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A confissão da Xuxa

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Constrangedor o depoimento de Xuxa no ”Fantástico”. Afinal, a quem interessa a confissão de que ela foi abusada sexualmente da infância até os 13 anos de idade? E por pessoas diferentes? Que talvez por isso não consiga se casar?

Xuxa contou sobre o abuso por vontade própria ou porque a isso foi compelida pela turma do “Fantástico”? Não se sabe até onde vão os limites das celebridades. De um lado a pessoa célebre ignorando sua privacidade, talvez achando que, na sua condição, deva compartilhar tudo a seu respeito com seus admiradores. Trata-se de coisa do tipo “já não pertenço só a mim” daí ser preciso abrir com o público até mesmo meus traumas e neuras. De outro o público esfaimado, correndo atrás da novidade, do fato espúrio, da comprovação de que se algo de acontece até com uma celebridade que dizer com as pessoas comuns.

Não consigo imaginar como terá sido a manhã seguinte de Xuxa após abrir-se em cadeia nacional sobre assunto tão íntimo. Ela sentou-se num divã e confessou ao público suas mazelas. Emocionou-se, chorou. Talvez estivesse se exorcizando de algo que a atormentava durante toda a vida.

Lembrei-me do Paulo Francis que arranjou uma encrenca danada por criticar violentamente Tônia Carrero, grande atriz do teatro brasileiro.  O artigo de Francis, intitulado “Tônia sem peruca” saiu no “Diário do Rio de Janeiro” no dia 17 de outubro de 1958. A espinafração foi tanta que o ator e diretor italiano Adolfo Celi, então marido de Tônia, saiu no braço com Francis. Mas a encrenca foi grande e ocupou muito espaço na mídia da época.

Mas, o que tem a ver o artigo de Francis com a confissão de abuso sexual sofrido por Xuxa? Aconteceu, muitos anos depois, de perguntarem a Paulo Francis sobre os acontecimentos de 1958. O jornalista respondeu que, na ocasião, faltou a ele a ação e opinião de um bom editor. Se o editor do jornal tivesse segurado o artigo sobre Tônia e perguntado a ele, no dia seguinte, se queria mesmo publicar aquilo, ele, então de cabeça fria, não teria publicado.

Não vou aqui dizer que Xuxa foi vítima do “Fantástico”. Mas o programa deve ter lá seus editores e responsáveis. Será que eles, depois de gravadas as declarações de Xuxa perguntaram a ela, no dia seguinte e de cabeça mais fria, se queria mesmo dividir com a sociedade de consumo uma história terrível que só a ela pertence?

Em todo caso  há que se ressaltar a opinião de analistas que veem coragem no ato de Xuxa e afirmam que sua revelação auxilia a campanha contra os terríveis abusos contra crianças.