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Crimes hediondos

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Não sei se existem regras suficientes para classificar um crime na categoria de hediondo. Leio que para ser hediondo um crime não precisa ter sido cometido com crueldade e nenhuma compaixão. Segundo a lei nº 8.072/90 trata-se de crimes que merecem reprovação por parte do Estado. São aqueles mais graves, capazes de causar aversão e revolta.

Atualmente é tamanha a variedade de crimes praticados rotineiramente que fica difícil decidir se esse ou aquele é hediondo ou não. Nesta semana um sujeito deixou uma mala na calçada, defronte a portaria do prédio onde mora. Horas depois um carrinheiro interessou-se pela mala, mas, devido ao peso, decidiu abri-la antes de levá-la. Aberta a mala o carrinheiro deu com o corpo de uma mulher cortado em pedaços. Não se demorou a descobrir que se tratava da mãe do sujeito que deixara a mala na calçada. Mãe e filho moravam juntos. O filho, homem entre 30 e 40 anos de idade, nunca trabalhou. Matou a própria mãe, livrou-se do corpo dela deixando-o na calçada.

Semana passada encontrou-se o corpo de uma mulher dentro da geladeira, no apartamento em que morava. A mulher não tinha ainda 40 anos de idade e era executiva de uma empresa. No corpo dela marcas de violência, inclusive na área genital. A filha desconfiou do desaparecimento da mãe que não atendia ao telefone. Quando foi até onde a mãe morava deparou-se com o cheiro de matéria em decomposição. O requinte do assassino incluiu o ato de esvaziar a geladeira para poder encaixar o corpo.

Poderia passar o dia relatando casos de mortes violentas, estupros, assassínios de crianças, suicídios, execuções, torturas etc. Acontecem a toda hora. Muitos desses crimes são hediondos, revoltam e nos trazem sentimento de impotência.

Nunca tive medo de sair de casa, andar nas ruas, nem de ficar parado dentro do carro por conta do trânsito. Confesso que tenho me tornado um tipo temeroso. Confiro bem as portas de casa antes de me deitar e me preocupo com os meus filhos que circulam nas cidades.

Tanta violência!

Meandros da Justiça

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De que a Justiça em nosso país deixa a desejar todo mundo sabe. Crimes horrendos acontecem e um sistema de leis que permite aos criminosos responder em liberdade labora em favor da impunidade. É assim que funciona o princípio da presunção da inocência, segundo o qual ninguém será considerado culpado antes que todos os recursos da defesa sejam julgados. Em outros países o mesmo princípio só é valido quando existem dúvidas quanto à autoria do crime. A revista “Veja” da semana passada trouxe uma reportagem sobre o assunto, apontando vários casos de criminosos confessos que cumpriram pouco tempo de pena ou simplesmente se safaram enquanto aguardavam ou aguardam julgamento em liberdade.

Por outro lado, verdadeiro circo de horrores tem lugar no país. Crimes são praticados ultrapassando em muito seu objetivo primeiro que, em geral, é roubar. Na quase totalidade dos casos destaca-se a ferocidade dos criminosos e seu comportamento animalesco. Isso acontece todos os dias, para desespero da população. Em torno dessas ocorrências lamentáveis floresce o exercício midiático de informação via televisão que não passa de desrespeitosa cobertura de tragédias familiares. Geram-se, assim, cenas nas quais a privacidade familiar é invadida de modo ultrajante, expondo-se a dor alheia ao consumo público porque o que importa é a notícia, ainda que fundada na mais descabida forma de jornalismo de que se tem notícia. Dias atrás, por exemplo, um dos programas policiais mostrou longamente o desespero de uma família após receber a notícia da trágica morte de um de seus membros: a câmera filmando um grupo de pessoas sentadas em um banco, abraçando-se e chorando convulsivamente, protagonizou a espectadores da dor alheia uma das mais absurdas invasões de privacidade que o gênio desumano pode perpetrar. Isso para não falar do repórter que, tempos atrás, transmitiu, ao vivo, imagens de desespero de um homem instantes após a colisão de seu carro na qual sua mulher faleceu. Flagrado justamente no momento em que descia do carro e ainda sem compreender bem a dimensão da tragédia em que estava envolvido, foram as imagens desse homem divulgadas pela mídia enlouquecida atrás de pontos no IBOPE.

Não escrevo sobre ficção, mas a respeito de uma realidade que se impõe e é conhecida por toda gente.  O fato é que a criminalidade não tem fim, a ousadia dos bandidos não tem limites e estamos todos ameaçados. Semana passada, bandidos invadiram uma casa em São Paulo, ameaçaram estuprar uma criança de 4 anos de idade e amarram com fios telefônicos uma mulher em estado terminal de câncer. Noutro crime, criminosos entraram numa casa e torturaram, durante uma hora, uma mulher de 70 anos de idade. Fugiram quando o filho dela chegou a casa e chamou a polícia. O filho ainda encontrou a mãe consciente, mas, logo em seguida, ela desmaiou e morreu.

O mundo do crime exercita-se diariamente, cada vez com maior ousadia e desenfreadamente. Menores iniciam-se cedo nas práticas criminosas e beneficiam-se de um sistema no qual são conduzidos a instituições cuja finalidade é recuperá-los, ainda que tenham praticado vários crimes hediondos.

Dentro de tal contexto, soa diferente a prisão do cineasta Roman Polanski, ocorrida ontem na Suíça. O grande cineasta de “O Bebê de Rosemary” foi preso em cumprimento de uma ordem de detenção internacional promulgada, em 2005, por autoridades norte-americanas. Note-se que a ordem de detenção original data de 1978, devendo-se a um caso pendente nos Estados Unidos há 30 anos: em 1977, Polanski foi acusado de drogar e estuprar uma modelo de 13 anos de idade. Processado, o cineasta declarou-se culpado por “relações sexuais ilegais” e foi enviado à prisão em “avaliação” por três meses. Polanski ficou apenas 47 dias na prisão: libertado sob fiança o cineasta saiu dos Estados Unidos e nunca mais voltou ao país.

Polanki foi detido em Zurique aonde cegou para receber um prêmio do festival de cinema dessa cidade. A partir de agora se iniciam as démarches da sua extradição para os Estados Unidos

Sem entrar no mérito dos aspectos jurídicos pertinentes a cada caso, a notícia da prisão de Polanski após tantos anos soa, sim, muito difrente para quem assiste diariamente a tantas manifestações de impunidade.