criminalidade crescente at Blog Ayrton Marcondes

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A segunda instância

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O Gaiola tinha dado golpe grande num clube de futebol de São Paulo do qual fora secretário. Eu o conheci anos mais tarde, depois que saíra da prisão. Era um rábula de talento. Militava num escritório, na capital, ocupando-se da defesa de todas as causas. O proprietário do escritório exercia várias atividades de modo que deixava ao Gaiola os rendosos casos que defendia.

A primeira vez que ouvi falar sobre o Gaiola foi através de meu pai que o fora visitar no presídio. Achara-o magro e um tanto abatido, embora melhor de saúde por estar afastado do álcool. Isso porque o Gaiola fumava bastante e tomava uns bons tragos.

Coisa impactante para quem o conhecia foi o momento da prisão do Gaiola. Ele foi surpreendido pela polícia em plena Av. São João, na capital. Repórteres fotográficos documentaram o momento: a foto do Gaiola saiu na primeira página do jornal “Última Hora”. Na foto ele demonstrava surpresa, olhos esbugalhados.

Não sei quantos anos o Gaiola cumpriu. Aliás, o apelido “Gaiola” viera do fato de ser preso. Mas, me lembrei do Gaiola agora, quando se divulga que o STF votou contra a prisão em segunda instância. Daqui para frente só irão para a prisão pessoas condenadas, mas só após se esgotarem todos os recursos possíveis de defesa. Hoje o Gaiola contaria com mais tempo sem ser preso.

O Gaiola pertenceu a um tempo no qual a violência existia, mas nem de longe seria comparável ao que hoje acontece. Não há dia em que não se recebam notícias alarmantes sobre episódios escabrosos. A vida deixou de valer qualquer coisa. Mata-se por matar, impunemente. Ao cidadão comum cabe cuidar-se e contar com a sorte.

É nesse contexto que devedores da lei passam a contar maiores possibilidades - e tempo - de não serem recolhidos à prisão. Verdade que a Constituição de 88, atualmente vigente, tem texto favorável à decisão tomada pelo STF. Mas, dá medo. A impunidade gera medo. Os crimes perpetrados geram horror.

Agora é esperar. Afirma-se que, a partir de agora, muita gente que está nas prisões será devolvida às ruas, gozando da prerrogativa garantida pela decisão do STF.

Os próximos meses darão a medida exata das consequências - ou não – da difícil decisão tomada pelas excelências do STF.

O garoto de 12 anos

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Crimes sempre impressionam. Alguns mais que outros por conta dos detalhes de sua execução. Vive-se a época de ascensão da criminalidade. Há medo. A próxima vítima pode ser você é tão real que cada um teme de fato ser o próximo.

A incontrolável sede de violência parece incontornável. Miséria, pobreza e déficits de educação compõem fértil caldo para ebulição de criminosos. Não há dia em que não se recebam notícias sobre assaltos, latrocínios, assassinatos, balas perdidas etc. E mortes. Inexplicáveis mortes que poderiam ser evitadas caso houvesse melhora das condições sociais e mais segurança. Mas, se mesmo as forças policiais são acuadas e cresce, entre elas, o número de suicídios de seus integrantes… O horror pode não ter limites.

Dias atrás um crime despertou a atenção pelo requinte de quem o realizou. Ao sair de uma sessão de exercícios físicos uma jovem, 19 anos, encontrou seu carro com o pneu furado. Um homem, solícito, ofereceu-se para ajudá-la. Do meio-fio o carro foi levado a uma chácara defronte, local onde se realizaria a troca do pneu. Mas, eis que o tão solícito homem era um criminoso há pouco saído de reclusão. O restante do caso soubesse depois. A moça despareceu. Em desespero a família acionou a polícia e puseram-se a procurá-la. Encontraram o corpo da moça enterrado na chácara. Depois prenderam o criminoso. Ele premeditara o crime, esvaziando o pneu para pegar a moça. Inenarráveis as cenas do pai da moça, inconformado com a brutal perda da filha.

Uma menina de 9 anos está na fila de um pula-pula. É uma festa escolar. Atrás dela um menino que mora na mesma rua que ela. Os dois costuma brincar e estudam na mesma escola. Ela tem dificuldade em se socializar. Há um ano foi diagnosticada com autismo e segue tratamento. Num momento a mãe deixa a menina na fila e vai, com o outro filho, comprar pipoca. Quando retorna já não encontra a filha.

