se uma espécie de salvação dado o abrandamento de penas que lhe seriam impostas.

Em espécie as delações de Robinson e Delcídio se assemelham embora as variantes não sejam as mesmas. Robinson queria trabalhar, recuperar seu lugar de astro nas telas. Delcício optou por sobreviver a qualquer custo, ainda que contribuindo para diminuir ainda mais a confiança em nossos homens públicos.