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Aventura em Minas

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Excursões de estudantes são festivas. Muitas delas envolvem formandos em comemoração ao encerramento de ciclos de estudos.

O mundo mudou muito nos últimos cinquenta anos. De modo que referências a acontecimentos de passado distante poderiam soar estranhas aos jovens de agora. Mas, talvez baste lembrar a eles que naqueles tempos não existiam celulares e internet, aliás ninguém ao menos sonhava com isso. De modo que, uma vez dentro do ônibus e na estrada, ficava-se incomunicável.

Termináramos a quarta série do ginásio e recebemos o presente de uma excursão a Minas Gerais. A viagem se realizaria num ônibus, se não me engano cedido pelo governo do estado. Assim, partimos, felizes, colegas, amigos inseparáveis. A Fernão Dias, rodovia federal que liga Belo Horizonte a São Paulo, não era duplicada. Daí a lentidão de uma viagem quase sempre interrompida pelo grande trânsito de pesados caminhões. Mas, eis que chegamos a Belo Horizonte num fim de tarde e fomos alojados num grande dormitório de uma escola.

Iniciava-se produtivo período de grande valor cultural para o qual não estávamos preparados. Meninos do interior, certamente impressionou-nos a capital mineira com seus prédios e traçado de ruas sempre retas. Lembro-me bem do palácio do governo e da praça defronte a ele. Perto dali uma sorveteria na qual compravam-se deliciosos gelados.

Entretanto, a maior conquista que teríamos aconteceria nas vistas a cidades próximas como Ouro Preto, Congonhas do Campo e Mariana. A Congonhas que conhecemos era, naquela época, despojada dos cuidados hoje adotados em relação às obras do Aleijadinho. No Santuário de Bom Jesus de Matosinhos as capelas eram abertas para visitação. Estive, por exemplo, ao lado das obras do grande artista do barroco. Aliás, essa primeira imersão do barroco teria, pelo menos para mim, profundo impacto: não seriam poucas as vezes em que, ao longo do tempo, eu me deixaria perder naquela região, mormente na sempre querida Ouro Preto.

De Congonhas também trago a curiosidade e ter visto em ação o famoso médium Zé Arigó. Circulávamos pelas ruas da cidade quando, por acaso, demos com pequena multidão, postada diante de uma janela pela qual podia-se ver o médium em plena atividade.

Visitei as igrejas de Ouro Preto, guardando para sempre o encanto da Igreja de São Francisco. No Museu da Inconfidência falaram-nos sobre a Inconfidência Mineira e seus participantes. Em Mariana ouvi recital no qual destacava-se a poesia de Alphonsus de Guimarães - o solitário de Mariana.

E poderia prosseguir falando de lugares nos quais eu e meus amigos nos divertimos tanto e nos instruímos. Mas, o tempo passou. Daquele grupo muita gente segue por aí, uns tantos outros já desertaram da vida. Permanecem as imagens, as faces jovens que retenho na memória, muitas delas que não mais revi.

Essas lembranças voltaram-me hoje ao presenciar a saída de uma excursão escolar. Lá iam aqueles jovens, cheios de alegria e energia. Seguiam num ônibus moderno, cada um com o celular que os torna aptos a comunicar-se com a gente de casa.

Então, voltou-me meu retorno à casa de meus pais, depois de dez dias em Minas. Lembro-me bem do meu quarto, das incontáveis horas de sono reparador após a longa viagem de volta pela Fernão Dias. Inesquecível a imagem de minha mãe, acordando-me e a perguntar sobre o que, afinal, eu vira lá em Minas.

Eu vira.