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Barbeiro italiano

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Há cabeleireiros que se ofendem ao serem identificamos como babeiros. Mas há anos quem cortava cabelos de homens eram barbeiros. Aliás, barbeiro também é pessoa que dirige mal veículos. Quem bate carro faz barbeiragem. Sem esquecer os barbeiros-cirurgiões que na Idade Média faziam cirurgias, principalmente em soldados feridos em campos de batalhas. Os barbeiros-cirugiões não eram considerados médicos. Só mais tarde surgiram os médicos cirurgiões.

O Guido era um italiano que imigrou para o Brasil. Veio sozinho, deixando país e irmãos no interior da Itália. Fez vida aqui cortando cabelos. Casou-se com uma brasileira e com ela teve filhos. Separou-se quando descobriu que ela o traíra com um amigo. Estavam os três num hotel quando o Guido teve que retornar a São Paulo, deixando a mulher e os filhos. Quando tornou ao hotel acabou sabendo pelas crianças ainda pequenas que o “tio” dormira no lugar dele, ao lado da mãe.

O Guido não gostava, mas não chegava a se incomodar quando se dizia que ele era barbeiro. Preferia o cabeleireiro. Casou-se pela segunda vez e vivia bem. Certo dia o encontrei no salão onde trabalhava. Estava eufórico. Ao me ver foi logo me participando sobre a razão da sua euforia: batera na mulher. Enfiara a mão na cara daquela desgraçada que tanto enchia o saco dele. Mulher ciumenta. Ouvi estarrecido. Acontece que o italiano era um cara de sangue quente, mas de boa paz. Bater na mulher? Não ele. Mas, estranhamento tinha feito isso.

Cerca de um mês depois soube que o Guido fora diagnosticado com tumor cerebral. Operado, sobreviveu pouco mais de um mês. Explicava-se a mudança de comportamento que o levara a agredir a mulher e tomar outras atitudes inesperadas.

Guido foi um “bon vivant”. Perdía-se com mulheres e gabava-se de suas conquistas.  A mulher com quem se casara tinha razão em seu ciúme. Não faz muito encontrei-me com ela na rua. Falou-me do falecido com alguma ternura. Mas, a roda da vida não para. Estava grávida. Agora vivia com um turco, um anjo de homem…

Lembrei-me do Guido. Embora mulherengo não admitia ser traído. Era do tipo que acredita que homens são feitos para terem várias mulheres. Agora, mulher casada só pode ter é amar um homem: o marido. O Guido era assim.

O caso de ser “ex”

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Nunca gostei dessa história de ser “ex” de alguém.  Conheci mulheres que se vangloriavam falando sobre os “ex” delas. Era meu “ex” para cá, meu “ex” pra lá e assim por diante. Ao que um amigo alertou que uma mulher só se separa mesmo quando, finalmente, dá um tempo e deixa o tal do “ex” pra lá.

Sempre fui fiel aos barbeiros - para quem não sabe trata-se das pessoas que hoje se apresentam como cabeleireiros masculinos. A minha fidelidade se baseia na má vontade de sentar-me diante de um novo barbeiro e ter que explicar o tipo de corte que imagino vá bem com a minha cabeça. Daí   que durante anos cortei os cachos com um barbeiro italiano do qual guardo ótimas recordações. Um amigo, promotor público, certa vez me disse que barbeiros são os melhores confidentes que temos. Contou-me o promotor que o barbeiro sabia de coisas que nem a própria mulher dele desconfiaria.

O barbeiro italiano era o cara. Mulherengo ao limite, despertava a curiosidade das mulheres e a cada dia se embrenhava em lençóis com alguma diferente. Mas, era casado, bem casado, muito responsável com os filhos, enfim bom pai. Mulherengo fora de casa, mas bom chefe de família. Entretanto, aconteceu de certo dia ele me contar, enquanto cortava o meu cabelo, que batera muito na mulher dele. Foi a partir daí que passou a referir-se a ela como “a minha ex”. Enquanto cortava o cabelo não parava de falar sobre a “ex” dele sem omitir os detalhes da surra que aplicara nela.

O barbeiro italiano morreu dois meses depois disso. A violência contra a mulher fora motivada por uma alteração brutal do humor dele gerada por um tumor cerebral de rápido crescimento. A operação no Hospital das Clínicas para a retirada do tumor não teve o resultado esperado e o italiano foi-se desta para a melhor. Quanto à mulher dele -  a que apanhou – foi ela sua amiga e companheira até o último minuto. Aliás ela me ligou no dia da morte do italiano avisando-me sobre o horário do enterro.

Mas, o “ex” de hoje por incrível que pareça é o papa. Bento 16 disse adeus ao trono da Igreja. Pronunciou um longo discurso de despedida alertando os fiéis sobre o fato de que é a Deus que devemos servir. Sai do Vaticano deixando atrás de si acusações de lutas intestinas pelo poder dentro da Igreja. Acusa-se ao Carmelengo de muita coisa – teria até grampeado o Vaticano - e não se sabe o que acontecerá a partir de agora quando se inicia o Conclave para a eleição do novo papa.

O fato é que vivi num mundo onde até um papa renunciou. Tempos mais que pós-modernos, avançados, até bem pouco totalmente insuspeitos.

Ex-papa e vivo, difícil acreditar.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 fevereiro, 2013 às 6:25 pm

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