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De confissões e arrependimentos

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A necessidade de confissão é um dos flagelos do homem. Confessa-se por purificação. Também se confessa por um incontrolável desejo de partilhar segredos por vezes inconfessáveis.

Confissões orais, sem gravadores por perto, ainda podem ser reconsideradas. Mas quando os pecados são narrados por escrito faz-se prova e aí resta torcer para que ninguém a encontre.

As pessoas que documentam suas confissões escrevem por dor ou prazer, compulsivamente. Há os que, diante de fracasso amoroso, decidem fazer um diário. Se as mazelas versarem sobre um(a) amante, o perigo é que cheguem à pessoa traída. Imagine o diário de um homem, que sofre pela amante, caindo nas mãos da mulher dele, a oficial. Tragédia, tragédia, tragédia.

A regra de ouro em casos assim é negar sempre, negar até a morte. Mas é impossível seguir a regra quando existe uma romântica confissão de próprio punho, fazendo parte de um diário. No mais, os homens costumam negar mais frequentemente  que as mulheres, talvez porque elas sejam mais decidas, determinadas.

As confissões por prazer também podem acarretar grandes problemas. É o que está acontecendo na França com um ministro do governo do presidente Sarkozy. Trata-se de Frederic Mitterrand, ministro da Cultura. Frederic é um homem de 62 anos de idade, sobrinho do ex-presidente François Mitterrand. Pois Frederic acaba de se envolver em um escândalo sexual por confissões incluídas num livro que escreveu: ele pagou meninos na Tailândia para manter relações sexuais com eles.

No livro intitulado “La mauvaise vie” Frederic confessa a sua liberdade e alegria em pagar a meninos por sexo nos bordéis de Bangcoc. Mais: o conhecimento das implicações do tráfico sexual não diminuía a atração dele por jovens garotos de programa.

Frederic Mitterrand anuncia que não pretende renunciar ao seu cargo no governo, embora acusado de estimular o turismo sexual.  Numa entrevista afirmou que seu livro não é totalmente autobiográfico, coisa em que ninguém parece acreditar.

Diante disso o que nos resta é especular sobre as razões que levam um cidadão que ocupa tão alto cargo a confessar com alegria as suas incursões num território que a quase totalidade das pessoas considera abominável. De fato, a prostituição infantil é repulsiva e tem merecido combate internacional para reprimi-la.

Frederic Mitterrand terá as razões de foro íntimo para narrar as suas aventuras com meninos e parece que nada houve de arrependimento em suas intenções. Ele fez como certos tipos que conhecemos que adoram dividir em detalhes as suas “faturas” com os amigos.

O que se seguirá a isso depende da velocidade com que as pessoas olvidam coisas que as constrangem. Se assim acontecer o presidente Sarkozy manterá no cargo o seu ministro e autobiografia que ele escreveu será confundida com ficção para que tudo se mantenha em perfeita ordem e o mundo continue a girar como se nada tivesse acontecido.