Mais tarde o menino de 12 anos conduz a polícia até um lugar onde a menina é encontrada morta, amarrada a uma árvore. Está desfigurada. Apanhou muito e sofreu pauladas no rosto. Num dos braços traz amarrada uma meia masculina. Crime horrível, violência descabida, ato inumano contra uma criança. Mas, nos interrogatórios o menino acaba confessando ser o autor do crime.

Agora o garoto de 12 anos está na Fundação Casa, deixando, atrás de si, enormes questionamentos. Por que uma criança cometeria tal barbaridade? Será este um caso de desequilíbrio mental? O que fazer com um garoto de 12 anos que poderá, ficando livre, tornara cometer crimes tão hediondos?

O melhor é não ficar a par de acontecimentos como os aqui narrados. Eles nos tornam medrosos, ainda mais inseguros. Tememos por nós e pelos nossos. Pelos filhos, pelos netos, pela família. Pelas pessoas que conhecemos. Por aqueles que não conhecemos e nunca conheceremos. Pelas crianças. Pelo medo de que andem por aí outros garotos de 12 anos dispostos a cometer crimes.

Tempos de ódio

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É assustadora a maratona de notícias sobre atitudes odientas que diariamente recebemos. Maratona, sim, porque parece mais haver uma competição de tanta brutalidade gerada por toda sorte de ódios. Nesta semana, por exemplo, houve o caso de uma avó que vivia na companhia de seu neto. O rapaz saíra e deixara velhinha sozinha. Eis que um ladrão entrou pelo telhado e deparou-se com a mulher. Ato contínuo, matou-a a pauladas. O detalhe é que a velha senhora tinha 102 anos de idade. Que tipo de ódio levará alguém à barbárie de tão grande monta? De que infernos terá saído espírito tão maligno, capaz de tamanha atrocidade?

Aconteceu ainda nesta semana: um homem matou sua ex-mulher e a filha de poucos anos. Ato contínuo matou-se. Então? Paixões extremadas justificariam atitudes de tal envergadura?

O assunto segurança pública predomina sobre outros nos dias de hoje. Vivemos assustados, horrorizados. Crimes sem sentido repetem-se a toda hora. Semana passada um médico japonês foi fuzilado por um rapaz de 18 anos de idade. O médico retornava de uma pizzaria e, ao estacionar o carro, foi surpreendido por dois rapazes. Não teve tempo de soltar o cinto de segurança. Baleado, morreu. Do assassino, já identificado, sabe-se que desde os 11 anos rouba carros. Com várias passagens pela polícia o rapaz tornou-se perigoso criminoso. Segue por aí.

Nos programas televisivos exibidos no período da tarde sucedem-se narrativas de crimes, alguns deles macabros. Ao expectador os relatos podem soar incompreensíveis. Atitudes animalescas desafiam a ordem natural das coisas. Embasbacado o cidadão teme sair à rua.

Atravessamos a era do medo que, esperamos, venha a ter um fim. Sem garantias e à mercê do imprevisível nada mais nos resta que seguir em frente. Expondo-nos. Torcendo. Acreditando contar com a sorte.

Violência incontrolável

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O Ministro da Justiça declara haver corrupção no comando da polícia do Rio de Janeiro. A notícia nos deixaria estupefatos não fosse a interminável onda de corrupção e violência que atravessamos. A se comprovarem as declarações do Ministro fica-se à mercê de conluios entre policiais e traficantes. O homem comum não terá mais a quem apelar. Como confiar num sistema de segurança corrompido até mesmo na alta hierarquia da polícia, caso exista? O problema é que quem fez as afirmações não é qualquer um: trata-se do Ministro da Justiça.

No Texas um homem entra numa igreja e fuzila os fiéis durante cerimônia religiosa. Mata 26 pessoas e fere outras tantas. Depois foge, bate o carro e aparece morto. Não se sabe, ainda, se terá cometido suicídio. O celerado servira a força aérea do país e tinha 26 anos.

Dias antes, em New York, um terrorista, dirigindo um caminhão, invade uma pista de ciclismo, mata oito pessoas e fere algumas. Cinco dos mortos eram argentinos que estavam na cidade para comemorar os 30 anos de formados em universidade. Ferido e preso pela polícia o terrorista, de origem muçulmana, identifica-se como simpatizante do Estado Islâmico.

