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Quando matar…

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Quando matar se torna comum, o inaceitável se banaliza. Leio que um borracheiro, tomado de ciúmes, matou a mulher e um amigo. O crime aconteceu na sala de estar da residência do borracheiro que fez uso de uma faca para matar os dois. No caso, a suspeita de traição bastou para que os assassinatos fossem perpetrados.

Também leio que um empresário saiu de sua casa e, numa travessa próxima à Av. Pacaembu, São Paulo, foi abordado por um ladrão que queria levar o relógio dele. Mesmo dentro do carro o empresário tentou reagir e recebeu um tiro no peito. A bala atravessou o tórax e saiu pelas costas.

Li isso e muito mais. Basta dar uma olhada nas seções policiais dos jornais para ficar inteirado de inúmeras barbaridades. Um policial mata a mulher que se separou dele, ela também policial; um homem faz reféns a sogra e a filha - é incrível o número de crimes cometidos em nome do amor; bandidos assaltam uma joalheria dentro de um shopping; bandidos roubam o caixa automático de um grande supermercado; e assim vai.

Mostramos indignação diante de alguns crimes, mas permanecemos distantes da maioria. Semana passada um pedreiro violentou a filha de 5 anos de idade; acusado pela própria mulher defendeu-se dizendo: mas, foi só uma vez…

A violência é um dos atributos dos seres humanos, traço da condição animal do ser; de rotina reprime-se a tendência à pratica de atos violentos, quaisquer que sejam as suas proporções; situações adversas que oferecem perigo podem despertar reações violentas mesmo no mais contido dos homens; entretanto, nada justifica ou explica a bestialidade.

Assiste-se hoje a escalada não só da violência propriamente dita, mas da bestialidade. Presencia-se a algo absurdo e sem sentido.  Não se trata apenas de desprezo aos valores e normas sociais: o crime segue a trilha da despersonalização, dos embates primitivos, das mortes desnecessárias porque a vida transformou-se em moeda de troca sem valor.

Os discursos sobre a necessidade de conter a violência são benvindos e devem ser acompanhados de ações efetivas. Entretanto, há que se considerarem variantes mais profundas que levam pessoas à prática de atos bestiais, hoje tão frequentes. Existe algo de profundamente errado nos fatos que diariamente presenciamos, desafio à lógica que normalmente é utilizada para a compreensão dos fenômenos sociais.

Bestialidade em Recife

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Alcides do Nascimento Luz foi o primeiro classificado no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco, em 2007. O fato não teria chamado atenção se Alcides não fosse filho de uma vendedora ambulante e oriundo de escolas públicas. Na ocasião, Alcides foi entrevistado pelo Fantástico, sendo apresentado como exemplo de superação.

No último sábado Alcides estava em frente à sua casa, na comunidade carente onde vivia com sua mãe. Dois homens se aproximaram dele e, confundindo-o com outra pessoa, deram dois tiros na sua cabeça.

Alcides tinha 22 anos e cursava Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco. A bestialidade dos homens que tiraram a sua vida, interrompendo uma carreira certamente brilhante, é revoltante. Lamentavelmente, estamos habituados à criminalidade que  tornou-se cotidiana. São tantos e horríveis os crimes que acontecem que somos obrigados a fazer vista grossa a eles para sobreviver com alguma paz.   Entretanto, o assassinato de Alcides é triste demais para que o ignoremos.

 De tudo isso sobra essa coisa horrível que amarga os sentidos: a náusea.