Há menos de um mês um atirador executou 50 pessoas que assistiam a um show de música em Las Vegas. Atirando, indiscriminadamente, contra a multidão o assassino suicidou-se antes da chegada da polícia ao quarto de hotel de onde ele perpetrou seu hediondo crime.

Em Goiânia um aluno da oitava série entra na sala-de-aula de mata dois de seus colegas, ferindo outros. Alega sofrer bullying, nisso a razão de sua ação. Os pais do atirador, dois policiais, nãos sabem o que fazer. As famílias dos adolescentes mortos em crise.

Enquanto isso a guerra diária na Favela da Rocinha segue adiante, fazendo mortos em combates com traficantes. Policiais morrem em enfrentamentos com traficantes. Semana passada um comandante da polícia foi assassinado pelos bandidos. Ontem um policial à paisana foi executado por um bandido.

Em 2016, 60 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, número que ultrapassa o número de mortes verificados em guerras que acontecem no mundo.

Semana passada uma jovem combinou, através de uma rede social, carona com um desconhecido para viagem até o Triângulo Mineiro. Não sabia ela que o tal era um bandido fichado cuja intenção era a de matá-la e roubá-la. O corpo da jovem foi encontrado com cabeça dentro da água. O assassino foi preso e narrou friamente à polícia como arquitetou e executou o crime.

Seguiria, interminavelmente, relacionando crimes e mais crimes que a toda hora são noticiados. Tanta violência nos leva a perguntar sobre o que terá acontecido com a natureza do ser humano. Desigualdade social, assassinatos em nome da fé e outras razões serão suficientes para explicar tamanho descalabro?

Afinal, o mundo tem volta?

Ladrões

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O que se torce é para que os ladrões sejam bonzinhos. Do jeito que as coisas andam, roubar até que passa, mas roubar junto com estuprar e matar pelo amor de Deus, ninguém merece. Latrocínio não!

Acontece que essa bandidagem em ação não passa de um grupo de desalmados. O menor empoderado com uma arma na mão faltou no dia em que ensinaram amor ao próximo. Por isso para ele é tão banal puxar o gatilho. Pum! Sai correndo e deixa o cadáver ensanguentado. Fosse no tempo do faroeste faria uma marca no revólver para cada assassinato cometido.

A senhora aposentada que volta do mercado, trazendo sacolinhas com compras, segue em direção à sua casa. De repente dois moleques a atacam. A idosa grita, corre. Um dos bandidos a alcança, encosta-a num carro e desfere várias facadas. A mulher morre e os dois fogem. Um deles, o que matou, é preso. Tem 17 anos. Na delegacia o menor entrega o parceiro que, voluntariamente, se apresenta ao delegado. Tem 18 anos. Aconteceu ontem, em Niterói.

Não sei se já repararam, de perto o bandido até parece normal, contrariando o que disse o Caetano. Ontem mostraram na TV o cara que, de dentro de presídio de segurança máxima, comandou o recente ataque na Rocinha. Olhando para ele, sinceramente, não dá para acreditar que aquele carinha é manda-chuva no mundo do crime.

Por essas e outras a gente cruza todo dia por aí com uns criminosos disfarçados de gente boa. Sorte que ao passarmos por eles estejam justamente nos seus momentos família. Daí que seguimos em frente, inteirinhos, sem nenhum sangue escorrendo, cabeça livre de balas perdidas e afins.

Nem sempre ladrões levam vantagem. Foi o caso de uma senhora que entrou numa loja narrando ter seu anel roubado. Estava ela num restaurante que foi invadido por três bandidos. Um deles, ao ver no dedo dela o belo anal que então usava, obrigou-a a retirá-lo, levando-o consigo. Então por que a senhora aparentava alguma felicidade? Acontece que o anel nada mais era que uma réplica sem valor. Enganou-se o ladrão supondo tratar-se de joia de grande valor.

Nesse ritmo vai-se vivendo. Num mundo onde cada vez mais vai se tornando difícil reconhecer entre bons e maus seres humanos resta-nos torcer pela sorte. Ou para que as autoridades enfim consigam reduzir a assustadora marginalidade que cresce diariamente em nossas cidades.